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Triplica o número de mães solteiras na região de Maringá

Dados do Ministério da Saúde (MS) mostram que, entre 2004 e 2006, triplicou o número de mães solteiras na região de Maringá. Segundo o levantamento, dos 6.540 nascidos registrados em 2006, em Maringá, Mandaguari, Marialva, Paiçandu e Sarandi, quase 42% eram filhos de mães solteiras.

O problema não é evidentemente, de ordem moral, mas sócio-econômico. O problema não é, evidentemente, de ordem moral, mas sócio-econômico: para efeito das estatísticas do MS, mães solteiras são aquelas que não contam com um companheiro para prover o lar/dividir as despesas, bem como compartilhar a educação do(s) filho(s). Mas o que é mais grave é que quase 40% destas novas mães tinham idade entre 10 e 19
anos à época da levantamento.

Os números do MS são reforçados por um estudo, realizado pela enfermeira do Hospital Universitário (HU), Gisele Ferreira da Silva, em parceria com a professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Sandra Marisa Pelloso, e publicado recentemente na revista da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), que mostra que 27,1% das parturientes atendidas no HU em 2006 eram adolescentes e que 68,4% não tinham companheiro.

São números frios, que estratificam um universo, mas não mostram a verdadeira face deste problema. Uma realidade muito conhecida de Lia (nome fictício), 17 anos, uma das muitas garotas, internas no Lar Preservação da Vida de Maringá.

Abandonada pela mãe aos 2 anos, Lia conta que foi morar com os avós. Aos 7 anos, foi estuprada pelo avô e desde então vive “pelo mundo”. Depois de fugir de casa várias vezes, para escapar do assédio do avô, a menina engravidou pela primeira vez aos 12 anos e perdeu a criança. Aos 14, teve um casal de gêmeos, que morreram um mês depois de nascerem. Aos 15, teve o primeiro filho, hoje com 2 anos e morando com parentes na região de Londrina, e agora esta grávida novamente. Quem são os pais de seus filhos, ela não sabe ou não quer revelar.

A mesma história
Quem trabalha na assistência a estas mulheres sabe esse é um tipo de história que se repete inexoravelmente. Na maioria dos casos os pais são usuários de drogas, que estão presos, desaparecidos ou não têm condições de constituir família.

As meninas, grávidas, acabam na rua e são recolhidas por entidades assistenciais. É exatamente a história contada por outra interna do Lar, Alani (também nome fictício), 15 anos, mãe de uma linda garotinha de um mês de vida. Brigada com a família, Alani conta que foi morar na rua, onde conheceu o pai de sua filha, um usuário de drogas. Grávida e sem ter onde ficar, foi encaminhada pelo Conselho Tutelar para o Lar, onde fica até o próximo mês.

E depois? “Depois, não sei ainda pra onde vou”, conta a menina, sorridente, apesar da situação difícil. “Não sei, porque não me dou com minha mãe, então pra lá é que não vou. E na casa do meu namorado também não dá. A mãe dele é alcoólatra e ele usuário de drogas. É ruim lá...” O Lar Preservação da Vida mantém hoje 13 meninas nessa situação, mas já atendeu 1.200 casos semelhantes desde sua fundação em 1987.

Contabiliza 774 crianças nascidas em suas dependências. Todos, filhos de mulheres, com idade entre 14 e 25 anos, em situação de risco. Ali, acompanhadas de médicos, psicólogos e assistentes sociais, as meninas ganham um abrigo onde moram durante o período de gestação Após o nascimento da criança, as gestantes só podem ficar mais dois meses na casa.

Depois, com o registro de nascimento nas mãos e um enxoval doado pela instituição, são obrigadas a procurar outro rumo, cedendo lugar para uma outra pessoa – com história semelhante.

Aos 10 anos
E os dados do Ministério da Saúde mostram que esta história vem se repetindo cada vez mais rápido. Apesar da pesquisa só estar atualizada até 2006, o crescimento é assustador.

Os números revelam que, entre 2004 e 2006, apenas nos cinco municípios citados no início dessa reportagem, o número de mães solteiras saltou de 996 para 2.709, exatamente o triplo. Nesse universo, segundo a pesquisa, em 2004, 17 crianças com idade entre 10 e 14 anos engravidaram. Dois anos depois, foram 39 meninas grávidas.

O estudo, realizado pelas pesquisadoras da UEM, centrado apenas no HU, reforça o perfil traçado pelo Ministério da Saúde. Segundo as pesquisadoras, 27,1% das parturientes que passaram pelo Hospital Universitário, em 2006, eram adolescentes.

A média é equivalente à da região de São Luiz do Maranhão, no Nordeste. Uma comparação incômoda para Maringá, famosa por sua pujança. A média do Estado do Paraná está na casa dos 20% de mães adolescentes por nascidos vivos.