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Maringá e região têm cerca de 3 mil estrangeiros em situação legal, diz PF

Segundo a Polícia Federal, maioria vem para estudar com planos para retornar a seus países de origem

 

“Eu achava que no Brasil só tinha praia. Estranhei quando cheguei aqui”. A definição do estudante do quarto ano de Direito da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Ronelson Furtado, resume a fama do Brasil no exterior. Natural de Guiné Bissau, África, ele avalia o Brasil como um país maravilhoso e com um povo receptivo.

O estudante é um dos cerca de três mil estrangeiros que residem em Maringá e outros 84 municípios da região, segundo dados da Polícia Federal (PF). São africanos, colombianos, bolivianos, peruanos que começaram a chegar nos últimos anos à região. Eles se somam a outros estrangeiros já tradicionais na cidade, como os japoneses, italianos, portugueses e libaneses.

Atualmente, a maioria vem para estudar e com planos de retornar ao país de origem para exercer a profissão. “Para estudar, não tem lugar melhor que Maringá”, diz Furtado, elogiando a UEM. O gosto pelo Brasil o faz hesitar quando se fala na volta ao seu país. “Não sei se volto, talvez sim”, diz.

Com a diversidade de estrangeiros na cidade, o maringaense aos poucos aprende a conviver com culturas e hábitos diferentes. As faculdades da cidade recebem os estrangeiros para os mais variados cursos, através de convênio com os governos dos países de origem ou por iniciativa própria dos estudantes.

‘Muito óleo’
Os estudantes procuram morar em repúblicas que concentram integrantes do mesmo país, pessoas que falam a mesma língua. Os estudantes de Guiné Bissau, por exemplo, residem em apartamentos no Centro. O objetivo é ter como vizinho, de preferência, uma pessoa da mesma pátria. Em suas casas, eles recebem amigos que estudam em outras cidades.

Esse é o caso de Rosalino Franciso Sanka, de Guiné Bissau, estudante de Engenharia Civil em Campo Grande (MS) que passa as férias em Maringá. “Estou aqui desde o dia 31 de dezembro”, diz. Ele conta que, quando chegou da África, há um ano, estranhou bastante. “A comida é muito diferente, vocês utilizam muito óleo. Nós quase não usamos óleo, comemos muito marisco e peixes, é uma comida mais natural”, diz o universitário.

Na avaliação do estudante de engenharia africano, o brasileiro é tímido e introvertido. “É difícil fazer amizade, mesmo na faculdade. Sempre temos que tomar a iniciativa”, diz Sanka. O clima, observa ele, também é diferente. “Aqui, é mais quente no verão e faz muito frio no inverno. No meu país, o clima é mais constante, a temperatura fica entre 30ºC e 35ºC”, compara.

O estudante de administração de empresas, Edyson Moura, também de Guiné Bissau, acha igualmente que, no aspecto social, o brasileiro é “fechado”. “São diferentes da gente, há mais superficialidade”, acredita.

Há três anos no Brasil, Moura diz que vai voltar para sua terra natal. “Vou voltar para dar minha contribuição ao meu país”, promete. Moura estuda através de um convênio com o governo da Africa. Diferentemente dos amigos, ele diz que não estranhou muito a culinária brasileira.

Violência
Juelma Gomes, estudante de Comunicação Social, há dez meses no Brasil, diz que teme a violência. “Em Guiné Bissau é muito mais calmo”, afirma ela, enquanto faz tranças no cabelo do amigo Romualdo Adolfo, estudante de Administração de Empresas e também guineense. Romualdo não compartilha da opinião da amiga e conterrânea. “Acho esta cidade [Maringá] muito calma, não tem muita violência”, analisa.

O apartamento, com móveis simples e objetos que remetem aos costumes africanos, conta com seis estudantes de Guiné Bissau. Em uma mesa, alguns estudantes se revezam na utilização de um notebook. Eles procuram se comunicar com parentes e amigos da terra natal. Em outro prédio, a alguns metros de distância, há outra república de estudantes estrangeiros, vindos de países africanos.

Vanda Munhoz