Sidnei Munhoz insiste nos formatos e sistemas de indexação que possibilitem a pesquisa para a preservação de documentos
O trabalho feito pelo professor Sidnei Munhoz, do Departamento de História (DHI), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), foi novamente referência para uma reportagem produzida pelo jornal Folha de S.Paulo sobre documentos que revelam o conhecimento dos Estados Unidos a respeito de práticas de torturas no Brasil já nos anos 1960.
Em 2014, o jornal divulgou detalhes sobre o projeto Opening Archives, resultado de uma parceria entre pesquisadores da UEM e da Universidade de Brown, nos Estados Unidos. Além do envolvimento de estudantes das duas instituições, o projeto tem a coordenação de Munhoz, ao lado do professor James Green, da universidade norte-americana.
Desta vez, ancorada também em investigações do professor Rodrigo Patto Sá Motta, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a reportagem, publicada no último domingo (21), destaca a revelação de documentos que tornam evidente o conhecimento prévio do governo norte-americano, já nos anos 1960, da repressão violenta no Brasil durante a ditadura militar.
O texto do jornal foi assinado pela jornalista e historiadora Juliana Sayuri. Ela ouviu o professor da UEM segundo o qual “um documento pode não ser falso, mas pode conter informações inconsistentes, incompletas, parciais. Tudo deve ser aferido por quem pretende utilizar a fonte”, diz.
Organizador do livro “Relações Brasil – Estados Unidos”, lançado pela Editora da UEM (Eduem), em 2011, Munhoz disse à jornalista considerar dois tipos de ineditismo no trabalho histórico, que são a descoberta de um documento sigiloso, inteiramente inacessível até então, ou uma perspectiva nova sobre arquivos já abertos e conhecidos.
A Folha de S. Paulo revela, ainda, que além de veteranos como James Green, Munhoz e Patto, "jovens historiadores defendem a divulgação de mais documentos como ferramenta para pensar práticas autoritárias do passado e do presente".
A jornalista menciona o fato de que na internet "é possível fazer pesquisas no projeto “Memórias Reveladas” e no fundo Dops-MG, além de consultar o citado “Opening the Archives” e o “National Security Archives”, este último uma entidade acadêmica que reúne documentos americanos e os disponibiliza na web".
“Digo que temos porões digitais. É preciso ter formatos e sistemas de indexação que possibilitem a pesquisa, senão os documentos ficam perdidos”, afirma Munhoz, que digitalizou microfilmes do Departamento de Estado dos EUA dos períodos 1908-39 e 1945-63, disponíveis na UEM.
Em 2015, a presidente Dilma Rousseff elogiou em seu facebook o projeto Opening Archives. Na ocasião, ela escreveu que “na forma de milhares de documentos descobertos nos dois países, comprovou-se o quanto o governo norte-americano foi responsável pelas atrocidades cometidas durante a repressão militar no Brasil".
Rousseff também declarou que "em uma excelente parceria da universidade Brown, de Providence (Rhode Island), com a Universidade Estadual de Maringá, os documentos do Departamento de Estado dos EUA sobre o Brasil, produzidos entre 1963-1973, foram digitalizados e disponibilizados em um site de acesso livre”.
A equipe do Opening Archives digitalizou inúmeros documentos que estão sendo catalogados e disponibilizados na internet. O trabalho contribuiu com as pesquisas da Comissão Nacional da Verdade.
Bibliotecas do mundo
Cabe ressaltar que o livro “Relações Brasil – Estados Unidos” também foi lançado pela Editora da UEM em inglês, em 2013. Exemplares desta edição estão espalhados em diversas bibliotecas universitárias e comerciais do mundo.
A título de exemplo, a obra pode ser encontrada em mais de 50 bibliotecas das principais universidades norte-americanas, incluindo a Brow University e Harvard.
O livro também está nas prateleiras de mais de 70 bibliotecas de instituições universitárias dos Emirados Árabes, Turquia, Twain, Cingapura, Austrália, Inglaterra, França, entre outras nações.