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Vespersaurus paranaensis, o 1º “dino” do Paraná, era carnívoro e vivia há 85 milhões de anos (Arte: Rodolfo Nogueira)

Há exato um ano, o Vespersaurus paranaensis foi notícia no Brasil e no mundo. Era 26 de junho de 2019 quando esse primeiro dinossauro do Paraná era apresentado e entrava definitivamente para a História. Sua descoberta teve colaboração de pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM), que, de lá para cá, continuam com estudos paleontológicos importantes.

Edison Fortes, professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PGE) e coordenador-geral do Grupo de Estudos Multidisciplinares do Ambiente (Gema) da UEM, destaca que a descoberta foi fundamental para “a expansão do conhecimento sobre a evolução da vida e as transformações que a Terra sofreu no passado e ainda poderá sofrer”. Além do mais, permitiu divulgar à sociedade a relevância das pesquisas feitas pela universidade.

O Vespersaurus também quebrou um grande paradigma, pois acreditava-se que não haveria fósseis de dinossauros na região onde foi descoberto, o Sítio Paleontológico de Cruzeiro do Oeste (PR). Para o coordenador do Gema, “dessa forma, esse estudo vislumbra os ambientes e suas comunidades biológicas num período muito anterior à existência do ser humano”.

Como as pesquisas continuam, Fortes espera que haja financiamento para poder dar continuidade a elas de forma mais apropriada. Afinal, mesmo com uma descoberta dessa magnitude, o Gema vem trabalhando somente com recursos próprios limitados e dos pesquisadores. 

O projeto faz parte do termo de cooperação técnica com o município de Cruzeiro desde 2015, com colaboração do PGE, do Museu de Geologia e Paleontologia do Departamento de Geografia da UEM e da Universidade de São Paulo (USP), do câmpus de Ribeirão Preto (SP).

 

As pesquisas atuais

A cooperação técnica, coordenada pela professora Susana Volkmer, do Gema/UEM, “prevê consultoria para atividades ligadas ao Museu de Paleontologia de Cruzeiro do Oeste, elaboração de projetos e desenvolvimento de pesquisas ligadas a estudos geológicos, geomorfológicos e paleontológicos, bem como aqueles ligados ao planejamento ambiental e ao geoturismo”. A perspectiva é de que ainda em 2020 esteja concluído o plano de geoconservação do sítio paleontológico, que “visa estabelecer metas e estratégias para proteção e exploração racional da área”.

Em âmbito de pós-graduação, em 2019 houve a conclusão da primeira dissertação sobre o sítio paleontológico, escrita por Rosana Natieli de Lima, agora mestre em Geografia pela UEM e orientada por Fortes. O professor está orientando mais quatro mestrandos e dois doutorandos, que “mapeiam outros sítios paleontológicos da região, além de estudos ambientais voltados a detalhar as características no Cretáceo, há 80 milhões de anos”, um dos períodos da Era Mesozoica. Devido à pandemia de covid-19, os trabalhos de campo e em laboratório estão paralisados.

 

Relembre quem é o Vespersaurus

O dinossauro Vespersaurus paranaensis era um predador de pequenos animais, possivelmente até de pterossauros, tipos de répteis voadores que eram abundantes na área. Ele pertence à linhagem dos terópodes, assim como os “populares” tiranossauro e velociraptor. Era carnívoro, bípede e vivia há aproximadamente 85 milhões de anos.

Tinha 1,6 metro de comprimento, 80 centímetros de altura, peso de 15 quilos e braços com menos da metade do tamanho das pernas. As vértebras do Vespersaurus eram cheias de cavidade e os dentes tinham serrilhas, assemelhando-se a facas. As patas traseiras eram no formato de lâmina, o que facilitava capturar presas – dois dedos laterais curtos serviam como “arma”, enquanto que o terceiro dedo, do meio e mais longo, apoiava-o no solo.

 

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Pata do dinossauro tinha 3 dedos: o do meio servia de apoio, enquanto que os laterais formavam uma “lâmina” para capturar presas (Arte: Rodolfo Nogueira)

 

Foi descoberto por pesquisadores da UEM, USP e com cooperação do Museu de Paleontologia de Cruzeiro do Oeste. Em 26 de junho de 2019, o dinossauro foi apresentado à comunidade científica por meio de artigo internacional publicado no periódico Scientific Reports, da Nature, com coautoria do Museo Argentino de Ciencias Naturales. Na data, os cientistas confirmaram que pegadas encontradas já na década de 1970, na mesma formação geológica, mas em municípios próximos ao sítio paleontológico, eram mesmo do Vespersaurus.

 

 

“A família do Vésper”

O Vespersaurus não foi a única descoberta desta década. Outros fósseis de elementos da fauna local foram encontrados por pesquisadores no mesmo sítio paleontológico: em 2014, o pterossauro Caiuajara dobruskii (do grupo Tapejaridae); em 2015, o lagarto Gueragama sulamericana; e em 2019, o pterossauro Keresdrakon vilsoni.

De acordo com Fortes, a coexistência de pterossauros e dinossauros é considerada um “fenômeno raro, que coloca em evidência as características do ecossistema no Cretáceo”, período do tempo geológico situado entre 65 milhões e 145 milhões de anos atrás. “O Sítio Paleontológico de Cruzeiro do Oeste e toda a região noroeste do Paraná se enquadram no Cretáceo Superior (há aproximadamente 85 milhões de anos). No final dele houve a extinção dos dinossauros e de muitas espécies de plantas, possivelmente associada à colisão de um asteroide com nosso planeta, na região do México. Esse evento causou mudanças profundas em todos os ecossistemas”, explica o docente.

À época, o ambiente onde o Vespersaurus vivia era desértico, porém com umidade mais elevada nas áreas mais periféricas, conforme relata o pesquisador. “Nesses locais deveriam existir lagoas e rios que sustentariam uma fauna que ainda está sendo descoberta. Podemos reconhecer esses ambientes não só pelos fósseis, mas pelas rochas e nas assinaturas deixadas nesses materiais, que permitem reconhecer se essas rochas se formaram em condições desérticas ou úmidas, se eram dunas de areia, lagoas, rios, entre outros”.

 

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Pesquisadores apresentaram fóssil do Vespersaurus paranaensis em Maringá