Neiab: Entrevista com Marivânia Conceição de Araujo

Marivânia Conceição de Araujo é professora e coordenadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-Brasileiros (NEIAB). Em entrevista ao #NossaUEM, ela fala sobre a importância do Núcleo, Dia Nacional da Consciência Negra (comemorado em 20 de novembro) e sobre cotas

#NossaUEM - Em Maringá o dia da Consciência Negra não é considerado feriado. O que isso pode significar e qual a importância dessa data?

MCA - O dia 20 de novembro celebra a existência e a luta de Zumbi dos Palmares, um herói que lutou contra a escravidão. Esse dia é pensado não só para celebrar um herói negro, mas para que possamos discutir sobre a desigualdade racial, racismo, preconceito, a dificuldade que a população negra enfrenta  e para construir uma consciência negra, de negritude.

O negro tem uma identidade mas é constantemente diminuída, fragilizada e historicamente invisibilizada, por isso é necessário fazer essa exaltação e estimular essa consciência, para que haja um movimento de integração, igualdade e valorização da diversidade.

O feriado valoriza a data e a luta. Vejo com tristeza que em Maringá e em muitas cidades do País, a data é praticamente esquecida. Acredito que isso é reflexo de uma sociedade desigual que busca invisibilizar a população negra.

#NossaUEM – Qual o papel do NEIAB neste contexto? E qual a importância do núcleo para a UEM?

MCA – O Neiab foi criado há cerca de treze anos com o intuito de ampliar o debate sobre as questões raciais. É um grupo que age politicamente em favor da igualdade e nesta perspectiva produz conhecimento, procurando fazer com que as ideias pautem discussões para além do âmbito do NEIAB, com acesso geral às pessoas interessadas no tema. Por isso temos o site, as redes sociais e três livros publicados. Um deles é direcionado aos professores da educação básica e trata da cultura afro-brasileira. A produção foi coordenada pelo professor Delton Aparecido Felipe e está disponível on-line (para acessar a obra clique neste link).

A importância de  ter um núcleo que abra espaço para  discussões que vão além da perspectiva eurocêntrica comum é inegável, tendo em vista a diversidade cultural e racial do país e os inúmeros temas ligados à temática. Fico satisfeita em dizer que contamos com apoio da atual gestão da UEM, e das anteriores também, no desenvolvimento das nossas ações.

#NossaUEM – A UEM aprovou o sistema cotas raciais. Em que medida estas cotas são benéficas no combate ao racismo na sociedade brasileira?

MCA - Esta é uma resposta longa, mas vou tentar exemplificar para ficar mais fácil: Imaginemos uma família em que um gosta de esporte, outro de cinema, outro de literatura e quando estas pessoas com diferentes gostos se reúnem, a conversa será muito mais interessante, pois será um ambiente rico em conhecimento. Trazendo esse exemplo para a Universidade, se ela recebe pessoas de diferentes classes, diferentes cores e histórias vai ganhar, verdadeiramente, o caráter de universalidade, que diz respeito a universo, quantidade e pluralidade.

Dentro desta perspectiva, quando nós convivemos com pessoas diferentes os preconceitos e estereótipos terão grandes chances de diminuir e então vamos conhecer as pessoas no que realmente elas são, seu potencial. Essa população que está fora da universidade por um processo histórico, quando entra ela é mais um elemento positivo que traz qualidade acadêmica e diversidade.

As cotas são necessárias e são positivas, tanto internamente (acadêmicas), mas também profissional e social. Quanto maior o número de profissionais negros em cargos cujas profissões são consideradas de elite, melhor pra nossa sociedade e para a população negra, pois vai diminuir o preconceito. Muito do nosso preconceito racial tem uma raiz histórica, vem lá da escravidão e, por mais incrível que pareça, as pessoas negras ainda têm uma relação com pessoas escravizadas, já que a maioria está em cargos subalternos. Quando se abre a possibilidade para a inserção na universidade, barreiras se quebram e temos a possibilidade de diminuição do racismo, preconceito na nossa sociedade.

#NossaUEM – Em uma perspectiva futura, como você vê o aumento das manifestações políticas e culturais afro-brasileiras no câmpus?

MCA – Eu vejo isso muito positivamente. É superbacana quando temos contato com outras culturas e quando a gente pensa na universidade, alunos e professores fazendo uma produção cultural relacionada à cultura afro-brasileira. Eu acho ainda mais importante porque, historicamente, esse tipo de manifestação foi invisibilizada. Pior ainda, durante alguns anos algumas manifestações foram proibidas, como o samba, a capoeira e religiões de raízes africanas.

Então, quando a universidade traz essas manifestações, é bom, bonito, didático e é, principalmente, fortalecedor, pois elas têm sido, historicamente, perseguidas. Isso é exigência para que as pessoas respeitem a diferença. Cada um desenvolve a cultura que lhe é conveniente.

Por fim, gostaria de destacar uma frase da Angela Davis:

“Em uma sociedade racista, não basta não ser racista é preciso entrar na luta antirracista”.

É importante chamar a atenção não apenas para a resistência mas também para a inclusão. O Novembro Negro é pensado nesse sentido, uma luta contra o racismo na sociedade brasileira, que é diferente de uma luta da população negra contra o racismo, é uma luta geral, uma chamada para que as pessoas participarem dessa luta.

Texto e foto: Natalia Luvizeto

Entrevista com Daniele Almeida Duarte

Por Gabriela Pontes

Em época de final de ano e véspera das férias coletivas, a entrevista desta edição aborda a função do recesso para a renovação das energias para 2019. Convidamos a professora Daniele Almeida Duarte, docente no curso de Psicologia e pesquisadora em Saúde Coletiva, para explanar sobre o assunto. Aproveite as dicas da especialista e desfrute suas férias:

 

Existem hábitos e atividades mais adequados para efetivamente descansar e relaxar durante o período de recesso? Se sim, quais são eles?

Após um ano atribulado, sobrecarregado não apenas nas atividades rotineiras de um/a servidor/a público que acumula tarefas, estamos também exaustos pelo cenário social, político e econômico que tomou conta do nosso país. As preocupações perante um presente e um futuro, que dizem respeito não somente à carreira, mas também obtermos condições para realizar as atividades com qualidade e alegria, ultrapassam nossa ação individual. Requer uma atenção dos agentes públicos e da sociedade para que haja a manutenção e desenvolvimento da universidade pública, gratuita, de qualidade e humana, como por exemplo, além de custeio suficiente, a reposição do assustador déficit que temos em nosso quadro de pessoal. Requer também recursos materiais e condições estruturais adequadas para atender as demandas incessantes que nos chega dia a dia. Requer um coletivo e um espaço de convivência e trabalho respeitoso, colaborativo e solidário. Ou seja, por estes motivos, entre outros que cada um pode acrescentar, expressamos cansaço e tensão constantes para dar conta da rotina nesta Instituição.

["...o direito às férias, o período de repouso e lazer são fundamentais para cuidarmos da saúde."]

Tendo isso em vista, o direito às férias, o período de repouso e lazer são fundamentais para cuidarmos da saúde. Os primeiros dias do recesso são uma espécie de “desaceleração” a se fazer. Um desligamento paulatino que cada um/a vai conseguindo aos poucos, encontrando suas estratégias e tempos. Convivemos tão intensamente com o trabalho que a jornada diária de oito horas não se desliga da noite para o dia. Deste modo, é fundamental estabelecer alguns limites na rotina doméstica e familiar para não continuar trabalhando a todo vapor em casa e nos momentos de lazer. A saúde do trabalhador/a, em especial a dimensão da saúde mental, necessitam de outras vivências que não seja o trabalho.

O período de recesso é uma ótima oportunidade para retomar e criar vínculos extra-trabalho. Fazer atividades que não estávamos habituados, bem como retomá-las. Há os hobbies a pôr em práticas, nossas afinidades e interesses que podem ser realizados. Os talentos esquecidos e aqueles ainda não descobertos. Um momento propício para reencontrar nós mesmos e outros vínculos.

Experimentar uma boa caminhada ou outros atividades físicas que tragam prazer e conforto, exercitar atividades manuais e artísticas, estar com as crianças de maneira mais intensa e fazermos juntos nossa “colônia de férias”, ler, tocar instrumentos, participar de atividades e ações sociais que geram alegria e reconhecimento. Momento também de se cuidar e cuidar melhor dos nossos familiares e amigos. Enfim, o período de recesso é uma ótima oportunidade de lembrarmos que a vida é muito mais que o trabalho. O que faz muita gente ter dificuldades de aproveitar este tempo para descansar e relaxar.

["... o período de recesso é uma ótima oportunidade de lembrarmos que a vida é muito mais que o trabalho."]

 

Como aproveitar as férias coletivas para recarregar as baterias para o ano de 2019?

Os vínculos “além trabalho” são fundamentais para deleitar-se nas férias. Contudo, a dificuldade está por vivermos uma rotina diária de trabalho, que sabemos ultrapassar a jornada de oito horas. Afinal, estamos planejando de modo incessante atividades do trabalho. Pensando, elaborando e buscando resolver as demandas e desafios diários em outros espaços, que se estendem para fora das paredes das salas de aula, dos laboratórios e escritórios. Chegamos até mesmo a sonhar a noite com conteúdos do trabalho, tamanhas exigências  que não são apenas cognitivas, mas afetivas e psicossociais. O trabalho mudou em suas exigências. As metas são ascendentes e na administração pública isso também tem se feito presente. Logo, a prontidão, vigilância e atenção dos/as trabalhadores/as são constantes, especialmente pelos motivos já mencionados anteriormente. O que acontece nesse cenário? As linhas entre dentro e fora do trabalho, esfera laboral e doméstica/privada são desfeitas. Misturam-se. A tecnologia também tem parte especial nisso, figurando entre as novas relações, conteúdos e vivências do/no trabalho. A instantaneidade, velocidade e intensidade do constante afazer foi aprofundado pelos novos meios de comunicação. Para ilustrar isso, como estamos assoberbados, a ponto de nem sabermos mais o que fazer, lembremo-nos do personagem Coelho Branco, de Lewis Carroll, em sua belíssima obra “Alice no País das Maravilhas”. O personagem dizia de modo atordoado e desesperado: "Ai! Aii! Ai!  Chegarei atrasado demais!". Em seguida tira o seu relógio do bolso. Nós tiramos o celular! A vivência do tempo, na atualidade, comprimiu-se a ponto das pessoas dizerem que o dia precisaria se estender além das 24h. Caso se estendesse, não resolveríamos o problema da sobrecarga, pois estenderíamos ainda mais nossos afazeres, tornando a vivência do tempo sempre insuficiente. E precisamos nos reaver nesse tempo! Tomar fôlego! Reabastecer de alegria, afeto e outras vivências. A família, os amigos ou mesmo os momentos de solidão renovadora, para se aquietar e, posteriormente, se reencontrar com a vida, são fundamentais.

 

Quando as atividades reiniciarem em 2019, como lidar com o possível estresse decorrente da rotina de trabalho?

Há uma dimensão de manejo do estresse que ultrapassa o foro íntimo e individual. Reconhecer as fontes de estresse, os estímulos adversos que estamos expostos e seus efeitos sobre nós é um passo fundamental. Nem todo estresse impele ao sofrimento e adoecimento, quando há possibilidades de lidar com este, com os focos estressores, não deixando esta pessoa exposta de modo incessante a um estímulo aversivo, sem ter condições de intervir neste. Aí estamos na dimensão social do estresse. Poder identificá-lo, situá-lo em um âmbito local e conjuntural e poder encontrar, conjuntamente, modos de atenuá-lo ou modificá-lo é um caminho inicial. No âmbito do trabalho seria reconhecer os riscos presentes ali e construir modos de trabalhar geradores de saúde. Nessa perspectiva coletiva de identificar os problemas, reconhecer seus efeitos e buscar vias solucionadoras de curto, médio e longo prazo, todos ganham em qualidade de vida e trabalho, em relações interpessoais, em produtividade, em saúde e dignidade.

["Reconhecer as fontes de estresse, os estímulos adversos que estamos expostos e seus efeitos sobre nós é um passo fundamental."]

 

Como o descanso e o bom aproveitamento das férias colabora para a manutenção da saúde mental?

Os momentos produtores de vida, de sentido da existência, de bem-estar e alegria precisam ser construídos no dia a dia. Em nossas atividades, em nossas relações, em nossos espaços de convivência. Onde passamos a vida. Buscar a saúde mental, que é justamente uma busca, uma luta, um movimento incessante não deve ser pensado apenas no âmbito pessoal e interno. Devemos considerar o externo, o social, onde se fazem as exigências da vida, como o lugar do trabalho. Deve ser também ali, pois em torno dessa atividade nossa vida transcorre. Faça as contas da média de horas que trabalhamos diariamente e multiplique por um número de anos (expectativa de vida). Quanto da nossa vida está nessa atividade? Cada vez mais estamos vivendo um momento que a gente “vive para trabalhar”. Quero chamar a atenção para isso em três aspectos. O trabalho possui papel fundante no processo saúde-doença (adoecemos pelo trabalho, mas também no trabalho obtemos saúde); na constituição da identidade (como nos reconhecemos e como somos reconhecidos pelos outros); e fonte de subsistência (força de trabalho vendida para sobreviver e obter recursos materiais e imateriais).

O trabalho está repleto não somente de força muscular dispendida por um corpo em ação, do vigor cognitivo utilizado na realização das atividades, mas profundamente marcado  pelos afetos, os sentimentos e as emoções. Deste modo, ao pensar em descansar e aproveitar as férias, acaba sendo atravessado por estas vivências do trabalho que se estendem para dentro de casa. A refeição rápida feita no dia a dia. O atropelo das exigências e preocupações a serem realizadas. A aceleração das falas, dos diálogos muito abreviados dentro de casa com cônjuges e filhos/as. O uso dos celulares e computadores que se estendem até para uma beira de praia, para um momento de repouso. Desaprendemos o exercício da convivência comunitária, familiar e amorosa. O que geralmente acontece é o tempo de “férias” e “recesso”, para muitos trabalhadores/as, é continuar a trabalhar. Pôr em dia o que não se fez. E a vida vai passando. Vamos envelhecendo, adoecendo e esquecendo de viver dentro e, especialmente, fora do trabalho outras possibilidades de vida.

Penso que seria um grande desafio, para muitos de nós, fazermos coisas simples, corriqueiras, onde estão as preciosidades da vida. Uma refeição mais vagarosa e compartilhada. Um passeio em um parque. Uma conversa tranquila, olho a olho, sem celular! A vida está nesse âmbito ordinário onde há o aroma do café coando. De uma brisa no rosto. De uma escuta amorosa do outro. De poder desabafar e confiar a alguém parte da nossa vida.

Não há como não lembrar da obra prima do cineasta alemão Win Wenders, em Asas do Desejo, que busca retratar essa dimensão humana da existência, que colore a vida. Nesses gestos simples e com o outro, além trabalho, encontramos momentos para nos reabastecer e continuar a luta diária. A labuta após férias.

["Cuidar de si requer, de modo indispensável, cuidar do outro, do nosso colega de trabalho, da nossa Instituição."]

 

E, para finalizar, quero trazer uma luta a ser coletivizada nos nossos espaços de vida, ao retomarmos o ano de 2019. Uma busca pela saúde que se constrói tanto nos espaços coletivos, participativos e representativos (sindicatos dos trabalhadores, associações, conselhos e fóruns diversos), quanto no local onde retornaremos ao trabalho. Cuidar de si requer, de modo indispensável, cuidar do outro, do nosso colega de trabalho, da nossa Instituição. Poder conjuntamente reconstruir, na esfera local e conjuntural, o orgulho de ser servidor/a pública. De manter e ampliar os direitos constitucionais e do trabalho.

Estamos falando de um local de trabalho onde todos/as, em diferentes e importantes funções, sem diminuir o valor de nenhuma, atuam com políticas públicas de educação, que são os ingredientes para transformação e esperança de uma sociedade melhor. Vamos juntos, em 2019, cuidarmos do nosso cotidiano laboral, das relações diárias, aprendermos a trabalhar de modo mais compartilhado, solidário e respeitoso para lutarmos juntos por um espaço de vida e realização, que é e deve ser o trabalho. Cuidar dele e continuar a cuidar, também, da educação emancipadora e transformadora em nosso Paraná e no Brasil.

Entrevista com Clóves Cabreira Jobim

Por Gabriela Pontes

Clóves Cabreira Jobim é o atual Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, empossado no cargo no dia 11 de outubro.

Jobim possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em 1983. Concluiu o mestrado em Zootecnia na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e o doutorado na mesma área pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Realizou estágio pós-doc no Institut de la Recherche Agronomique-INRA, na França.

Em entrevista ao #NossaUEM, o novo pró-reitor fala dos projetos para a gestão.

 

Quais são as metas da PPG para os próximos quatros anos?

Estamos fazendo uma avaliação geral de como está o setor e para onde queremos e precisamos ir. Um dos principais objetivos é que a Universidade consiga realmente fazer pesquisa de ponta.

["Um dos principais objetivos é que a Universidade consiga realmente fazer pesquisa de ponta."]

Há alguns rumos traçados nessa direção como o fortalecimento da pesquisa na Universidade através de parcerias com o setor privado e ampliação de convênios de cooperação internacional com universidades e empresas, fazendo prospecção de editais e buscando diferentes oportunidades. A UEM já percorreu um longo caminho nesse sentido, só precisamos aprofundar e expandir ainda mais.

 

Na prática como serão estabelecidas as parcerias com o setor privado?

Nós pretendemos intensificar o contato com centros que reúnem representantes de vários segmentos da indústria e do setor público. São centros que mediam parcerias, oferecem oportunidades. A ideia é estreitar relações com esses órgãos que reúnem diferentes segmentos do setor privado e mostrar o que a Universidade tem a oferecer para a sociedade como um todo, nas diferentes áreas do conhecimento.

["A ideia é estreitar relações com esses órgãos que reúnem diferentes segmentos do setor privado e mostrar o que a Universidade tem a oferecer para a sociedade como um todo, nas diferentes áreas do conhecimento."]

Sabemos que o setor privado está interessado na pesquisa que a UEM desenvolve. Digo isso porque fui convidado por um desses centros para participar de uma reunião e, na ocasião, me solicitaram informações a respeito das linhas de pesquisa que a Universidade desenvolve dentro da área de interesse do setor. Nosso papel é facilitar a aproximação com a comunidade externa.

 

A pós-graduação na UEM cresceu muito nos últimos anos. Essa curva de crescimento irá manter-se?

De fato houve um crescimento sensível tanto quantitativo como qualitativo. Hoje temos mais de cinquenta programas de pós-graduação e cinco programas avaliados com nota seis na Capes, considerados de excelência e com inserção internacional.

Temos uma meta bastante arrojada para a próxima avaliação da Capes, em 2021. Queremos que a UEM tenha pelo menos um programa com nota sete, que é a nota máxima. O Paraná tem programas com nota sete há pouquíssimo tempo, nas diferentes áreas do conhecimento, e a UEM ainda não conquistou nenhum. Nós queremos trabalhar bastante nesses programas nota seis e nota cinco, que são programas que já estão consolidados e mais próximos de atingir esse ápice.

 

E sobre a abertura de novos cursos de pós?

Temos dois programas de pós-graduação em avaliação nas Propostas dos Cursos Novos (APCN 2018) da Capes. Um programa da Bioquímica, na área das Ciências Biológicas 2, e outro do Direito, a respeito dos Direitos e Garantias Fundamentais nas Tutelas das Vulnerabilidades. Até dezembro, na reunião do Conselho Técnico Científico, teremos a resposta sobre a efetivação desses dois programas.

 

Os recursos para a pesquisa estão cada vez mais escassos. Como estimular a iniciação científica com a falta de recursos básicos?

De fato, os recursos estão minguados. As universidades, de maneira geral, têm como fonte importante de recursos os editais de agências de fomento como a Capes, o CNPq, a Finep e a Fundação Araucária. Mas são verbas cada vez mais escassas e as universidades que queiram lograr êxito nos editais públicos terão de apresentar cada vez mais méritos.

O sistema de ensino superior no Brasil cresceu bastante, mas a disponibilidade de recursos não cresceu na mesma proporção. Volto a dizer, as cooperações com o setor privado e acordos de cooperação internacional são uma alternativa.

["O sistema de ensino superior no Brasil cresceu bastante, mas a disponibilidade de recursos não cresceu na mesma proporção. Volto a dizer, as cooperações com o setor privado e acordos de cooperação internacional são uma alternativa."]

Para a iniciação científica ainda há condições de envolvimento de vários alunos de graduação, por meio de bolsas ou outras modalidades de financiamento. Além disso, temos o sistema voluntário, em que os alunos que buscam formação mais sólida ou que buscam avaliar se têm perfil para a pesquisa são inseridos aos grupos de pesquisa, trabalhando com os alunos da pós-graduação. Nisso a Universidade está muito bem servida, pois tem vários grupos de pesquisa cadastrados no CNPq.

Entrevista com Luiz Otávio de Oliveira Goulart

Por Gabriela Pontes

Luiz Otávio de Oliveira Goulart, Pró-Reitor de Recursos Humanos e Assuntos Comunitários da UEM, tomou posse do cargo no dia 11 de outubro, mantendo-se no mesmo cargo que exerceu na gestão do professor Mauro Baesso.

Goulart é graduado em Direito pela Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha, em 1996, e mestre em Direito Negocial pela UEL. Na UEM desde 1999, é docente do Departamento de Direito Público, onde também exerceu o cargo de chefia.

Em entrevista ao #Nossa UEM, fala dos projetos para a atual gestão.

 

Qual o principal desafio em termos de política de recursos humanos?

Atravessamos um momento muito delicado no que refere ao quadro de servidores, tanto agentes universitários quanto docentes. As aposentadorias ocorrem todas as semanas, em números cada vez maiores. Por outro lado, os pedidos de anuência das vagas, que autorizam a realização de concurso público, não foram autorizados desde 2014 e as nomeações que deveriam ter ocorrido nestes últimos anos também não se concretizaram

A nova gestão tem a missão de mostrar ao Governo do Estado a necessidade de reposição do quadro funcional, para que possamos continuar as atividades inerentes à uma instituição de ensino superior público de grande porte como é a UEM.

 

["A nova gestão tem a missão de mostrar ao Governo do Estado a necessidade de reposição do quadro funcional, para que possamos continuar as atividades inerentes à uma instituição de ensino superior público de grande porte como é a UEM."]

 

A falta de servidores tem causado sobrecarga de trabalho em diferentes setores. Quais as implicações e soluções para esse problema?

Com o atual quadro deficitário, em muitos setores a sobrecarga de serviço é uma triste realidade. Assim, aumentam os casos de incapacitação decorrente do excesso de trabalho, afastamento por doenças laborais, com destaque para as enfermidades relacionadas aos distúrbios psicológicos e  emocionais.

Dessa forma, é importante que tenhamos um efetivo controle sobre o contexto no qual esses afastamentos estão ocorrendo para tentarmos diminuir a incidência, propiciando ao servidor mecanismos que possam não somente remediar o problema, mas, especialmente, prevenir casos futuros. Várias ações foram implementadas nesta última gestão, por exemplo, a ampliação dos atendimentos no ambulatório médico, os cursos oferecidos pela TDE e outras ações foram iniciadas com o objetivo de oportunizar ao servidor melhores condições de trabalho.

 

Sobre a gestão de pessoas na Universidade, existem planejamentos e possibilidade para o remanejamento interno?

O remanejamento interno sempre surge como uma ferramenta importante a ser utilizada em épocas de crise. Atualmente, vários setores realizam esse procedimento, que tem se mostrado muito importante como mecanismo alternativo para combater a falta de servidores.

 

No contexto de mudança no governo do estado do Paraná, há a expectativa da reposição salarial. Como esse direito será defendido pela atual gestão?

Penso que devemos manter um canal de diálogo aberto com o Governo do Estado, não só no que refere à reposição salarial, mas também na recomposição do nosso quadro de servidores, e mesmo em questões que não passam diretamente pela PRH, mas que interessam a todos, como por exemplo, a discussão relacionada com nosso orçamento, tudo com base na autonomia universitária, confirmada em recente e definitiva decisão do Supremo Tribunal Federal.

["Penso que devemos manter um canal de diálogo aberto com o Governo do Estado, não só no que refere à reposição salarial, mas também na recomposição do nosso quadro de servidores"]

Ministrado pela psicóloga Lúcia Cecília da Silva, professora da UEM, o curso ocorreu no Hospital Universitário

Por Fernanda Fukushima, com foto da própria Lúcia Cecília da Silva

O comportamento de uma pessoa suicida segue um padrão ou cadência que perpassa algumas etapas, como explica a professora Lúcia Cecília da Silva, do Departamento de Psicologia da UEM.

Com objetivo de dar apoio à celebração do Setembro Amarelo, o hospital universitário promoveu, no final de agosto, um curso sobre a temática, ministrado por Lúcia.

Como é que a gente pode observar que uma pessoa está com intenso sofrimento e pensando em por fim à vida?

Ela começa a falar que a vida não tem sentido, que ela não aguenta mais, que ela é um peso para família e para as pessoas, que a família e as pessoas ficariam melhores sem ela... São falas que a gente considera falas de alarme. Mas aí, quando ela começa a obter os métodos para consumar o ato, ela já começa, por exemplo, designar seus pertences a algumas pessoas. Dar uma coisa para um, uma coisa para outro. Ela começa a falar assim: “se acontecer alguma coisa comigo, minha conta é tal... Cuide do meu filho assim, termine esse projeto dessa forma”. Então, ela começa a fazer um testamento em vida. Fala que o sofrimento dela vai acabar e tudo isso um dia vai chegar ao fim. Temos que ficar atentos a todas essas manifestações. Precisamos observar quando a pessoa está mais isolada, triste, mais reclusa.

["Então, ela começa a fazer um testamento em vida. Fala que o sofrimento dela vai acabar e tudo isso um dia vai chegar ao fim. Temos que ficar atentos a todas essas manifestações. Precisamos observar quando a pessoa está mais isolada, triste, mais reclusa."]

Como funciona quando a pessoa não demonstra nada?

Isso de não mostrar sinais, não dar aviso, é até um mito que a gente ouve quando se discute o suicídio. Porque sempre têm alguns sinais, é que a gente não tem a acuidade, a atenção em observar, devido ao estigma, ao preconceito que se tem em relação ao sofrimento psíquico. Às vezes, as pessoas não acreditam nestes sinais, até como espécie de defesa de achar que não é tão grave.

Quais são as causas que levam a pessoa a pensar em cometer suicídio? São causas biológicas, sociais ou todo um contexto que leva a isso?

Todos esses são fatores que intervém no fenômeno do suicídio. Tanto é que os estudiosos dizem que é um fenômeno multidimensional, multicausal. Então, não dá pra gente dizer que o suicídio aconteceu por esta razão ou com esta justificativa. Ele tem toda uma configuração que entra nos fatores individuais, mas também familiares, da comunidade, econômicos, sociais. Hoje em dia, por exemplo, a questão social, as questões relacionadas à precariedade dos trabalhos, ao desemprego, à questão dos direitos sociais das pessoas têm contribuído muito para isso no mundo todo. 

A gente vê muito na mídia esse alerta sobre o bullying. Está ficando mais grave a situação e as pessoas geralmente associam isso com a depressão e o suicídio. Existe realmente essa relação?

Não dá pra fazer uma associação direta sobre o bullying com depressão e o suicídio. Mas, assim, o bullying é uma violência. As crianças ficam muito fragilizadas, os adolescentes também. Eles se sentem “despertencentes” a um grupo. Tudo isso causa muito sofrimento mental, sofrimento emocional e, se tem outros fatores que atuam junto, pode favorecer à tentativa do suicídio como uma solução para o problema. Como outros fenômenos, esse também é importante entre as causas do suicídio, principalmente com crianças e adolescentes. Há, ainda, a violência doméstica, o abuso sexual, tipos de violência que agridem o indivíduo. Quando a pessoa encontra algum apoio, consegue superar de alguma forma. A escola, a família que dá valor, aliviam o sofrimento, ajudam a encontrar um encaminhamento para a questão.

["Há, ainda, a violência doméstica, o abuso sexual, tipos de violência que agridem o indivíduo. Quando a pessoa encontra algum apoio, consegue superar de alguma forma. A escola, a família que dá valor, aliviam o sofrimento, ajudam a encontrar um encaminhamento para a questão."]