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Uso do celular nas escolas: educar ou punir?

O Núcleo Regional de Educação (NRE) está preparando um regimento para as escolas da região e, entre outras questões, o documento estabelecerá sanções/punições quando houver uso indiscriminado do celular nas escolas.

Constata-se que os alunos se distraem em sala de aula, acessando internet, ouvindo músicas, fazendo e/ou recebendo ligações, enviando torpedos, divertindo-se com jogos, etc. Alguns chegam a usar o aparelho para colar nas provas.

Há ainda a possibilidade do furto no espaço escolar, criando situações constrangedoras para todos. Mesmo assim, os alunos insistem em utilizá-lo, ainda que a escola disponibilize o serviço de comunicação quando do surgimento de uma urgência.

Vários Estados brasileiros já adotaram a proibição do uso de celular nas escolas. Em 2007 foi apresentado na Câmara dos Deputados um Projeto de Lei (2.246/07), que determinava essa proibição em todas as escolas públicas do País. Entretanto, o Projeto foi arquivado em 31.01.2011, quando terminou a legislatura do governo Lula.

Entre os educadores não há consenso sobre a questão. A maioria é contra o uso e nesse grupo há os que desejam a proibição do porte/uso do celular em toda a escola e os que querem vetar o seu uso apenas à sala de aula, defendendo a possibilidade de o aparelho ser utilizado nos intervalos de entrada, recreio e saída da escola.

Aqueles que estão conectados com a revolução tecnológica argumentam que o celular pode ser utilizado como ferramenta de aprendizagem.

Principalmente aqueles que possuem sofisticados recursos tecnológicos, tais como: câmeras fotográficas e filmadoras, gravadores de áudio, calendários, comunicadores instantâneos, calculadoras.

O aluno poderia, por exemplo: realizar entrevistas, criar banco de imagens, gravar minidocumentários, estabelecer comunicação entre os demais alunos e com os professores, enviar mensagens sobre dúvidas e avaliações, utilizar as agendas para organização da vida escolar, etc.

Mas, para que um aparelho transforme-se em ferramenta didática ele tem que ser acessível a todos os alunos. Não é esse o caso: um celular com os recursos citados acima tem um preço muito acima do possível para a grande maioria dos alunos que frequentam as escolas públicas.

E, esse não é o único problema. Os professores da rede pública não estão capacitados para inserirem essa ferramenta tecnológica em suas aulas.
Portanto, a esse grupo que defende o uso do celular nas escolas, temos que opor a realidade: o celular ainda não pode ser usado como ferramenta de pesquisa e produção de conhecimento.

Contudo, penso que o Núcleo Regional de Educação de Maringá, antes de estabelecer mecanismos de punição, deveria realizar uma campanha de sensibilização dos alunos e pais quanto à inadequação da presença desse aparelho na escola. O NRE deve ter como princípio básico "educar" e "prevenir", e não apenas "castigar" um comportamento já instalado.

O NRE, ao conscientizar pais e alunos sobre o tema, poderá explicar os motivos pedagógicos que levam a escola a pedir aos alunos que deixem seus celulares desativados durante as atividades educacionais, ou mesmo que não os levem à escola.

Além disso, a proibição deve estender-se aos profissionais que atuam nas escolas. Diretores, coordenadores, orientadores, funcionários em geral e, principalmente os professores, também devem desligar seus aparelhos quando estiverem trabalhando.



Ivana Veraldo

Professora-doutora do Departamento de
Fundamentos da Educação da Universidade
Estadual de Maringá (UEM)

  http://www.odiario.com/opiniao/noticia/574045/uso-do-celular-nas-escolas-educar-ou-punir/