Ao final de um encontro realizado, ontem (26), na Universidade Estadual de Maringá, foi definida uma agenda de trabalho que tem como principal atividade a preparação de um novo estudo de viabilidade para a implantação do trem de passageiros entre Paiçandu e Ibiporã, ligando as duas maiores cidades no norte e noroeste paranaense: Maringá e Londrina.

O estudo foi realizado em 2000, mas após 9 anos as informações contidas no documento estão defasadas, o que exige um novo levantamento que vai apontar, entre outros fatores, a demanda de passageiros, as obras necessárias, o tipo de vagão a ser utilizado e a velocidade do trem que vai operar o trecho de 152 quilômetros.

Antes da elaboração doe estudo, os prefeitos dos 13 municípios situados no eixo a ser explorado receberão, do Ministério dos Transportes, o termo de referência que traz, de maneira genérica, uma proposta do governo federal para o projeto.

Analisando este documento, os prefeitos poderão sugerir também propostas a serem encampadas no estudo de viabilidade. O estudo será imprescindível para a definição do projeto para a implementação do trem na região.

Para o presidente da Ferroeste (empresa ferroviária do Estado do Paraná), Samuel Gomes, que vai conduzir o processo a partir de agora, o estudo deve ser concluído em cerca de seis meses após ser iniciado. Segundo ele, os prefeitos terão um prazo de aproximadamente 10 dias para conhecer e analisar o termo de referência, para em seguida ser definido como e quem participará do estudo de viabilidade.

O certo é que as universidades estaduais de Maringá e de Londrina deverão colaborar no processo, por meio de seus pesquisadores atuantes na área de ocupação humana e de impactos ambientais.

Ao abrir os trabalhos na reunião, o vice-reitor Mário de Azevedo, disse que o encontro era histórico, porque o projeto para a reativação do trem de passageiros entre Maringá e Londrina vai fazer a diferença para a região.

“Só nós sabemos o quanto é importante o transporte ferroviário”, afirmou Azevedo, ressaltando que um texto publicado nesta semana, pelo jornal Valor Econômico, demonstrou o quanto o transporte ferroviário é mais barato e apresenta diversos benefícios em relação a outros meios de transporte.

O presidente da Ferroeste explicou que o estudo de viabilidade feito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, há 9 anos, a pedido do governo federal, em todo o País, perdeu a atualidade. Passados 9 anos, muita coisa mudou, como o aumento da população e o processo de conurbação das várias cidades pesquisadas.

Na opinião de Gomes, as condições atuais para a volta do trem são muito mais favoráveis que em 2000, tanto do ponto de vista institucional quanto político. Além disso, lembrou ele, há uma indústria brasileira, localizada em Barbália, interior cearense, fabricando vagões de passageiros.

O prefeito Silvio Barros entende que a reativação do trem oferece “uma oportunidade que pode mudar drasticamente para melhor a nossa região”. Para ele, a volta do trem vai consolidar o trecho “como um dos mais competitivos do Brasil e do mundo”.

Ele acredita a reativação ajudaria a consolidar empreendimentos econômicos situados no eixo Maringá-Londrina, uma vez que os empresários poderiam contar com a mão-de-obra existente nas cidades situadas no trecho.

Segundo Barros, a volta do trem ainda permitirá que as pessoas possam fazer faculdade em qualquer uma das cidades do trecho, devido à facilidade e à rapidez do deslocamento, e até ajudar a impulsionar os aeroportos. Outro ponto favorável, na opinião dele, é que a retomada do projeto poderia ser o início de um processo para a implantação do trem de superfície entre Maringá e Londrina.

O prefeito de Londrina, Barbosa Neto, disse que a reativação do trem representa “uma idéia estratégica e inteligente”. Conforme ele,

O entusiasmo é grande e tem o apoio do Ministro do Planejamento, Paulo Bernardes.

A coordenadora da região metropolitana de Londrina, Elza Correa, alertou que apenas sonhar não basta, é preciso ter compromisso com a causa. Na condição de professora de história, Elza disse que reconhece a importância das ferrovias no desenvolvimento do Brasil.

Para ela, o trem de passageiros impulsionará a região, inclusive do ponto de vista ambiental, já que este tipo de transporte é menos poluente e agride menos a natureza. Elza afirmou ser preciso pensar que se trata de um projeto de Estado e não de governo e, por isso, não pode ser abandonado pelos próximos governos.

O coordenador da região metropolitana de Maringá, José Augusto Felipe, informou que, a pedido do governo estadual, vem trabalhando também na consolidação do eixo Maringá-Guaíra como importante pólo econômico da região noroeste. Ele defendeu que cidades como Cianorte sejam integradas no projeto envolvendo o trem de passageiros.

Representando o Ministério dos Transportes, o diretor do Departamento de Relações Institucionais, da Secretaria de Política Nacional de Transportes, Afonso Carneiro Filho, explicou que a idéia de resgatar o transporte ferroviário de passageiros é pôr novamente as ferrovias a serviço dos usuários.

De acordo com ele, dos 28 mil quilômetros de linhas ferroviárias concedidas pelo governo federal, em dois terços circulam somente um trem por dia. Afonso disse que o trecho entre Maringá e Londrina foi o segundo selecionado no levantamento realizado pela UFRJ, em 2000, pela viabilidade oferecida. O primeiro dos 14 eixos selecionados foi o de São Cristóvão – Aracaju – Laranjeiras, no Sergipe; e o terceiro, o trecho entre Bento Gonçalves e Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. 

O encontro na UEM, realizado no anfiteatro do Centro de Ciências Exatas (CCE), Bloco F-67, reuniu também, entre outras autoridades, os prefeitos de Arapongas, Beto Pugliese; Mandaguari, Cylênio Pessoa Júnior; de Ibiporã, José Maria Ferreira; de Marialva, Edgar Silvestre; de Paiçandu, Vladimir da Silva; de Rolândia, João Ernesto Johnny Lehmann; de Apucarana, João Carlos de Oliveira; e o de Cambira, Maria Neusa Bellini; além de representantes das prefeituras de Cambé, Jandaia do Sul e Cambé; vereadores; a coordenadora local do Observatório das Metrópoles, professora Ana Lúcia Rodrigues/UEM; e o assessor do Banco do Brasil na região noroeste, Sigmar Mayer Filho.