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Maringaenses também sofreram com o AI-5

Cidades  |  História  | Atualizado Sexta-feira, 12/12/2008 às 20h42

 

 
 

 

 

Maringá sentiu na pele conseqüências do AI-5. O deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Renato Celidônio, o primeiro eleito pela cidade, teve o mandato cassado pelo regime militar. Líder dos cafeicultores desde a década de 1950, Celidônio foi eleito pela primeira vez em 1962, pelo PTB. Em 1966, quando o Brasil vivia as conseqüências do golpe de 1964, o deputado foi reeleito, desta vez pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). O governo federal em plena ditadura tinha extinguido os partidos políticos, criando a Arena (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB, que abrigava também os dissidentes do PTB.

“Os Atos Institucionais enquadravam líderes de oposição ao governo, muitos perderam os direitos políticos”, comenta Reginaldo Dias, professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá (UEM) . Dias destaca que os AIs serviram a diversos objetivos do regime militar, como o AI-1, que “limpou” a oposição. “Mesmo assim, foram preservadas as legendas políticas”, destaca. O AI-2, porém, extinguiu os partidos políticos e criou a Arena e o MDB. “Mas o espaço de atuação era muito restrito”, diz o professor de História. Com a criação do AI-5, o deputado maringaense foi cassado, em fevereiro de 1969. “Na época, ele estava no auge de sua carreira política, mas nunca mais se candidatou”, aponta Dias. Em 1968, antes de sua cassação, Celidônio foi um grande estrategista na vitória de Adriano Valente para a prefeitura de Maringá.

Na avaliação de Dias, o AI-5 foi o pior dos atos do governo militar. “No campo da oposição, as atividades políticas foram castradas”, observa o professor, destacando que foram praticamente anulados os direitos ao habeas corpus, principalmente para políticos, além do fechamento do Congresso Nacional.


Na cidade

Reginaldo Dias, que é autor de diversos livros que abordam as lutas políticas do período no Paraná e, particularmente em Maringá, faz um breve apanhado dos acontecimentos na cidade por conta do regime militar. Entre os meses de agosto e outubro de 1968, houve a mobilização dos bancários e trabalhadores nas indústrias de alimentação.

Ainda em outubro, aconteceu também uma grande manifestação estudantil; professores protagonizaram o Movimento Paredista. Um congresso promovido pela União Nacional dos Estudantes tem participação maciça de estudantes maringaenses. “O AI-5 acaba com a luta política e social, combate o que era considerado pelo regime militar como subversão e os que se proclamavam revolucionários”, comenta Dias.

Quando começou a abertura política, em meados da década de 1980, a população começa a buscar outras formas de organização social. “O povo quer ser o sujeito de sua própria história. A concepção de democracia se amplia e culmina na Constituição Nacional de 1988, que consagra o princípio de que o poder emana do povo e com o povo será exercido. É a questão da democracia participativa e ativa”, afirma. Para Dias, até hoje há reflexos da ditadura militar no Brasil. “Como seria o País se não houvesse o período de castração política?”, pergunta.


Indenizações

O advogado Wilson Quinteiro, de Maringá, representa diversos ex-presos políticos de Maringá. Ele conta que, até meados da década de 1990, as vítimas do regime militar acreditavam que não tinham direito a indenizações para reparo de danos morais e materiais. “Os governos militares usavam o poder do Estado para perseguir e até matar pessoas que se posicionavam contra o regime”, diz ele, fazendo referência aos estudos sobre os governos brasileiros na época da ditadura, no período em que cursava Direito na UEM. Na avaliação do advogado, o estado brasileiro tem a obrigação de reparar os danos que causou a essas pessoas. Ele lembra um decreto do governador Requião, em 1991, durante seu primeiro mandato, que obriga à transferência de documentos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) para o arquivo público do Paraná. “Até então, as pessoas tinham cinco anos para ingressar com ações contra a Fazenda Pública. Defendi a tese de que esse tempo deveria começar a contar a partir do momento em que os documentos se tornassem públicos, ou seja, a partir de 1991. As pessoas não tinham acesso aos documentos do Dops”, explica ele, destacando que defendeu uma nova tese contra a prescrição dos direitos do ex-presos políticos.

O advogado diz que mesmo com a aprovação da Lei da Anistia e a anulação do AI-5, em 1979, a perseguição política continuou até meados da década de 1980. “Desde 1964 até 1985, o Brasil teve governos militares”, destaca.