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Traçado original mantém Maringá bem ‘diferente’

Maringá é considerada uma cidade "bem nascida". Essa é, na opinião do urbanista Márcio Lorin, representante da Academia de Arquitetos e Engenheiros Euclides da Cunha, a maior virtude do município de 357 mil habitantes, que hoje completa 65 anos.

Para ele, o fato de ter sido projetada sob influência inglesa e das primeiras administrações terem mantido rigorosamente o desenho traçado pelo arquiteto Jorge de Macedo Vieira, a cidade ganhou características que a tornaram especial.

Para o urbanista nascido em Apucarana, que se apaixonou pela arborização de Maringá, a Cidade Canção é exemplar, com "desenho e organização espacial muito bons". "Só o fato da cidade ter sido traçada no cume do morro, acompanhando as curvas de nível e não lá embaixo na beira do rio como era comum, já foi um grande avanço.

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É uma cidade muito bem pensada. O traçado segue os espigões e isso facilita uma série de coisas, entre elas o escoamento. O problema é quando sai desse traçado porque aí cria conflitos."

Lorin cita como exemplo a Rua Mário Clapier Urbinati, que corta o espigão da Universidade Estadual de Maringá (UEM) até perto Hospital Universitário. "Esse é um movimento contrário do que foi projetado e sempre se tentou fazer. É aí que você começa a perceber quando o desenvolvimento foge do controle."

Conservador quanto à manutenção do projeto original, Lorin tem uma opinião crítica com relação às administrações municipais. Para ele, Maringá poderia chegar a ter 500 mil habitantes, mantendo-se dentro do projeto e garantindo a qualidade de vida prevista pelos ingleses.

"Sei que é difícil idealizar Maringá porque ela sempre supera todas as expectativas e o crescimento não é determinado pelo desejo da gente, mas o ideal seria uma cidade de ate 500 mil habitantes, mais que isso começa a perder qualidade. Hoje, ela não tem estrutura para 500 mil, mas poderia ser projetada para isso, mantendo o que temos hoje. A gente tem que olhar com mais carinho por esse patrimônio", receita.

Nas virtudes locais destacadas pelo urbanista estão os parques, entre eles o Parque do Ingá, reserva florestal mantida desde o traçado inicial da cidade e declarada como área de preservação permanente na categoria de parque municipal. A urbanização da reserva foi inaugurada em 10 de outubro de 1971, pelo então prefeito Adriano José Valente, imortalizado numa estátua na entrada do parque.

O parque tem uma área de 473,3 mil metros quadrados, lago artificial, casa do pioneiro (mostra utensílios da época da colonização da cidade), jardim japonês (inaugurado em junho de 1978 em homenagem à visita do então príncipe Akihito e sua esposa Michiko, hoje imperadores do Japão) e uma série de outras atrações que vem sendo implantada pela atual administração.

O parque, na opinião da dona de casa Marli Ayres Santos, o melhor local da cidade. "Nos mudamos para Maringá na década de 70 por causa do parque e moramos até hoje, bem aqui pertinho", conta.

Não bastasse o Parque do Ingá, principal cartão-postal, Maringá tem o Parque das Grevíleas, na Zona 5. Uma área de 44 mil metros quadrados com uma espécie, a grevílea. E, ao redor, uma pista de caminhadas com 1.060 metros contornada por flores. "Isso aqui me lembra uma cidade europeia, principalmente no inverno quando a gente vem caminhar cedinho e ainda tem uma neblina baixa. Sou apaixonado por este canto de Maringá", diz o bioquímico Arnoldo Fiesdly, morando há 2 anos na cidade.

Mesmo fechado desde 2003, outro recanto destacado pelos maringaenses, nascidos ou que escolheram morar aqui, é o Horto Florestal Dr. Luiz T. Mendes, na avenida de mesmo nome, na Zona 4. Reserva florestal de 368,3 mil metros quadrados, foi criado pela Companhia Melhoramentos para fornecer mudas de árvores e flores para serem distribuídas pela cidade.

"Quando era pequeno, gostava de vir aqui brincar. Haviam muitos macacos de todos os tamanhos e quanto descuidavam da vigilância a gente pulava no laguinho que tinha lá no meio", conta o mestre de obras Ernesto Alcantara.

Além de outros 19 parques espalhados por toda a área urbana do município, Maringá tem ainda o Parque Florestal dos Pioneiros, popularmente conhecido como Bosque 2, que forma junto com o Parque do Ingá a imagem de um pulmão humano, lembrando a importância da preservação da natureza para a qualidade de vida.

A área de preservação permanente tem 59 hectares e, apesar de não ser aberto ao público, tem uma pista de caminhada de 1,1 mil metros a seu redor. Trata-se de um dos últimos remanescentes de vegetação típica da região noroeste do Paraná, que tem como maior atração os macacos-pregos.

"O fato de ter sido implantada por meio de um plano-piloto e das primeiras administrações terem mantido o controle do desenvolvimento permitiu que a cidade crescesse sem a maioria dos problemas que afetam cidades do mesmo porte. A preocupação é quanto ao futuro, para manter o controle e a qualidade de vida conseguida", completa Lorin.



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http://www.odiario.com/zoom/noticia/567857/tracado-original-mantem-maringa-bem-diferente/