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É difícil parar, não impossível

Medicamentos e terapia em grupo ajudam pessoas a largar o tabaco, tarefa que não é nada fácil. Em Maringá, número de inscritos em programas antitabagistas cresce

 

O jardineiro Marivaldo Rício, 67 anos, fumava até fevereiro deste ano quatro maços de Free por dia, uma média de um cigarro a cada 5 minutos – descontando as 8 horas de sono. Abandonou o vício e já perdeu o amarelado dos dedos, depois de um susto durante uma consulta médica no posto de saúde do Jardim Iguaçu (zona sul de Maringá). O médico olhou para as ‘chapas’ e deu uma notícia boa e outra ruim. A boa era que um pulmão estava normal. A ruim é que o outro estava quase condenado.

Quando saiu do consultório, Marivaldo ainda carregava dois maços no bolso. Um fechado e outro pela metade, que foram oferecidos para o primeiro cidadão que ele encontrou na calçada. “O cara me olhou desconfiado. Só aceitou os maços depois que expliquei o que tinha acabado de ouvir do doutor”. Desde então, economia de R$ 12,80 por dia e mais saúde.

Hoje, o jardineiro está inscrito no grupo de tratamento para fumantes, organizado pelo posto de saúde, a exemplo do que acontece em outros 20 postos espalhados em bairros da cidade e na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Neste mês, a unidade do Jardim Iguaçu registrou o recorde de 33 inscritos no programa, superando a maior marca anterior, de 20 pacientes.

O segredo para deixar o cigarro, o grupo aprende já na primeira das quatro reuniões semanais: força de vontade. A médica Joceli Virmond, coordenadora do grupo de tratamento, diz que a média é de 30% de abandono do tabagismo entre os participantes das reuniões, que seguem um padrão estabelecido pelo Ministério da Saúde. “Os pacientes sofrem com a fissura de fumar, que dura cerca de 5 minutos. A ansiedade é o maior obstáculo”, conta.

Durante as reuniões, que misturam trabalho e motivação, troca de experiências e meditação, cada paciente recebe como medicação adesivos de nicotina e um antidepressivo de tarja vermelha (bupropiona). Os remédios são fornecidos pelo governo federal.
O programa para o tratamento de fumantes nos postos de saúde de Maringá começou em 2004. Na UEM, o primeiro grupo, que segue os mesmos moldes, surgiu em 2005.Todos são gratuitos.

Peso
Além do tratamento comum, algumas unidades de saúde dispõem de serviços especiais, conforme a disponibilidade de funcionários. No Jardim Iguaçu, quem faz o curso e se livra do vício ganha uma limpeza dental, para amenizar as manchas deixadas pelo cigarro. Na UEM, a partir da próxima turma de inscritos, que será aberta neste mês, uma nutricionista vai acompanhar individualmente a dieta dos pacientes para evitar o pesadelo de muitos ex-fumantes: engordar.

O ganho de peso, de acordo com o coordenador do Projeto Tabagismo da UEM, Celso Conegero, tem duas explicações: ansiedade convertida em ataques à geladeira e alterações no metabolismo. “Tem gente que engorda comendo o mesmo que antes, após largar do cigarro”, diz. Daí o acompanhamento da nutricionista. No decorrer do tratamento, os pacientes são orientados a buscar atividades físicas, lerem ou telefonarem para os amigos toda vez que a vontade de fumar parecer insuportável. “Cada um vai encontrar para uma melhor forma de suportar. Para parar de fumar não existe uma receita padrão”, conta Conegero, que além de coordenar o tratamento de fumantes é doutor em Ciências Biológicas e professor de anatomia na UEM.

Vontade
Desejo de largar o cigarro, os fumantes têm. Um levantamento feito pela UEM no ano passado, em Iguatemi, mostra que os fumantes correspondem a 10% da população do distrito de Maringá. E 82% deles gostariam de largar do vício. A pesquisa, coordenada pelo professor Conegero, mostra também que 62% dos fumantes do distrito já tentaram largar do cigarro. A vitória, diz o pesquisador, depende mais da determinação do fumante do que de qualquer agente externo. “É a força de vontade que faz largar o vício. O medicamento é coadjuvante no processo. O paciente que busca tratamento depositando a fé no medicamento não vai ter sucesso”, garante.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), órgão do Ministério da Saúde, 18% da população brasileira, com mais de 15 anos, fuma. Mas o cigarro está em baixa. Esse porcentual, diz o Inca, é 40% menor que há 20 anos.

 

Fábio Linjardi