O homenageado foi Rui Curi, que foi o primeiro a demonstrar o consumo de glutamina por neutrófilos e a sua importância para prevenir a morte dessas células
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A UEM (Universidade Estadual de Maringá) entregou, na última sexta-feira (29/6), o sexto título de Doutor Honoris Causa da história da instituição. O homenageado foi o professor Rui Curi, que atualmente é o vice-diretor do Instituto Butantã e presidente da Fundação Butantan, um dos mais importantes centros de pesquisa biomédica do mundo.
A solicitação do título honorífico foi uma iniciativa do professor Roberto Bazotte, amigo pessoal e um dos colegas de turma de Curi, na graduação em Farmácia na UEM. O pedido seguiu para aprovação no Conselho Universitário, com a chancela de todo o Departamento de Farmacologia e Terapêutica (DFT).
Bazotte justificou o pedido enumerando a longa de lista de contribuições científicas apresentadas por Rui Curi, com mais de 500 artigos científicos publicados em revistas no exterior, mais de 7.500 citações, além das 54 teses de doutorado orientadas, 32 orientações de pós doutorado concluídas e seis livros publicados.
Na noite da entrega do título, em seu discurso, Bazotte optou por destacar menos a vasta produção científica e mais as qualidades do homenageado. “Conheci Rui Curi em março de 1977 e logo me chamou atenção seu desempenho acadêmico. Quando ia bem tirava 10 e quando ia mal tirava 9,5. Assim, não foi surpresa para ninguém ele ter recebido, não apenas a láurea acadêmica, mas o título de melhor estudante de Farmácia do Brasil no ano de nossa formatura”, contou Bazotte.
Ainda salientou outras virtudes do amigo, como o fato de ele conseguir conciliar a imensa carga de trabalho com uma vida familiar exemplar, estar sempre disposto a auxiliar as pessoas ao seu redor e a capacidade extraordinária de entusiasmar aqueles que o cercam. Finalizou dizendo que Curi é um amigo leal, a quem ele considera como a um irmão. “Ao vê-lo receber esta homenagem é como se eu a estivesse recebendo. Porque a sua vitória é a minha vitória”, disse emocionado.
Doutor Honoris Causa diz que aprendeu a fazer ciência na UEM
O mais novo Doutor Honoris Causa da UEM graduou-se aqui mesmo, em 1980, no curso de Farmácia-Bioquímica. Durante o discurso destacou que aprendeu a fazer ciência na UEM e tudo que ele conquistou é fruto do que ele aprendeu, inicialmente, nesta casa.
Curi também enfatizou a importância da ciência aplicada como instrumento de desenvolvimento humano e social. Vale destacar que ele contribuiu no esclarecimento do metabolismo de glutamina em leucócitos e sua importância para a função dessas células. Foi o primeiro a demonstrar o consumo de glutamina por neutrófilos e a sua importância para prevenir a morte dessas células. Descreveu o fenômeno de transferência de lipídios (em particular de ácidos graxos, mas também de colesterol e fosfolipídios) entre células, principalmente leucócitos. Contribuiu para esclarecer os efeitos dos lipídios da dieta na função de leucócitos e observou que dietas parenterais ricas em lipídios podem causar morte de leucócitos circulantes.
Esses achados motivaram algumas empresas da área de nutrição clínica a revisarem a composição e a preparação das dietas hospitalares. Seu trabalho também foi essencial na elucidação dos efeitos dos ácidos graxos na resistência periférica à insulina que ocorre em condições de obesidade e diabetes tipo II. Participou da descoberta do complexo NADPH oxidase em ilhotas pancreáticas e sua importância na morte dessas células induzida por sobrecarga de glicose, ácidos graxos e interleucinas.
O reitor da UEM, Mauro Baesso, elogiou o importante trabalho do pesquisador e disse que se sentia honrado pelo fato da atual gestão ter participado do processo de concessão do título a Rui Curi.
Junto com Curi e Bazotte, Baesso integrou a mesa principal do evento que também foi formada pelo vice-reitor, Julio Damasceno, pelo diretor do Centro de Ciências da Saúde,
Roberto Kenji Nakamura Cuman, pela professora Silvana Martins Caparroz Assef, chefe-adjunta do DFT, e pela chefe de Gabinete,Jorgete Constantin.
O homenageado foi conduzido até a mesa principal ao som do Quinteto de Cordas da Orquestra de Câmara da UEM, acompanhado por uma comissão de honra composta pelas professoras Silvana Martins Caparroz Assef, Maria Ida Bonini Ravanelli Speziali, relatora da matéria no COU, e pela chefe de Gabinete, que foi aluna de Rui Curi, no final dos anos 1970, no Colégio Santa Cruz.
Jorgete Constantin diz que as aulas de Curi, que na época ainda era aluno de graduação na UEM, foi uma inspiração para ela, que acabou escolhendo uma carreira na área de Bioquímica.
Ainda sobre o homenageado
Mestre pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em 1982, e o de doutor pela mesma Instituição em 1984, Rui Curi foi professor visitante na Universidade Livre de Bruxelas, na Uniformed Services University of the Health Sciences (EUA) e no Departamento de Medicina do National Institute of Health (EUA).
Ele é membro de diversas Sociedades Científicas no Brasil e no exterior, entre elas a International Society of Nutrigenetics and Nutrigenomics, a American Society of Biochemistry and Molecular Biology; e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).