museu luto

Eles lamentam principalmente o desaparecimento, para sempre, do acervo montado com a ajuda da pesquisa na universidade

Para os pesquisadores ligados à pesquisa e à gestão dos museus da Universidade Estadual de Maringá (UEM), a destruição pelo fogo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, acarreta um regressão imensurável no avanço científico sobre o conhecimento da história.

Primeiro coordenador do Museu da Bacia do Paraná (MBP), o professor  Sérgio Luiz Thomaz avalia o ocorrido como "uma tragédia", pois o Museu Nacional era uma referência para o Brasil e para o mundo.

Ele menciona, por exemplo, a paleontologia, sua área de pesquisa. Segundo Thomaz, muitas peças sobre formas de vidas existentes em períodos geológicos passados estavam guardadas na instituição, subordinada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"Não existe palavra", disse ele, ainda atônito pela catástrofe de ontem à noite. Thomaz pertenceu ao Departamento de Geografia, assumiu, em 1979, a coordenação do MBP, na gestão do ex-reitor Neumar Godoy, de onde se desligou em 2012.

Criador do Museu de Geologia da UEM, ele lamenta também a destruição ao se recordar que, nos últimos anos, tinha havido um avanço muito expressivo das investigações sobre dinossauros, conduzidas principalmente por um grupo de pesquisadores do próprio Museu Nacional.

A atual coordenadora do Museu da Bacia do Paraná, professora Sandra Pelegrini, declara ser "lamentável a destruição que presenciamos no Museu Nacional. A perda do acervo é realmente imensurável". No entanto, ela diz que a falta de apoio às instituições museais é algo recorrente no Brasil.

"Trata-se de um momento de reflexão, mas muito mais de ação. Mobilizações posteriores às tragédias são comuns. Cabe-nos chamar a atenção das autoridades políticas para a necessidade de ações preventivas frente a realidade dos museus na atualidade. Cabe-nos evitar que 'tragédias anunciadas' se efetivem ao nosso redor.  Esse é o caso do Museu Da Bacia do Paraná, que sobrevive sem verbas e sem apoio das políticas públicas municipais, apesar de ser tombado pela Prefeitura Municipal de Maringá", assinala Sandra, docente do Departamento de História (DHI).

Na opinião da coordenadora do Museu Dinâmico Interdisciplinar (Mudi), professora Ana Paula Vidotti, o fim do prédio e do acervo do Museu Nacional representa uma perda imensurável de caráter histórico, cultural e científico. Ela entende que a instituição era um legado do patrimônio nacional.

"Que tristeza", desabafa a coordenadora, ressaltando que a tragédia se deu pela falta de uma brigada de incêndio e pela ausência de manutenção. Ela mesma atestou esta situação quando visitou o Museu, em abril deste ano, e viu a fragilidade da estrutura, as infiltrações e vários espaços fechados. 

Professora do Departamento de Ciências Morfológicas (DCM), Ana Paula resume em poucas palavras o que aconteceu na capital fluminense: "Perdemos duzentos anos em duas horas".

Já, a coordenadora do Museu de Geologia, professora Susana Volkmer, descreve o incêndio como "indiscutivelmente uma lástima para a ciência e para a cultura, que perderam o acesso a mais de duzentos anos de registro da história mundial".

Na opinião dela, estudantes, professores e cientistas em geral perdem parte do nosso importante acervo da cultura brasileira. "Nós, coordenadores de museus, museólogos e educadores em museologia, estamos em luto", conclui.

No momento em que falava com a Assessoria de Comunicação da UEM, Susana comunicou que havia acabado de receber a informação de que não foram atingidos os prédios de vertebrados, de botânica, da biblioteca principal do pavilhão de solos e do laboratório de arqueologia do Museu Nacional.

Susana pertence ao Departamento de Geografia (DGE). Também é coordenadora científica do grupo de pesquisa do Grupo de Estudos Multidisciplinares do Meio Ambiente (Gema).

A bióloga Carla Pavanelli, curadora da coleção de peixes do Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (Nupélia), disse não ter dormido esta noite "de tão arrasada" que ficou.

Carla se lembra que múmias egípcias, de milhares de anos, faziam parte do acervo do Museu Nacional, só para ficar num exemplo. Para citar a área em que atua, a ictiológica, a bióloga menciona o fato de que os trabalhos em nível de produção científica, como dissertações e teses, além do registro de novas espécies científicas de peixes, foram todos perdidos.

Instalado em um palacete imperial, que completou 200 anos em junho, o Museu Nacional foi fundado por dom João 6º em 1818. A instituição, que reunia um acervo com mais de 20 milhões de itens, tinha perfil acadêmico e científico, com coleções focadas em paleontologia, antropologia e etnologia biológica. 

Segundo o site UOL, guardava o meteorito do Bendegó, o maior já encontrado no país, e uma coleção de múmias egípcias. Também o crânio de Luzia, a mulher mais antiga das Américas. Além de coleções de vasos gregos e etruscos (povo que viveu na Etrúria, na península Itálica). 

O Museu Nacional era considerado um dos cinco maiores museus de antropologia do mundo. Nem o próprio Egito tinha algumas das peças egípcias do acervo destruído ontem, segundo relatou a Rádio BandNews hoje pela manhã.

 

Serviço

 MBP

Coordenadora: Sandra Pelegrini

Telefone (44) 3011-4554

 

Mudi

Telefone: (44) 3011-4930

Coordenadora: Ana Paula Vidotti

 

Museu de Geologia

Coordenadora: Susana Volkmer

Telefone (44) 3011-4290