Ciclo de Debates InterculturaisEvento trouxe indígena Dercílio Silva para abençoar estudantes e também o líder dos povos originários do sul do País, Woie Patté

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A Comissão Universidade para os Índios (Cuia), da Universidade Estadual de Maringá (UEM) deu início, na manhã desta quinta-feira (16), ao Ciclo de Debates Interculturais 2024, com o tema UEM: Os Desafios do Ensino Superior Indígena, no Anfiteatro de Geografia, Bloco H12, sala 14. O evento busca recepcionar todos os 73 indígenas matriculados na instituição, sendo seis deles calouros e nove transferidos de outras Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES) do Paraná. Do total de indígenas matriculados, 41 farão cursos no sistema de Ensino a Distância (EaD). 

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Para abrir o evento, a Cuia convidou o rezador da etnia Guarani, Dercilio Silva, de 84 anos, da Terra Indígena Laranjinha, situada em Santa Amélia, no Norte Pioneiro do Paraná. Além de abençoar os estudantes e o novo ano letivo que se iniciou esta semana, o rezador repassou seus ensinamentos sobre a importância de manter a conexão diária com Nhamandú, o Deus supremo. 

“Este acolhimento aos estudantes indígenas é muito oportuno e rico para o trabalho da Cuia ao longo do ano, pois é nesse momento que eles se abrem e colocam suas necessidades, os pontos positivos e os que precisam ser melhorados nos cursos. Conseguimos, inclusive, a participação de alunos do EAD. O que é muito bom, porque trouxeram suas questões enquanto estudantes que acessam o curso por uma plataforma. Está sendo muito válido, estamos anotando as demandas, debatendo, e vamos conseguir avançar em algumas questões, rever o nosso trabalho para atendê-los”, avalia a coordenadora da Cuia UEM, Maria Christine Berdusco Menezes. 

Conquistas estudantis  

Entre os calouros do ano letivo de 2024, dois irão cursar Medicina, um Ciências Biológicas, um Direito, um Letras (EAD) e um Ciência da Computação. Os transferidos estão entrando nos cursos de Ciências Biológicas, História, Letras e Pedagogia. 

Indígena Kauana caloura Medicina

A Kaingang Kauana Goj Tej de Oliveira, de 18 anos, da Terra Indígena Mangueirinha, que fica próxima de Pato Branco, no Sudoeste do Paraná, é uma das mais novas calouras de Medicina da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mesmo não conhecendo a UEM e nem a cidade de Maringá, foi influenciada pela avó para prestar vestibular aqui. “Ela disse que a UEM é uma universidade pública de qualidade e que dá mais aconchego aos indígenas. Quando saiu o resultado, eu nem acreditei. Eu realmente achava que não iria passar. Fiquei muito feliz e emocionada porque desde que meu avô ficou doente e tivemos que cuidar dele nasceu essa vontade de me tornar médica. Outra inspiração foi minha prima, que também se formou em Medicina no ano passado, na UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa).” 

Na avaliação dela, o evento está sendo bem interessante, pois encontrou pessoas de sua etnia e muitos problemas relatados por outros são os mesmos que ela está passando, como local para moradia permanente. “Tudo que eles falam é o que eu queria falar, então fica mais fácil e podemos pensar em alugar um local juntos para morar. Isso ajuda muito a dividir as despesas.” Kauana diz que está se sentindo acolhida e que sonha concluir o curso e voltar para sua aldeia para atuar como médica na sua comunidade. 

Entre as palestras desta quinta-feira, o evento contou com a participação do intelectual indígena da etnia Xokleng, Woie Kriri Sobrinho Patté, um líder dos povos originários do sul do País, que atualmente está fazendo doutorado em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua como professor na Terra indígena de Ibirama, em Santa Catarina. O tema de sua palestra atraiu muitos estudantes indígenas. Ele discorreu sobre “Discriminação, Preconceito e a importância dos estudos no Ensino Superior”. 

“Nós estamos no nosso espaço também de direito, de poder ter uma qualificação, de poder ter uma graduação, um estudo. E dessa forma a gente vai ter que trazer nosso modo de vivência da aldeia para dentro da universidade. Às vezes, não somos aceitos, pois quando eu venho para a universidade, eu trago minha ancestralidade para dentro da universidade, minha cultura, meu jeito de pensar, muitas vezes não somos compreendidos. Então, temos que nos defender todos os dias e a gente fica afetado com a nossa saúde mental”, defende Patté. 

Na avaliação dele, a principal barreira enfrentada pelos povos originais dentro da universidade é a falta de aceitação por parte de alguns não-indígenas. “Não adianta abrir cotas, dar acesso à universidade, se não der condições de permanência na universidade para que possamos concluir nossos estudos”, finaliza o professor. 

A professora Maria Simone Jacomini Novak, do Departamento de Teoria e Prática da Educação (DTP) também palestrou sobre Políticas Públicas de Inclusão e Ensino Superior Indígena, assunto pertinente ao levantado por Patté. Novak lembra que somente nos anos 2000 começou haver uma inserção um pouco maior dos indígenas no ensino superior. Na avaliação dela, mais importante que o acesso dos indígenas ao ensino superior, são as relações sociais neste ambiente. As atividades de integração continuam nesta sexta-feira, no mesmo local.

Serviço

Ciclo de Debates Interculturais 2024 - UEM: Os Desafios do Ensino Superior Indígena

Quando: 17 de maio

Onde: Anfiteatro de Geografia, Bloco H12, salas 13 e 14

Programação:

8h30 – Início das atividades (apresentação cultural)

 

9h00 – Saúde Mental e Ensino Superior – Diálogo com psicólogos 

Dr. Antônio Gonçalves Ferreira Jr.

Ms. Daniela Midori Taguchi Dias

Ms. Isabelle Maurutto Schoffen

 

10h30 Debates com estudantes indígenas da UEM sobre o tema

 

13h40 – Exposição sobre Atendimento psicossocial da UEM

Psicóloga:  Clisalva Gomes da Silva 

Assistente Social: Jaciara da Silva

Profª Dr. Maria Christine Berdusco Menezes 

 

16h00 Debates com estudantes indígenas da UEM sobre o tema

 

17h00 Reunião para encaminhamentos acadêmicos EaD/UEM