Os cadastros da Secretaria de Saúde de Maringá indicam que mais de 40 mil moradores do município sofrem com problemas de hipertensão arterial. Apenas esse dado já seria motivo de preocupação para os gestores da área, contudo há um agravante que merece ainda mais atenção: 42% dos pacientes hipertensos não seguem à risca o tratamento prescrito pelo médico. O índice foi levantado por Mayckel da Silva Barreto e faz parte da sua pesquisa de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Barreto fez um levantamento quantitativo abrangendo 420 entrevistados, entre homens e mulheres, cadastrados em todas as Unidades Básicas de Saúde do município como hipertensos. O objetivo foi identificar os fatores associados a não adesão à farmacoterapia hipertensiva. O baixo conhecimento sobre a doença e seus riscos mostrou ser um dos fatores importantes, levando os pacientes a não darem a devida importância ao uso correto da medicação. A complexidade da farmacoterapia também é apontada por 20,6% dos entrevistados como motivo para não seguir a prescrição médica. “A necessidade de fracionar o comprimido ou tomá-lo mais de uma vez ao dia, por exemplo, é um dos motivos que leva alguns hipertensos a deixarem de tomar a medicação corretamente”, explicou Barreto.

O estudo também revelou que o problema pode estar associado à insatisfação com o serviço de saúde prestado na Unidade Básica. Na verdade, uma parcela importante dos entrevistados (25%) fez referência a este aspecto.

Trabalho premiado - Esse recorte da pesquisa foi apresentado em forma de comunicação oral em um congresso realizado entre os dias 23 e 25 de outubro, na Universidade Cooperativa da Colômbia, conquistando o prêmio Ethel Bedford Fenwick de melhor trabalho de investigação científica na modalidade oral. Ele concorreu com pesquisadores da Espanha, México, Colômbia, Venezuela, Argentina, Cuba, entre outros países de língua espanhola.

Surpresos com a premiação, Barreto e a orientadora do trabalho, professora Sonia Silva Marcon, acreditam que o rigor científico na metodologia da pesquisa contribuiu de forma efetiva para o resultado. “Nem todos os trabalhos na área são tão criteriosos, metodologicamente falando, quanto a presente pesquisa, que apresenta uma mostra realmente representativa da população atendida nas Unidades Básicas de Saúde com problemas de hipertensão”, opina a orientadora, que planeja programar oficinas com os gestores de saúde do município para apresentar os resultados da pesquisa.

Para Barreto a medida é importante e pode ajudar o profissional de saúde a atuar de forma mais preventiva, mostrando aos pacientes os riscos relacionados com o uso incorreto da medicação ou mesmo interrupção do tratamento. O próprio levantamento aponta nessa direção pois “entre os pacientes que não aderiram à medicação, 12% informaram que foram internados nos doze meses que antecederam a coleta de dados, em decorrência de descontrole ou complicação da doença”. Destaca-se que a pesquisa foi realizada entre dezembro de 2011 a março de 2012 com uma amostra representativa de pacientes cadastrados como hipertensos nas 25 Unidades Básicas de Saúde existentes no município à época de coleta dos dados.