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Desafios para a inovação na universidade

No País, poucas instituições universitárias podem ser consideradas genuinamente novas, pois a maioria das universidades foram originadas de escolas superiores isoladas com pelo menos uma década de existência; dentre às exceções tem-se a UnB ou a UFABC.

Aliada a essa tradição, além do ensino, extensão e cultura, coube às escolas superiores a pesquisa, o que veio ocorrendo quase que exclusivamente com dinheiro público; o setor empresarial sempre hesitou em assumir riscos com esse empreendimento.

E a insistente referência à "importância da ciência para o desenvolvimento", certo ou errado, contribuiu para a formação do ponto de vista segundo o qual: 1º) quem produz conhecimento novo deve ocupar posição de vanguarda, como é o caso da universidade; 2º) a universidade pode oferecer mais soluções práticas para os problemas da sociedade; e, 3º) o ambiente universitário tem de incentivar a criatividade, a crítica, o espírito empreendedor, enfim, favorecer à inovação.

Provavelmente, distintos fatores concorrerão no julgamento dessa visão. Contudo, nos parecem mais explícitas evidências que contrariam a terceira dessas percepções apresentadas, quais sejam:

I) o registro de patentes é um dos principais indicadores de inovação. O Brasil ocupa o 13ª lugar no ranking de publicações, o que equivale à 3% da produção científica mundial, porém sua participação no mercado de patentes gira em torno de 0,2%.

Isso mesmo com a ampliação de pesquisadores e com o incremento de recursos para pesquisa nos últimos anos. Em artigo intitulado "Uma nova pós-graduação em Engenharia: será esta a solução?" (Jornal da USP, de 13/4/2009), Cardoso et al. abordam questionamentos acerca da transferência de conhecimento, dentre esses: "[...] o que falta em boa parcela dos trabalhos científicos atuais para torná-los interessantes e aplicáveis no setor produtivo, de modo a contribuírem para o desenvolvimento tecnológico do país?" (p. 2);

II) o entendimento de como o passado se inscreve no presente, via de regra, indica que arranjos emergentes (grupos, núcleos, projetos etc.) trazem algum componente inovador na sua constituição.

Entretanto, a insistência no uso de critérios universalistas nas políticas institucionais beneficia exclusivamente arranjos consolidados, servindo internamente de desestímulo e frustração às expectativas dos arranjos incipientes promissores; externamente às instituições universitárias, como forma de valorizar a produção em desenvolvimento tecnológico e inovação, em 2007 o CNPq criou o Programa de Bolsas de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora;

III) algumas carreiras muito ligadas com inovação estão tornando-se menos atrativas do que as carreiras tecnológicas, como vem ocorrendo em áreas como a Física onde o interesse dos estudantes tem recuado e a evasão é crônica.

Já é notória na comunidade de físicos a preocupação em se modernizar os currículos para formar estudantes para uma atuação mais técnica e multidisciplinar. Em 2000, a UFSCar foi pioneira nessa direção, e inovou com a criação do curso de Engenharia Física; a partir de 2010, foi seguida pelas UEMS, UFRGS, Ufopa, UFABC e USP.

Sem dúvidas, equivocam-se os que não reconhecem que a pouca produção de inovação, a falta de apoio setorial às novas idéias e os currículos antiquados ainda estão muito presentes na maioria de nossas instituições universitárias, e que é preciso mudar este quadro!

E, como ninguém sabe ao certo como se fazer isto, isso permite a experimentação! Dentre as possibilidades, uma delas: conjugar a segurança dos mais experientes com o "atrevimento" dos mais imaturos para realizar a auto-crítica institucional.

Outra: intensificar o debate sobre o impacto das iniciativas inovadoras no aperfeiçoamento das instituições modernas. Em tempo, por que não inovarmos aplicando a taxa de inscrição no vestibular para financiar exclusivamente a assistência estudantil na UEM?

Ps.: A palavra inovação (innovatio, em latim) significa renovação ou novidade.



Luciano Gonsalves Costa
Professor-doutor do Departamento de Física da U niversidade Estadual de Maringá (UEM) e presidente da Associação dos Docentes da UEM (Aduem).

http://www.odiario.com/opiniao/noticia/572709/desafios-para-a-inovacao-na-universidade/