A cientista da Kombi vermelha

Natural de Cianorte, no interior do Paraná, Linnyer Beatrys Ruiz Aylon é professora do Departamento de Informática da UEM, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação e diretora da Sociedade Brasileira de Microeletrônica. Com uma agenda bem cheia, ela ainda encontra tempo para dedicar-se a uma paixão de longo tempo: a Kombi vermelha.

“As melhores impressões que eu tenho da minha vida vieram da Kombi”

A história com o veículo surgiu ainda na infância, quando ela tinha apenas 4 anos de idade. Um verdureiro passava toda semana na rua onde morava a professora com uma Kombi vermelha repleta de verduras, frutas e guloseimas. Linnyer sempre comprava dele um chocolate que continha histórias relacionadas à ciência e em uma destas histórias, ela conheceu a Laika, uma cachorrinha que tinha ido para o espaço no Sputnik 2.

Preocupada com o destino da cadelinha perdida no universo, Linnyer perguntou para a mãe como poderia salvá-la. “Apenas cientistas podem ir ao espaço”. Ao dar essa resposta despretensiosa, a mãe de Linnyer não podia imaginar que marcaria a vida profissional da filha. “Acho que a decisão de me tornar uma cientista se deu naquele momento”, conta a professora.

Muitos não acreditavam e não apoiavam Linnyer que mesmo assim decidiu correr atrás de seu sonho. Foi com muito esforço, que a menina de uma vida tão simples, passou no vestibular e foi bolsista do curso de Engenharia de Computação na Pontifícia Universidade Católica de Curitiba. Desde o início ela enxergou a faculdade como uma oportunidade de realizar seus objetivos e descobrir seu lugar e valor no mundo.

E quanto à Kombi? Bem, segundo um dito popular todo mundo tem uma história de Kombi. Linnyer com certeza tem e para celebrá-la decidiu comprar um modelo igualzinho aquele do verdureiro.

“Meu filho e a Kombi chegaram quase ao mesmo tempo na minha vida”

Depois que se formou na faculdade de Engenharia da Computação, Linnyer trabalhou com empresas e depois de alguns anos decidiu começar a carreira na docência. A esta altura já tinha obtido os títulos de mestre em Engenharia Elétrica e doutora em Ciência da Computação . Foi nesse período que três fatos importantes marcariam a vida da professora: o retorno ao Paraná, o nascimento do primeiro filho e a compra da tão sonhada Kombi vermelha.

Segundo ela, aquele era o momento certo de adquirir o veículo, em meio a tantas mudanças que estavam ocorrendo. “A Kombi foi comprada exatamente como a do modelo 1974”, referindo-se ao verdureiro que passava em frente sua casa quando ainda era criança.

A Kombi representa muito mais que um veículo para a professora, proporciona uma relação com o mundo. Linnyer conta que utilizava as Kombis da escola de engenharia da UFMG para levar alimentos arrecadados para lixões e bairros pobres da cidade. O que sempre fazia junto com os alunos por acreditar que assim estaria transpondo os muros da universidade, ensinando os acadêmicos a se preocuparem com o outro. “Preocupar-se e ver o próximo é conviver com o lado B da vida”, comenta.

“Ela tem o poder de tirar sorrisos”

“Ela tem o poder de tirar sorrisos”, é assim que Linnyer se refere à sua Kombi. Por ser um modelo encurtado, qualquer parada na rua vira um espetáculo, as pessoas tiram fotos, falam sobre o automóvel, relembram a infância. É algo que chama a atenção e motiva conversas. “A Kombi leva alegria por onde passa, todos que andam nela não conseguem conter a risada”, relata a professora.

Conhecida por toda vizinhança como “a cientista da Kombi”, Linnyer compara o veículo com ter um hobby, traduzido pelo prazer de cuidar e manter um bem que toca no coração. Além disso, a Laika, como ela prefere chamar sua “amiga de quatro rodas” é sempre um bom mote para as conversas com os colegas da microeletrônica.

Se para a menina cianortense a Kombi representou o despertar de um sonho, a trajetória acadêmica e o reconhecimento profissional e pessoal é a realização daquele ideal. A kombinha faz parte de tudo isso trazendo alegria e boas memórias.

Texto: Natália Luvizeto
Fotos: arquivo pessoal