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Brasil joga fora 64% dos alimentos que produz

Perdas de alimentos vão desde o cultivo à cozinha da população; a Agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura prevê riscos de queda de produção com a crise

Se a produção agrícola brasileira fosse de dez espigas de milho, apenas quatro seriam efetivamente consumidas pela população. O restante acabaria jogado pelo caminho ou no cesto de lixo da cozinha. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que o Brasil desperdiça 64% de tudo o que produz nas lavouras.

Os alimentos são jogados fora aos poucos, desde a colheita, ao longo de todo processo industrial, até os restos deixados nos pratos e jogados na lixeira pelo consumidor final. Cerca de 20% dos alimentos comprados nos supermercados são jogados fora porque perdem a validade.

Para a economista Amália Maria Goldberg Godoy, doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento e professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), a maior parte do desperdício concentra-se nas etapas anteriores ao consumo. “Não se deve penalizar apenas o consumidor, que apesar de ter uma cultura de desperdício, contribui menos com a geração de resíduos do que a indústria”, explica Amália.

O desperdício se mostrou mais preocupante com a crise financeira, que é vista como uma ameaça para a produção mundial de alimentos. Na semana passada, o diretor-geral da Agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Jacques Diouf, disse que “Não tem sentido em se manter o preço dos fertilizantes tão altos, se já não temos mais o preço do barril do petróleo tão alto como o praticado no ano passado. É curioso que o preço dos insumos aumente”.

 

Conscientização

Para a economista da UEM o desperdício nas lavouras e nas indústrias já foi reduzido com o advento de novas tecnologias. O que falta é o treinamento de pessoal. “As máquinas avançaram, mas elas não fazem tudo. É preciso treinar melhor as pessoas que lidam com o alimento, desde a colheita até o consumo”, ressalta Amália.

Ela defende que conscientizar o consumidor é essencial para garantir uma produção mais responsável e a transformação da cultura do desperdício, que faz parte das economias de apelo mais consumista. “Apesar de contribuir com uma porcentagem menor na cadeia do desperdício, o consumidor é uma peça fundamental, porque sem ele, toda a cadeia de produção deixaria de existir”, acrescenta.

Outro risco apontado por Amália é uma crise ambiental, por conta da pressão para se produzir os alimentos. “Em momentos de crise, cada país se volta para questões internas e deixa o ambiente para depois”, diz.

 

Vinícius Carvalho