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‘Caipirismo’ era motivo de risos e constrangimentos

De um lado, os idiomas estrangeiros conferiam a Maringá um perfil multifacetado. Mas, além das línguas estrangeiras, grande parte da população da cidade, formada por gente humilde que tinha migrado principalmente do interior de São Paulo e de Minas Gerais, interagia por meio de uma linguagem pobre, rudimentar e, não bastasse, influenciada pelo caipirismo do interior paulista.

Inculto e simplório, o segundo prefeito, Américo Dias Ferraz, falava com quase nenhuma desenvoltura, exagerando no "r" e mal sabia escrever. Mas justamente por essa comunicação fazia sucesso junto ao eleitorado que com ele se identificava.

Arquivo/DNP

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Baile caipira realizado durante festa junina em Maringá em 1949

Professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Altair Aparecido Galvão conta que, na juventude, trabalhou na Casas Pernambucanas, onde o gerente Wilson Marangoni impunha algumas regras para o pessoal do atendimento,visando a não criar melindres com os fregueses mais simples e também com os do meio rural.

É que eles se comunicavam com um curioso palavreado que nem todos entendiam. Costumavam exagerar no "r", bem ao jeito caipira, além de encurtar ou trocar palavras, o que acabava sendo motivo de piadas e, não raro, de constrangimentos.

Sufoco

Portanto, uma das exigências para evitar constrangimentos aos fregueses era evitar sorrir, pois era possível que o cliente mais simplório, e geralmente complexado, poderia se ofender, achando que estava sendo alvo de chacota. Ocorre que em alguns períodos natalinos a loja distribuía folhinhas à clientela, inicialmente com calendários em formas de bloco, de folhas destacáveis a cada dia, que foram substituídos logo depois por outros menos custosos.

Pois durante muito tempo o povo do sítio, ao ser atendido, continuava perguntando pela "foinha de broco". Segundo Altair, por mais esforço que se fizesse, era impossível resistir aos risos, o que deixava o gerente em pânico.


DICIONÁRIO DO CAIPIRA

  • acupá – ocupar
  • alembrá – lembrar
  • apinchá – se jogar
  • arranchá – ficar
  • avexá – envergonhar
  • balanga saco – baile
  • corgo – córrego
  • dá trela – dar conversa a alguém
  • faiada– falha
  • imbruiada – encrenca, ser enganado
  • intojo – alguém insuportável
  • lerdiar – bobear
  • meia pataca – insignificante
  • meió ou mió – melhor
  • pissuí – possuir
  • rádia – aparelho de rádio
  • réiva – raiva
  • situante – sitiante
  • taio – corte
  • trupicão – tropeço
  • zóio – olho

http://www.odiario.com/maringa-65-anos/noticia/565415/caipirismo-era-motivo-de-risos-e-constrangimentos/