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Pesquisa revela que Maringá tem 35% de descendentes de italianos

Acim e UEM constataram que 35,2% dos maringaenses são de famílias que tiveram origem no país de Sophia Loren; na seqüência aparecem os portugueses e os espanhóis


 
Arquivo Pessoal
 
Paola Sbardellati: a tradição da terra natal é mantida no laço familiar


O sotaque dos maringaenses pouco tem em comum com o dos italianos, mas o mesmo não pode ser dito quanto à árvore genealógica.

Segundo pesquisa realizada pela Associação Comercial e Empresarial de Maringá (Acim) e pelo Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), mais de um terço da população local tem descendência italiana.

Entre os 540 entrevistados, 35,2% alegaram fazer parte de famílias que, antes de desembarcar no Brasil, viveram no país europeu.

Além da Itália, o município têm descendentes de outros países europeus e, também, do outro lado do mundo. São 13,3% de descendentes de portugueses, 7,6% de espanhóis, 4,4% de japoneses e 3% de alemães.

José Fábio Bertonha, professor e doutor em História, explica que a maior parte dos europeus e asiáticos que vieram para o Sul foi porque ganhou terras na região, na primeira metade do século 20.

Como até então muitos trabalhavam em lavouras de café no Sudeste do País, a oportunidade foi acatada prontamente.

A pesquisa aponta que 48,5% dos entrevistados são de famílias que não tiveram casamentos com pessoas de outras raças ou culturas.

Não que tenha sido algo pré-determinado em todos os casos, mas, como havia muitos descendentes, não foi difícil manter as origens. A outra metade das pessoas mostra enlaces entre europeus e brasileiros.

Ao todo, 20,5% dos entrevistados relataram matrimônios com italianos, 7% com portugueses, 5,8% com espanhóis e 1,8% com alemães.

A miscigenação deu à região uma característica física peculiar a muitos habitantes, com biotipo com traços europeus e diferenças consideráveis nesse aspecto com outras regiões do Brasil.

Em algumas famílias, não é só a aparência física que traz a herança européia. Na residência do casal de italianos Paola e Enzo Sbardellati, busca-se manter as tradições da terra natal.

Os três filhos deles compreendem a língua italiana e os netos chamam os avós da forma tradicional: nono e nona. E a culinária predominante é à base de massa.

“Na comunicação e na culinária conseguimos manter os hábitos”, conta Paola, orgulhosa. Um fato curioso é que, quando Paola e Enzo se casaram, um oceano estava entre eles.

Ela morava na Itália e ele, no Brasil. Todo o trâmite se deu por meio de uma procuração. Um casamento bastante incomum ainda nos dias de hoje.

Em Maringá, Paola não vê a Itália em lugar algum, a não em alguns restaurantes e pizzarias tradicionais. “A cidade conquistou identidade própria”, diz ela, que administra uma fábrica de móveis.

A opinião é compartilhada pela italiana Gisella Porcu, responsável pelas entidades Circolo Italiano e Circolo Sardo de Maringá, que buscam estreitar o contato entre italianos de qualquer região e os que vieram da Sardenha.

“As culturas se diluíram, porque, com o passar das gerações, os costumes originais foram ficando para trás.”

A mudança não desagrada totalmente, mas há um ponto que deixa Paola decepcionada. “Muitos pessoas querem dar nomes italianos às próprias lojas e escrevem errado.”

Gisella veio para Maringá no início da década de 60. Entre italianos e descendentes que viviam aqui, ela conta que muitos abriram restaurantes ou hotéis. Com a família Porcu não foi diferent e. Os representantes começaram no ramo hoteleiro e, hoje, o clã está representado em muitas profissões.

“São advogados, dentistas, engenheiros, físicos, fonoaudiólogos, pediatras, psicólogos, a maioria trabalhando em Maringá e região”, enumera, cheia de si, mostrando como há traços da cultura – e da família Porcu - onde quer que se vá.