Giuliana Mestrado em Biologia 2

Anfíbio pesquisado por Giuliana Lemos, em nível de mestrado, é uma das 100 espécies mais invasivas do mundo; veja fotos do evento

Estudo inédito sobre a rã-touro, apresentado, ontem (20), como trabalho de mestrado na Universidade Estadual de Maringá (UEM), aponta que os pesquisadores acabam focando mais esforços sobre os impactos que ela traz ao meio ambiente do que entender sobre como esta espécie de anfíbio consegue ter tanto sucesso invasivo.

A dissertação defendida pela bióloga Giuliana Franklin Lemos, para o Programa de Pós-Graduação em Ambientes Aquáticos Continentais (PEA), traz contribuições importantes para entender o comportamento deste animal como espécie invasora.

Diante desta percepção a respeito da preocupação dos pesquisadores, Giuliana constata que faltam muitos trabalhos a serem feitos no sentido de entender quais mecanismos que a rã-touro utiliza para conseguir se estabelecer, com base nas hipóteses clássicas da biologia de invasões que são bem aplicadas para outras espécies.

Mais trabalhos voltados para o tema iriam contribuir, segundo a bióloga, para evitar que essa espécie continue aumentando sua distribuição e acarretando uma série de impactos nos ecossistemas.

Espécie invasora, a rã-touro americana, conhecida por Lithobates catesbeianus (ou Rana catesbeiana), espalhada por quase todo o mundo, inclusive no Brasil, devido a características que atribuem a ela vantagem competitiva e predatória, pode ter sua capacidade de sobrevivência reduzida à medida que o homem compreenda como os ecossistemas alterados podem contribuir na persistência e propagação de uma espécie como a deste anfíbio.

Neste sentido, o estudo feito por Giuliana aponta que esta compreensão sobre os ecossistemas perturbados ainda pode melhorar as condições das espécies nativas, uma vez que a rã-touro é favorecida por esse tipo de ambiente e, quando estabilizada, consequentemente acarreta uma série de impactos sobre as espécies fragilizadas.

sapo

Com o nome científico Lithobates catesbeianus, a rã-touro, nativa do leste da América do Norte (exceto Flórida), Canadá (Nova Escócia, sul do Quebec e sul de Ontario) e México (Hidalgo e Veracruz) é altamente resistente às mudanças climáticas, segundo o estudo, além de ser mais resistente à fragmentação urbana do que a maioria das espécies de anuros (ordem de animais pertencentes à classe Amphibia, que inclui sapos, rãs e pererecas) e que podem viver não apenas nas lagoas urbanizadas mas em habitats inadequados para outros anfíbios, como brejos artificiais e curvas de nível.

Doença

Orientada pelo professor Sidinei Magela Thomaz, Giuliana menciona estudos segundo os quais a rã touro, portadora do fungo patogênico Batrachochytrium dendrobatidis, causa uma doença chamada quitridiomicose em anfíbios. Este fungo é um dos responsáveis pela extinção global dos anfíbios.

Por isso, entender como os distúrbios causados pelos seres humanos viabilizam o estabelecimento das espécies não-nativas é de suma importância. 

Graduada em Ciências Biológicas também pela UEM, Giuliana recorreu à revisão bibliográfica para elaborar a pesquisa. Leu e analisou centenas de artigos publicados no Brasil e em outros vários países.

Segundo o estudo, os ecossistemas de água doce são mais suscetíveis a invasões e algumas espécies podem encontrar condições desfavoráveis para expandir suas populações, enquanto outras se estabelecem e podem eliminar espécies nativas por meio da predação e competição.

Erradicar a maioria das espécies invasoras, como a rã-touro, é praticamente impossível e o manejo pode ser extremamente custoso, demonstra a pesquisa.

O anfíbio pesquisado leva este nome inspirado no som característico que emite ao coaxar, profundo e barulhento, fazendo lembrar o rugido de um touro.

A rã-touro americana, tida como espécie invasora com alto nível de eficácia, de difícil erradicação dos lugares que ocupa, acaba afetando negativamente outras espécies. 

Entre as 100

Giuliana Mestrado em Biologia 6

Por este motivo, ela está na lista das 100 espécies mais invasivas do mundo, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Não há predadores que possam controlar sua reprodução excessiva.

Tem capacidade de se adaptar em diferentes condições ambientais. Seu habitat natural são áreas úmidas e tranquilas, como lagos e pântanos. Possui hábitos generalistas (ampla dieta), maturação sexual precoce, alta fecundidade e grande tamanho corpóreo. 

Mede cerca de 9 a 15 centímetros e, nos casos mais extremos, atinge o peso de um quilo e meio (1,5 kg). Apresenta coloração irregular, uma vez que pode variar de café para diferentes tons de verde. Muitas vezes, eles têm manchas coloridas mais escuras espalhadas no peito.

A rã-touro possui a capacidade de hibernar e, conforme mencionado acima, é um grande transmissor de parasitas e doenças, que podem afetar os anfíbios nativos. Por sinal, esta é outra característica que faz com que este anfíbio seja uma espécie perigosa quando invade um ecossistema que não é dela.

Ela foi introduzida em muitos países ao redor do mundo principalmente para empreendimentos de aquicultura. No caso particular da América do Sul, há relatos sobre a presença de populações selvagens da espécie no Brasil, Venezuela, Equador, Colômbia, Peru, Uruguai e Argentina. 

A rã-touro americana se alimenta de um grande número de espécies de vertebrados e invertebrados. Entre suas presas estão ratos, todos os tipos de peixes, cobras, girinos, pássaros, morcegos, lagostas, caracóis, besouros e até mesmo outras rãs-touro-americanas. 

A expectativa de vida gira em torno de 8 a 10 anos. No entanto, uma rã-touro vive quase 16 anos em cativeiro.

Os interessados em saber mais detalhes sobre a pesquisa de Giuliana Lemos poderão acessar, em breve, o site do PEA ou procurar o trabalho, impresso, na biblioteca setorial do Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura (Nupélia).

Serviço

Curso: mestrado em Ecologia e Limnologia

Título: "Lithobates catesbeianus (Shaw 1802) e a Biologia das Invasões: uma revisão sistemática"

Aluna: Giuliana Lemos

Orientador: professor doutor Sidinei Magela Thomaz