Pesquisa internacional mostra que planta tem significativa atividade contra bactéria causadora da doença
Pesquisadores das universidades estaduais de Maringá (UEM) e Ponta Grossa (UEPG) publicaram, recentemente, um artigo científico internacional no qual identificaram 49 compostos presentes no alecrim-do-campo, dos quais 23 são descritos pela primeira vez. A mistura de dois deles, isolados das flores, apresentou uma atividade significativa contra a bactéria que causa a tuberculose. É o primeiro relato de atividade antimicobacteriana para esse tipo de substância.
De acordo com Debora Cristina Baldoqui, uma das autoras da pesquisa, coordenadora-adjunta da graduação em Química e professora do Departamento de Química (DQI) da UEM, a ação contra a bactéria da tuberculose foi verificada no alecrim-do-campo na classe de produtos naturais conhecida como lactonas sesquiterpênicas. São “compostos que possuem uma variedade de atividades biológicas”, diz a docente. Como exemplo, existe a artemisinina, usada no tratamento da malária.
O grupo não chegou a desenvolver um composto que possa vir a ser usado no tratamento da tuberculose, mas a pesquisa é relevante por demonstrar potencial antimicobacteriano para a Mycobacterium tuberculosis e, consequentemente, abrir grande espaço para que futuros estudos complementares consigam chegar a um protótipo de medicamento para essa doença. O artigo The chemistry of Vernonanthura nudiflora (Less.) H. Rob. flowers and its antimicrobial activities (A química das flores de Vernonanthura nudiflora e suas atividades antimicrobianas, em tradução livre) está publicado em inglês na revista Natural Product Research.
Região analisada
As plantas de alecrim-do-campo analisadas foram coletadas nos Campos Gerais, região que tem Ponta Grossa-PR como a maior cidade. “Além da importância de conhecer a química e o potencial biológico de espécies da família Asteraceae, o que nos motiva a estudar espécies encontradas nos Campos Gerais são as recentes propostas de redução destas áreas de preservação”, destaca Baldoqui. De acordo com a pesquisadora, até 1990 a região era a área mais conservada do Paraná, junto à Serra do Mar, mas dados de 2007 mostram que os remanescentes campestres dos Campos Gerais eram de menos de 10% da distribuição original. “Essa crescente diminuição das áreas de preservação pode levar à extinção de uma grande extensão da biodiversidade, e junto pode-se perder grande parte das moléculas que poderiam ser utilizadas para o desenvolvimento de novos fármacos”.
Pesquisadores
São autores: pela UEM, além de Baldoqui – as professoras Regiane Bertin de Lima Scodro, Vera Lucia Dias Siqueira e Erika Seki Kioshima Cotica, do Departamento de Análises Clínicas e Biomedicina (DAB), e Maria Helena Sarragiotto, do DQI; o doutorando em Química, Anderson Valdiney Gomes Ramos; a formada em Bioquímica, Nathália de Sá; a mestra em Química, Débora Larissa Oliveira Araújo; a doutora em Química, Márcia Regina Pereira Cabral; a mestra em Ciências da Saúde, Giovana Ferreira Costacurta; as mestras em Biociências e Fisiopatologia, Beatriz Cardoso de Freitas e Lenisa Vieira Vilegas. Pela UEPG, Marta Regina Barrotto do Carmo, professora do Departamento de Biologia Geral.