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Espécies nativas dão espaço às do campo


 
Rafael Silva

Sabiá comendo semente, no Parque do Ingá; espécie é alvo da ação de contrabandistas que invadem a reserva

 

Em 1998, o estudo sobre aves encontradas no campus da Universidade Estadual de Maringá (UEM) feito pela bióloga Marilise Krüger apontou a presença de 78 espécies. Dez anos depois, nova pesquisa mostrou que há 74 delas, sendo que 56 são comuns aos dois trabalhos, 18 foram registradas pela primeira vez e 22 apareceram somente há 10 anos. Os dados fazem parte do levantamento realizado pela bióloga Juliana Strider Philippsen, que pretende dedicar a vida profissional à ecologia de aves. O estudo de Juliana, que durou um ano, teve por base o número de meses em que a espécie foi registrada, chamada freqüência de ocorrência. “Em dez anos, algumas duplicaram”, diz a bióloga. Entre elas, o pica-pau-verde-barrado, o “pombão” ou asa-branca e o picapauzinho verde-carijó. O beija-flor tesoura, outra espécie que aparece com destaque no trabalho teve 92% de freqüência de ocorrência. Em 1998, ela foi registrada apenas no Parque do Ingá, distante cerca de três quilômetros do câmpus.

Na outra ponta, o quiriquiri e o pica-pau-do-campo, presentes em maior número e por mais vezes no levantamento realizado há dez anos apareceram com menor freqüência no estudo de Juliana. “O aumento da área construída e a redução da área campestre podem ser os responsáveis por este resultado”, diz a bióloga.

O biólogo Cláudio Zawadzki, professor da UEM, explica que a substituição das espécies nativas da mata por espécies do campo, a exemplo do que o estudo de Juliana demonstrou, pode ser ampliado par a zona urbana. “Não temos nenhuma pesquisa de longo prazo sobre a presença de espécies na cidade, mas tudo indica que as nativas estão diminuindo”, diz ele. As generalistas – ou do campo -, que se alimentam de insetos e frutos parecem ser as espécies que predominam.

Zawadzki aponta a destruição dos habitats naturais como o principal motivo da substituição de espécies. “À exceção dos três bosques, não há áreas verdes na cidade”, diz o professor, para quem a arborização da cidade também contribui. As sementes de aroeira, por exemplo, árvore bastante comum em ruas da zona sul, servem de alimento a 30 diferentes espécies de pássaros. As do oiti, ao contrário, são pouco nutritivas. “Os loteadores devem lembrar disso no momento de planejar os novos bairros”, orienta o biólogo.


Contrabando de sabiás

Em 1994, o plano de manejo do Parque do Ingá identificou 55 espécies de aves no interior da reserva. Na atual revisão do estudo, publicado em setembro do ano passado, apenas 34 espécies foram registradas. Algumas delas, a exemplo do sabiá-laranjeira e do trinca-ferro, encontradas no remanescente do parque, despertam grande interesse econômico, o que aumenta a necessidade de fiscalização.

A bióloga Anna Christina Faria Soares, gerente do parque, informa que a atenção foi redobrada a partir de setembro e vai se estender até março do ano que vem, em razão do período de reprodução dos sabiás. Valiosa pela beleza do canto e com ninhos espalhados por toda a área do parque, a espécie é presa fácil de ágeis “passarinheiros” que sobem nas árvores, recolhem os pássaros e os escondem dentro de bolsas, sacolas ou nos bolsos da roupa.

“Pedimos aos freqüentadores do parque que fiquem atentos e comuniquem sinais suspeitos aos funcionários, para evitar furtos”, diz a bióloga. Depois de chocados por 13 dias, entre três e quatro filhotes nascem a cada ninhada.