Imprimir

UEM adota cotas sociais a partir do vestibular-2009

Foram quatro anos de discussão até a universidade oficializar a implantação das chamadas cotas sociais, que terão 20% das vagas reservadas a candidatos oriundos do ensino público

 

Depois de quase quatro anos de debates sobre a democratização do acesso à instituição, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Estadual de Maringá (CEP/UEM) aprovou, na tarde de quarta-feira, a regulamentação do Sistema de Cotas Sociais, que passa a valer para os vestibulares de 2009 com ingresso dos aprovados em 2010.

"A reunião foi apenas formal para definir os critérios do sistema; a opção pelas cotas sociais já havia sido feita no ano passado", afirma o reitor da UEM, Décio Sperandio.

Aprovado por 48 votos a favor, 9 abstenções e um voto contrário, o texto, que teve como relator o professor do Departamento de Química Eduardo Radovanovic, prevê a reserva de 20% das vagas dos cursos de graduação para candidatos classificados no concurso vestibular que tenham cursado o ensino fundamental e médio em estabelecimentos públicos e gratuitos.

Além disso, a renda per capita da família do vestibulando deve ser de até 1,5 salário mínimo (R$ 622,50), tendo com referência o piso nacional. O outro critério fundamental é que o candidato a uma vaga na UEM pelo sistema de cotas não seja graduado por qualquer instituição de ensino superior.

Segundo o relator, a resolução aprovada prevê que o candidato faça a opção pelas cotas no momento da inscrição para o concurso. A classificação geral do vestibular vai gerar uma lista única, com 80% formada pelos melhores colocados e os 20% restantes com os inscritos pelas cotas.

"Pode ocorrer que um dos candidatos cotistas se classifique entre os 80%; nesse caso ele não se beneficia do novo sistema de ingresso. Por isso, acreditamos que em alguns cursos os alunos cotistas ultrapassarão o limite de 20%", explica Radovanovic.

Os critérios previstos na resolução que regulamenta o novo sistema de ingresso na UEM deverão ser comprovados pelos alunos no momento da matrícula. O documento também determina a criação de comissão de acompanhamento do novo sistema, que deverá submeter os resultados para apreciação pelo CEP, a quem caberá propor mudanças, se necessário.

O professor do Departamento de Física e conselheiro da Câmara de Graduação Luciano Gonsalves Costa, que acompanha a discussão desde o início, lembra que a sexta edição do encontro "O Negro na Universidade", em 2004, deflagrou os debates que tinham por objetivo a implantação de cotas raciais no concurso vestibular da instituição.

Em 9 de maio de 2007, as cotas raciais foram vencidas pelas sociais, que priorizam o perfil sócio-econômico do candidato ao terceiro grau, e não a raça à qual ele pertence. Dos 80 membros que compõem o CEP (sendo 15 acadêmicos da instituição e dois representantes da comunidade externa), 60 deles aprovaram a matéria por 42 votos a favor, 17 contra e uma abstenção. Em seguida, foi colocada em votação a modalidade de cota a ser regulamentada na UEM.

Foram contrapostos os pareceres da Câmara de Graduação, que sugeria cotas sociais, e a proposta da conselheira Marivânia Conceição Araújo, que pedia que fosse retirado o termo sociais. A proposta da Câmara foi aprovada por 48 votos, contra seis dados à sugestão da professora Marivânia e quatro abstenções.

No final daquele mês, a reitoria publicou a portaria 635, que definiu os cinco membros da comissão que deveria propor os mecanismos de aplicação do sistema de cotas sociais na instituição. Dois deles fazem parte do próprio CEP (Jair Boeira, do Departamento de Engenharia Civil, e Marivânia Conceição Araújo, do Departamento de Ciências Sociais), um integra o Conselho Universitário (Celene Tonella, do Departamento de Ciências Sociais), um é da reitoria (Bernadete Terezinha Rizzo Rocha Loures) e um do Programa de Apoio à Excepcionalidade (Maria de Lourdes Perioto Guhur).

"A instituição, que tem experiência de reserva de vagas na pós-graduação, deu um passo importante para democratizar o acesso à graduação", avalia o conselheiro Luciano Costa.

Segundo ele, alunos estrangeiros têm vagas garantidas nos mestrados dos cursos de Enfermagem (uma), Economia (uma) e Zootecnia (duas), além de outras duas vagas no curso de doutorado em Zootecnia.


Números

► 300 páginas tem o processo do CEP que discutiu a adoação do sistema de cotas na UEM;

► 1.500 é o número de vagas, em média, disponibilizado pela UEM em cada vestibular.