saude mental na pandemia

Assim como outros animais, sofremos emocionalmente em condições de restrição e confinamento

É fato que a pandemia da Covid-19 trouxe muitas consequências em diversos níveis para a nossa vida. Seja no âmbito social, seja no pessoal, os impactos que esse período gerou alteram o ritmo do cotidiano das pessoas. Nesse cenário, uma das grandes preocupações que envolvem tais mudanças é a saúde mental da população, que, por conta do isolamento e das angústias ocasionadas pelo cenário atual, está bastante abalada. Os casos de estresse, de ansiedade e depressão aumentaram, assim como a procura por serviços de atendimento psicológico.

 No reino animal, estar imobilizado ou isolado socialmente surte efeitos negativos no comportamento dos indivíduos, uma vez que afeta o funcionamento das células cerebrais. Ou seja, é um fator de risco para a saúde mental. Então, como forma de tentar entender os mecanismos biológicos que propiciam essa condição psicossocial e dos recursos que amenizam seus malefícios, foi idealizada a live “Estresse de restrição: o que podemos aprender com os animais?”.

 A palestra foi ministrada pela Profª. Drª. Silvana Regina de Melo, docente do Departamento de Ciências Morfológicas, da Universidade Estadual de Maringá (DCM/UEM), e integrou as atividades da X Semana Nacional do Cérebro, bem como da programação da “Oficina de Formação: Ética, qualidade de vida e felicidade no ambiente de trabalho em tempos de pandemia”, promovida pelo Museu Dinâmico Interdisciplinar (Mudi), da UEM.

 Segundo a professora, o estresse consiste em um conjunto de respostas fisiológicas e comportamentais que ocorrem devido à ação de estímulos estressores. A situação é desencadeada no momento em que o cérebro reconhece um estado de ameaça e nervosismo para o indivíduo por meio da ação dos neurônios. Desse modo, a quantidade de adrenalina e de cortisol (popularmente conhecido como hormônio do estresse) na corrente circulatória se elevam, provocando diversas reações no corpo como o aumento da energia e dos batimentos cardíacos. Em altas doses, o excesso desses hormônios no organismo acarreta sérios problemas à saúde.

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Imagem do artigo científico que mostra a interação entre estresse e neurônios de ratos conforme o envelhecimento deles

 

Pesquisas - A restrição animal é um modelo muito utilizado nas pesquisas científicas que buscam compreender o que o estresse de restrição faz com os mecanismos biológicos de um animal que é confinado e imobilizado em um pequeno espaço. Os resultados de uma investigação nessa área estão registrados no artigo “Brain On Stress: Vulnerability and Plasticity of the Prefrontal Cortex Over the Life Course”, de Bruce McEwen e John Morrison. O texto apresenta dados sobre os efeitos negativos da restrição, que se agravam com o envelhecimento dos animais estudados.

 A professora Silvana fez uma comparação desses dados com o estresse de restrição humana, lembrando que vivemos neste momento uma situação de restrição, de isolamento, decorrente da pandemia da Covid-19. “Os indivíduos estão confinados em suas casas, sozinhos ou junto de suas famílias, limitados a viverem apenas dentro de um espaço restrito. Logo, o isolamento social funciona como um estímulo estressor por gerar nas pessoas um sentimento de solidão, mostrando como a interação social e o contato com o meio externo são essenciais para a vida de todos”, explica a pesquisadora.

Silvana Melo lembra que, se o confinamento for passageiro, não há efeitos comportamentais que o prejudique o animal. No entanto, se for prolongado eles podem desenvolver os chamados comportamentos tipo-ansioso ou tipo-depressivo.

“Quando pensamos em nós, do ponto de vista comportamental, isso remete ao fato de que muitas pessoas acabaram desenvolvendo sintomas de ansiedade e de depressão neste contexto de isolamento. E os efeitos não se restringem a apenas um tipo de estresse. Vemos o estresse psicológico, o do medo de morrer, de adoecer e/ou de perder alguém amado; o de restrição, o de isolamento, alguns ocorrendo com mais frequência e outros menos. Diante dessas circunstâncias, o organismo reage e podem surgir sintomas como: crises de angústia, irritabilidade, tristeza, alterações no apetite, problemas no sono, etc.”, descreve a professora Silvana.

 Os conselhos da pesquisadora para atenuar esses efeitos são, em resumo dois. Para ela, os recursos que auxiliam na proteção contra os danos do estresse estão ligados ao estado de resiliência. “Dentre eles, destacam-se: o tato/afeto, por estimular a produção de ocitocina, o hormônio ligado às funções cognitivas, ao comportamento social e à empatia, ao crescimento corporal e à redução do cortisol; e a atividade física, já que possui ações antidepressivas, favorece as funções cognitivas e induz à síntese de proteínas, importantes no processamento da memória, colaborando para a redução do estresse”, concluiu Silvana Melo.

 A live da professora na íntegra está disponível no canal da Associação dos Amigos do Mudi (Amudi), no YouTube, por meio deste link: https://bit.ly/2QDiJG1.

 

Texto produzido em colaboração com a estagiária da PEC/Mudi, Maria Eduarda de Souza Oliveira, aluna do curso de Comunicação e Multimeios da UEM.