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Criação coletiva é tema de curso

Música não é só entretenimento. Além de acalantar ouvidos, é também um meio poderoso de integração social. Esta faceta foi o tema de um curso realizado semana passada pelo inglês Robert Wells, na Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Baseado em um estudo desenvolvido nos últimos 25 anos pela Guinthall School Of Music and Dance, em Londres, onde trabalha, ele apresentou uma metodologia que permite a criação de uma peça musical por pessoas que não precisam ter conhecimento algum na área. O mais interessante é que o objetivo principal não é a criação, mas, sim, a união proporcionada pelo trabalho em equipe.

Além de Maringá, o professor passou, também, por Belo Horizonte e Brasília. Na UEM, o público predominante era de estudantes e professores do Departamento de Música - alguns já envolvidos com projetos sociais, como o “Música na Escola”, realizado pelo Centro de Promoção Humana, em Santa Fé, a 62 quilômetros de Maringá.

O professor explicou que o método pode ser aplicado em comunidades, em salas de aula e até em penitenciárias, como forma de aliviar as tensões sociais, geradas, principalmente, pelas diferenças culturais, étnicas e religiosas. “É vital para a sociedade que encontremos formas de integrar os grupos e, para mim, essa é uma das funções da música”, explicou.

O trabalho começa com a seleção de um grupo. Se ninguém domina instrumento algum, pode-se investir no canto. Com a orientação de um músico, as pessoas dão início à composição e é neste ponto que elas começam a conversar.

Geralmente, líderes surgem durante o processo, mas não no sentido ditatorial do termo. Eles aparecem como facilitadores das decisões, tomadas sempre pelo grupo, de forma democrática.

“Já realizei esse trabalho em uma prisão e foi difícil nos primeiros encontros, porque os detentos não se entendiam e xingavam uns aos outros”, lembrou. “Aos poucos, passaram a trabalhar juntos e a comunicação mudou no grupo.”

Outro ponto destacado pelo professor é o de valorização das preferências musicais dos participantes. Na criação, o grupo dá vazão ao que julga mais interessante e não precisa tocar composições com mais de dois séculos -”músicas que talvez não tenham a ver com eles.”

A chefe do Departamento de Música na UEM, Vania Malagutti Sialho, explica que, a partir de 2012, quando todas as instituições de ensino fundamental e médio tiverem de inserir a música no conteúdo programático, segundo lei federal sancionada ano passado, os conflitos em sala de aula poderão diminuir. “A música é um elemento aglutinador, que sensibiliza, disciplina e estimula o trabalho em grupo.”

 

Thiago Ramari