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Fila para deixar de fumar

Um mês e meio pode ser o tempo necessário para transformar o uso da nicotina em passado. O auxílio é encontrado no "Projeto de Extensão de Tratamento e Acompanhamento aos Usuários de Tabaco de Maringá e região", criado em 2005 na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e oferecido gratuitamente para a população, com apoio do Ministério da Saúde e Secretarias Estadual e Municipal de Saúde.

Os bons resultados têm aumentado a procura e deixado cerca de 70 pessoas na lista de espera, segundo a psicóloga e coordenadora do grupo, Maria Lúcia Dantas.


Cada grupo é formado por 15 pessoas e os encontros são realizados duas vezes por semana, com duração de 1h30. A entrada se dá por ordem de inscrição e os interessados passam por triagens, sendo que em casos em que há comprometimento grave de saúde, o fumante é encaminhado ao grupo imediatamente.

Rafael Silva

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Quem fuma sabe que vencer o vício não é fácil, mas, quem parou, sabe que, com ajuda, tudo é possível

Na triagem são coletados dados pessoais, informações sobre o uso do tabaco e dados clínicos como a existência de doenças. A boa notícia é que, já após a triagem, mesmo sem participar do grupo, há pessoas que conseguem parar de fumar, pois recebem auxilio sobre posturas que, se adotadas, ajudam a excluir o vício.

O que mais motiva a procura pelo grupo é a preocupação com a saúde, sendo que a maioria já tentou parar de fumar antes de iniciar o tratamento.

"Normalmente, algum órgão está comprometido, ou são pessoas que convivem com crianças e se preocupam em não transformá-las em fumantes passivas", explica Maria, acrescentando que 50% dos interessados apresentam problemas como enfisema pulmonar, bronquite e pressão alta.

Maria diz que é comum que haja recaídas durante os encontros no grupo, mas que o participante nota que fuma uma quantidade muito maior de cigarros após recair e inicia novamente a luta contra a nicotina.

FIQUE ESPERTO


INSCRIÇÃO NO PROGRAMA

Deve ser feita no ambulatório
da UEM, no bloco 1, de
segunda à sexta-feira, das
7h30 às 17h30 e das 19 às
22 horas. O telefone é o
44 3011 4266.

MALES DO CIGARRO

De acordo com a
Organização Mundial da
Saúde, 11% de todas as
mortes no Brasil são
resultantes do uso do
tabaco, sendo que 72%
das mortes por câncer de

pulmão, traqueia e
brônquios se devem ao
cigarro. Cânceres de boca,
faringe, laringe, esôfago,
pâncreas, bexiga, útero,
enfarto, derrame,
enfisema pulmonar,
tuberculose, bronquite
crônica, envelhecimento
precoce, irritabilidade e
trombose também entram
na lista dos malefícios
causados pelo tabaco.

O trabalho do grupo se dá conforme preconiza o Instituto Nacional do Câncer (Inca), ou seja, é cognitivo-comportamental, o que, segundo Maria, consiste em reeducar o hábito dos fumantes. Os dependentes recebem dicas de respiração, técnicas de relaxamento, além de explicações sobre como a nicotina age no organismo "As pessoas também falam sobre sentimentos e o sofrimento causado pelo uso do cigarro", acrescenta.

No projeto, os participantes recebem auxílio de dois servidores administrativos, cinco estagiários, duas assistentes sociais, uma psicóloga, três médicos, dois farmacêuticos, uma nutricionista que dá direcionamento específico sobre a alimentação de quem está parando de fumar, além de uma enfermeira e um biólogo.

Em casos em que o fumante apresenta dificuldade de deixar o vício com o auxílio de outras técnicas, são prescritos medicamentos como ansiolíticos - remédios que bloqueiam a ansiedade - adesivos e pastilhas com nicotina, que são distribuídos gratuitamente.

Metade dos participantes precisam recorrer aos medicamentos, de acordo com a coordenadora do projeto, sendo que, em média, 60% dos fumantes conseguem abandonar o vício após a participação no grupo. "Algumas pessoas não conseguem parar de fumar e entram novamente no grupo", contou, acrescentando que há casos em que todos do grupo conseguem parar de fumar.

Por meio do projeto, são realizadas ainda palestras e simpósios cerca de três vezes por ano, na UEM e na comunidade, com o objetivo de estimular fumantes a participarem do projeto.

Conquista

Duas semanas foi o tempo necessário para que o agente de viagens Danilo Tonsic Serrano, 25, deixasse o cigarro após seis anos de vício. Serrano, que fumava 20 cigarros por dia, comemorou neste mês um ano sem nicotina e nenhuma recaída.

Ele conheceu o projeto da UEM por meio de indicação de pessoas que já haviam participado e se interessou depois de ter uma recaída após três meses sem fumar. A preocupação com a saúde motivou a participação de Serrano no grupo. Depois de parar, viu as crises de asma melhorarem muito. "Mudou da água pro vinho", conta.

Serrano lembra que a vontade de fumar costuma durar três minutos e, para driblar a ansiedade, o ideal é buscar em outras atividades uma compensação pela ausência do cigarro. "Costumo fazer caminhadas", aconselha. Além disso, as técnicas de respiração ensinadas no grupo foram essenciais no tratamento de Serrano, que diz que segurar o ar e soltar devagar é um ótimo exercício para controlar a vontade de fumar.

Ele destaca que no grupo há muita troca de experiências, sendo que métodos que podem não ser úteis para um fumante podem ajudar outro. E a vitória contra a nicotina incentivou a mãe de Serrano, que depois do filho, também participou do grupo e está há seis meses sem cigarro. Agora, mãe e filho participam do grupo de apoio com o objetivo de controlar a vontade e prevenir recaídas.

http://www.odiario.com/cidades/noticia/563812/fila-para-deixar-de-fumar/