Rafael Dias da Silva Campos, que cursou graduação e mestrado em História na Universidade Estadual de Maringá, foi o primeiro da UEM a ser selecionado para Doutorado Pleno no Exterior. Em outubro, parte para a Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, para iniciar os estudos no Programa de Doutorado em História, prosseguindo na linha de História das Ciências. Campos explica que, da graduação até a aprovação no doutorado, financiado pela Capes, foi um caminho de muito planejamento e dedicação. Relata que a possibilidade de estudar uma História que privilegiasse diálogos com as ciências naturais e da saúde foi apresentada pelo professor Christian Fausto quando estava no terceiro ano de graduação.

Fausto, que foi orientador de Campos no mestrado, também cursou parte de seu doutorado nessa Universidade. O professor comenta as dificuldades iniciais dos alunos pesquisadores que, hoje, formam o LHC (Laboratório de História das Ciências). Na época, o grupo se reunia nas cantinas da UEM e nas mesas de leitura da Biblioteca Central para discutir textos e fontes documentais. Hoje, possui uma sala no bloco 4, com a estrutura que possibilita uma rotina diária de trabalho, permitindo não somente analisar questões pertinentes à História das Ciências no Brasil, mas também estabelecer metas de produção e ascensão acadêmica .

Para Rafael Campos, ter como meta, desde o início, a realização de um doutorado em História na Europa foi primordial. "Não é um processo seletivo fácil. O projeto de pesquisa e o meu currículo lattes foram avaliados por duas bancas de pesquisadores totalmente independentes. Uma na Europa e outra aqui no Brasil. Deste modo, quando decidi fazer o mestrado no Programa de Pós-Graduação em História da UEM, sob orientação do professor Christian, ele me propôs que trabalhássemos tendo como principal objetivo construir um lattes à altura do processo seletivo exigido pela Capes para financiar um doutorado pleno no exterior."

Para o professor, a perspectiva de um trabalho em equipe, bem como a adoção de uma rotina de trabalho e convivência diários dentro da universidade, foi fundamental para que Rafael conquistasse esta bolsa da Capes. "Para conseguirmos 'despachar' Rafael para Portugal propus a ele uma lista de metas. Além da elaboração de uma dissertação pensada para ser publicada no formato de livro, Rafael, por mais de uma vez, estabeleceu parcerias com seus colegas de laboratório. O resultado não poderia ter sido melhor. Rafael embarca para a Europa com a dissertação pronta para ser publicada no formato de livro, além de sete artigos encaminhados para revistas com Qualis entre A1 e B2, sendo que, quatro já foram aceitos para publicação, além de dois capítulos de livros publicados."

Fausto comenta que a adoção de uma logística de produção ainda nova na área de História, mas já bem disseminada em outras áreas do saber, foi muito importante para a aprovação de Rafael. "Ensinamos aos alunos que boa parte da dinâmica historiográfica é mediada pelas relações culturais. Entretanto, nos esquecemos que mesmo dentro da academia também estamos sujeitos a estas mesmas relações. Creio que o maior exemplo disso encontra-se justamente na resistência cultural que temos na academia quando o assunto é trabalho em equipe. A coautoria permite não somente o compartilhamento de fontes documentais e a multiplicação de perspectivas interpretativas, mas também uma troca de experiências profundamente enriquecedora entre os pesquisadores (sejam eles alunos ou professores). Se não tivéssemos adotado tal metodologia de trabalho, dificilmente Rafael teria alcançado a produção suficiente para ser aprovado em tal processo seletivo. Aliás, me orgulho em dizer que Rafael, em termos de lattes, está entre os três melhores candidatos aprovados no processo seletivo da Capes. Processo este que contemplou somente dez pesquisadores na área de História em todo o Brasil".

A proposta de uma abordagem baseada na História das Ciências também corroborou para que o projeto de doutorado fosse bem avaliado pelas bancas europeia e brasileira: "Sabemos que as ciências naturais e da saúde são objeto de interesse geral. Ligamos a TV em algum canal de documentários e lá está o narrador falando da dinâmica de alguma espécie em perigo de extinção ou de como as doenças epidêmicas foram fundamentais no processo de conquista do Novo Mundo. Tanto quanto documentaristas, biólogos ou epidemiologistas, o historiador também pode se debruçar sobre estes interessantes e importantes fenômenos. Jornalistas, filósofos e até carnavalescos hoje estão se detendo na questão ambiental. Ora, o historiador também tem muito a contribuir com tais discussões. E as publicações que o LHC vem submetendo à comunidade acadêmica, bem como a aprovação de Rafael são prova disso", discorre o professor.

"Será uma experiência incrível", afirma Campos, compartilhando a conquista com colegas, professores e técnicos do DHI, LHC e do PPH, entre outros. “Não posso deixar de ressaltar também que a metodologia de trabalho desenvolvida no LHC permitiu que eu construísse um currículo permeado de parcerias na área de História das Ciências", finaliza o novo doutorando.