Por Gabriela Pontes, com fotos de Leonardo Ianella

É possível que você conheça a professora Patrícia Lessa dos Santos, do Departamento de Fundamentos da Educação (DFE). Ela está na UEM desde 1999, é graduada em Educação pela Universidade Federal de Pelotas, doutora em História pela Universidade de Brasília e pós-doutora em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Entre os inúmeros trabalhos que publicou figura o livro Mulheres à Venda, que é fruto de uma pesquisa na qual ela debate como a imagem feminina vem sendo construída ou reproduzida no discurso publicitário.

Para além do meio acadêmico, Patrícia tem uma trajetória notável na área de fisiculturismo e outras modalidades ligadas à musculação competitiva. Para dar uma ideia desse envolvimento, no final de 2017, ela puxou uma camionete por 20 metros, em uma competição no Uruguai.

Esporte desde cedo - Patrícia se aventura pelo mundo dos esportes desde a infância, com inserções pelo skate e nos campos de Futebol. Sempre com incentivo da família. Aos 19 anos, acadêmica de Educação Física, ela trabalhava em uma academia e bem ao lado havia outra que era especializada em musculação competitiva. “Inscrevi-me para treinar com o mestre Puma, que foi quem me inseriu na área”, lembra saudosa.

Seguindo por essa trilha ela fez o curso de arbitragem para o fisiculturismo e exerceu a função como árbitra internacional durante muitos anos. Acabou sendo convidada para fazer parte de uma federação inglesa de fisiculturismo, pela qual passaram grandes atletas de todo o mundo, como Arnold Schwarzenegger.

A partir do vínculo com a federação e de contatos estabelecidos, Patrícia foi convidada para ser diretora científica da revista nacional Musculação e Fitness.

Ela também integrou a Federação Paranaense de Musculação Atlética e acompanhou atletas brasileiros mundo afora. Na Eslováquia, participou de um campeonato internacional atuando com a parte técnica e logística da equipe brasileira. Como árbitra, ela nem consegue calcular quantas vezes e em quantos lugares diferentes esteve.

Sua primeira competição foi em 2008, aos 38 anos, competindo com atletas bem mais jovens, em Pelotas. Na ocasião, apresentou uma coreografia e poses de duplo bíceps, dorsal e costas. Levou o segundo lugar.

Depois desse campeonato ela conheceu Ênio Amaral, campeão mundial em levantamentos básicos (supino, levantamento terra e agachamento), com quem treinou por muitos anos. Ele a ensinou sobre a categoria do supino, que são exercícios para o peitoral. Na época que treinavam juntos, Patrícia levantava 100 Kg.

A partir daí, fez apenas demonstrações em algumas competições, uma vez que há poucas mulheres participando desse esporte. Logo, ela não tinha muitas concorrentes no Brasil.

 

[“Quem treina sério também estuda o esporte”]

 

Strongman - Em 2017, Patrícia foi para o Uruguai, junto da equipe do Mestre Puma. Dessa vez, o esporte foi o Strongman. As provas foram “bem levezinhas”: tracionar uma camionete; correr por vinte metros com uma trava de 100 Kg nas costas; tombamento de pneu; correr vinte metros com uma manilha de 20 Kg, deixá-la no chão, pegar outra e voltar correndo. Acabou levando o segundo lugar na competição, aos 47 anos.

“Quem treina sério também estuda o esporte”, afirma. Ela se inspira nos precursores e, principalmente, nas precursoras e se revela apaixonada pela história das mulheres com o fisiculturismo.

Há dez anos, Patrícia criou a disciplina Bodybuilder, no curso de Educação Física da UEM, que consiste no estudo dos esportes de força, que são ligados à musculação competitiva.

Lado C - Além do esporte, Patrícia tem outra paixão. Digamos que é seu Lado C: o interesse por animais. Filha de um médico veterinário, ela é protetora animal e, quando pode, adota algum abandonado e dedica parte de seu tempo para estudos relacionados ao esportes com animais.
Pensando no futuro, a professora tem planos para abrir uma academia de musculação. Pode ser em um ambiente rural para incorporar o encanto por animais e desenvolver atividades práticas de humanos com outras espécies. Ela defende que esse convívio saudável ajuda no emocional dos atletas.

Mesmo que apaixonada pelos esportes e pelos animais, a prática docente tem lugar garantido entre as preferências. “Adoro lecionar. Esperei muito por um concurso como esse da UEM”, comenta engajada.

 

[“... olhei para trás, vi o que já tinha feito na UEM e, sinceramente, daqui não saio mais”.]

 

Em 2008, Patrícia passou em primeiro lugar em um concurso na Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para lecionar disciplinas relacionadas à musculação, trabalhar com academias. “Era meu sonho”, fala com brilho nos olhos. Mas, na última hora, “olhei para trás, vi o que já tinha feito na UEM e, sinceramente, daqui não saio mais”. Patrícia conta que pediu demissão de outra universidade estadual para estar aqui, “lutei muito por isso, adoro esse lugar”, fala, dessa vez, com ainda mais brilho nos olhos.

Com tanta história para contar, Patrícia garante que não se arrepende de nada. “Quero colaborar ainda mais para o esporte, para o conhecimento”