Imprimir

Motoboys: regulamentar é a saída, diz estudo

Pesquisa da UEM e UEL mostra que só o amparo da lei pode melhorar condições de trabalho e diminuir riscos da profissão que comerciantes consideram ‘indispensável’


 
Rafael Silva

Motociclistas no trânsito em Maringá: falta de regulamentação traz informalidade, que favorece acidentes


Uma pesquisa realizadas pelas universidades estaduais de Maringá e Londrina aponta a importância da regulamentação da profissão de motoboy nos dois municípios, devido à precariedade das condições de trabalho.

A falta de regulamentação, segundo o estudo, contribui para a informalidade das relações de trabalho e pode favorecer a ocorrência de acidentes, colocando em risco a vida desses trabalhadores.

Em Maringá, somente a atividade de motoentrega tem legislação municipal; a profissão não. Segundo a professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Dorotéia Pelissari Soares, coordenadora do estudo em Maringá, a regulamentação da profissão daria aos motoboys todos os direitos trabalhistas: carteira assinada, férias e 13º salário, além de cursos de capacitação e melhores condições de trabalho. “Essas medidas contribuiriam para reduzir o risco de acidentes”, diz Dorotéia.

Para a pesquisa, foram entrevistados 500 motoboys em Maringá. Eles responderam a um questionário que abordava os seguinte tópicos: tempo de experiência como condutor de motocicleta, idade, escolaridade, remuneração, horas trabalhadas por dia, uso de celular em trânsito e adoção de altas velocidades no perímetro urbano.

O resultado mostrou que existe predomínio de homens na profissão e que a média de idade dos trabalhadores é de 29 anos.

Investigando as condições de trabalho e as situações de risco vivenciadas pelos motoboys, dos 500 entrevistados, 238 (47,7%) disseram não receber salário fixo no fim do mês.

O serviço é remunerado conforme a produtividade/quantidade de entregas feitas, o que, segundo Dorotéia, leva a jornadas de trabalho superiores a dez horas diárias.

“Com isso, eles adotam comportamento de risco no trânsito porque precisam fazer as entregas rapidamente para receber mais.” Trinta e quatro porcento dos motoboys afirmaram trabalhar mais de dez horas por dia.


Pizza e remédio

O nível de escolaridade dos entrevistados foi considerado satisfatório pela coordenadora da pesquisa: 82,9% freqüentaram a escola por mais de oito anos. A maioria dos motoboys (28,4%)atua em restaurantes, lanchonetes e pizzarias.

Farmácias (24,4%) e empresas de entregas (26%) seguem como as principais áreas de atuação desses trabalhadores. A coleta de dados foi feita por profissionais e estudantes de nível superior, de junho a dezembro de 2006.

A pizzaria do empresário Adilson Gianini é um dos estabelecimentos que utilizam os serviços de motoentrega. “Os motoboys prestam um serviço muito útil para a gente”, diz o proprietário.

Segundo ele, as entregas feitas com a motocicleta vão ao encontro das exigências dos clientes, que querem rapidez e pizza quentinha em casa. “Não teria como fazer as entregas de carro porque é muito demorado, com a moto é bem mais rápido”, compara Gianini, que é a favor da regulamentação da profissão de motoboy. “A pessoa que está na informalidade não tem direitos trabalhistas.”

O empresário Edenilson Lopes é outro adepto dos serviços dos motoboys. Na distribuidora de lubrificantes automotivos, localizada na Vila Operária, há dois anos Lopes contratou um funcionário para fazer as entregas de moto.

“Optei pela moto porque a agilidade e a economia me chamaram a atenção”, justifica. “Se tivesse optado por um carro, as despesas seriam maiores.” A reportagem procurou o Ministério do Trabalho em Maringá para comentar o assunto na sexta-feira, mas os funcionários estavam em recesso.