Assunto foi debatido, hoje, na UEM, com apresentação de dados obtidos pelos envolvidos no Programa Vida no Trânsito, de alcance mundial
Das pessoas mortas nos acidentes de trânsito de Maringá, conforme um estudo feito na Universidade Estadual de Maringá, 80% eram homens, mais de 40% tinham de 20 a 39 anos de idade, 44% estavam na motocicleta e 27% eram pedestres. São apenas alguns dados apresentados, nesta quinta-feira, pela manhã, num evento organizado para discutir o Programa Vida no Trânsito, uma iniciativa de alcance global, da qual o município maringaense faz parte.
Uma das principais conclusões tiradas no encontro é que a solução para a redução das mortes no trânsito de Maringá passa pela formulação de políticas públicas subsidiadas com dados em análise, pelo Programa Vida no Trânsito (PVT), que levam em conta não apenas o desafio de integrar as informações colhidas por vários órgãos ligados ao setor, mas também os motivos pelos quais os óbitos ocorrem com mais freqüência.
O estudo apresentado pela professora Débora Regina de Oliveira Moura Abreu, do Departamento de Enfermagem da UEM, mostrou uma prevalência dos acidentes no Contorno Norte da cidade. Conforme a pesquisa, elaborada para o curso de doutorado, há 74% mais chances de as ocorrências fatais acontecerem neste trecho do sistema viário local.
Débora analisou as 593 mortes de 2008 e 2015, no município, e descobriu também que nos meses de junho e agosto acontecem a maioria dos óbitos, cerca de 18%. A quinta-feira à noite é o dia da semana de maior incidência de vítimas fatais.
Além de analisar informações de Maringá, fazendo uma análise espacial, para constatar ainda as regiões da cidade com maior índice com mortes no trânsito, a professora pesquisou os 399 municípios do Paraná para saber a situação após a implantação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e da adoção da Lei Seca.
De acordo com a pesquisa, o Código de Trânsito Brasileiro, em vigência desde 1998, causou mais redução de mortes. Já, a Lei Seca, válida desde 2008, também ajudou a diminuir a quantidade de vítimas fatais, porém com menor impacto se comparado ao do CTB.
Débora faz parte da subcomissão de análise de dados, do Programa Vida no Trânsito de Maringá, ao lado da professora Thais Aidar de Freitas Mathias, também do Departamento de Enfermagem.
Contratado pelo governo federal para assessor as prefeituras na condução do PVT, o consultor Lisandro Abulati, do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde no Paraná, entende que a gestão integrada para elaborar a implementar as políticas públicas no segmento é o caminho mais adequado.
No entendimento dele, a integração da base de dados "é o coração do processo". Segundo ele, esta análise das informações vai apontar, entre outras questões, os fatores de risco envolvendo os acidentes com mortes.
Em vez de trabalhar com projetos, o consultor opera com abordagem estratégica, procurando a melhoria contínua. É o modo de fazer a gestão de segurança viária e a qualificação das informações reunidas.
E é esta integração ou a unificação dos dados um dos principais desafios assumidos também pela Secretaria de Mobilidade Urbana de Maringá (Semob). Conforme o agente de trânsito Rafael Martins, de 2010 para 2016 a Prefeitura conseguiu reduzir em cerca de 50% o número de mortes no município, caindo de 81 para 38, mas em 2017 o índice voltou a subir, chegando a serem registrados 48 óbitos no trânsito.
O PVT local está na terceira etapa de execução, que é a análise das informações coletadas pelo grupo. Especialistas membros do Programa estão analisando acidente por acidente a fim de apurar detalhes que ajudem a traçar as estratégias para o êxito do projeto.
O encontro reuniu, no auditório do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da UEM, além dos profissionais envolvidos no PVT, representantes da comissão estadual do Programa e autoridades municipais ligados ao assunto, entre elas o secretário de Mobilidade Urbana de Maringá, Gilberto Purpur.
Início
O marco cronológico do início do Programa Vida no Trânsito (PVT), em nível mundial, foi a iniciativa proposta pela Blomberg Philanthropies denominada "Road Safety in Tem Countries (RS 10)", atualmente conhecida por Bloomberg Global Road Safety Program (Programa Global de Segurança Rodoviária da Bloomberg).
De início, o Programa asumiu o compromisso de investir 125 milhões de dólares em dez países, de média e baixa renda, que apresentassem o maior índice de mortalidade causada pelo trânsito entre todas as nações do mundo.
Apenas em 2015, em torno de 1,3 milhões de pessoas morreram em acidentes de trânsito no mundo inteiro e 80% das vítimas eram de países de média e baixa renda.
Somente no Brasil, cerca de 1 milhão perdeu a vida nos acidentes de trânsito de 1980 a 2011, a grande maioria, mais de 90%, em conseqüência da própria falha ou falha do condutor do veículo. Não bastasse o sofrimento das famílias, o impacto financeiro no sistema de saúde do País foi imenso, sobrecarregando, de imediato, os setores de urgência dos hospitais, além da ortopedia, neurologia e fisioterapia.
O Brasil passou a participar do PVT em 2009, por meio do Ministério da Saúde. O Programa busca promover intervenções efetivas de segurança no trânsito com evidência na redução das mortes e feridos graves.
As intervenções prioritárias estão focadas no uso do cinto de segurança, redução de velocidade, aprimoramento da legislação e aumento da fiscalização sobre “beber e dirigir”, uso de capacete, transporte urbano sustentável e na melhoria da infraestrutura viária.