Quem já não sonhou estar em uma terra rodeada por
gigantes? Esses personagens mitológicos que habitam capítulos e
páginas de livros de contos, são uma realidade desafiadora para pessoas
afetadas pelo nanismo. Conviver com ambientes que descartam à
acessibilidade para pessoas de baixa estatura é o obstáculo cotidiano
do garçom José Alcântara Filho, 40 anos, e da aposentada Francisca
Aparecida Mendes, 47.
Os pais e os seis irmãos de Alcântar têm
estatura normal. Ele é o único com nanismo na família. "Sempre falo
que somos seis irmãos e meio", brinca, com o tom de quem encontrou no
bom humor a melhor maneira de superar as barreiras enfrentadas por ser
anão. Conhecido entre os amigos da família por Zezão, o garçom conta
que nunca se deixou vencer por ser baixinho.
Ricardo Lopes
Por causa de um problema na coluna, há 14 anos Francisca é cadeirante.
Ela diz que "sempre alguém pode por defeito em você, mas eu me amo"
"Eu não cresci revoltado por ser anão. Logo nos meus primeiros dias
de escola, as outras crianças perceberam que eu era menor do que elas,
mas eu sempre levei na esportiva, como se tivesse tamanho normal",
destaca.
Alcântara conta que ainda na infância, quando não
sabia que tinha nanismo, percebeu que os irmãos mais novos cresciam
mais do que ele e que isso começou a lhe deixar intrigado. "Eu
perguntava para minha mãe, porque minha irmã mais nova estava maior do
que eu.
Ela me respondia que era pelo fato de as mulheres se
desenvolverem mais cedo do que os homens. Mas teve uma hora que o
argumento não servia mais. Eu realmente era bem menor que os meus
irmãos. Então, meu pai sentou para conversar comigo e me explicou que
eu tinha baixa estatura e que seria sempre assim", ressalta.
A
história de Francisca tem na baixa estatura e no bom humor para
encará-la, dois pontos em comum com a trajetória de Zezão. Mas é só. Ao
contrário do garçom, a maioria da família da aposentada tem baixa
estatura. "Meu pai era baixinho, mas minha mãe tinha altura normal. Eu e
meus três irmãos nascemos com nanismo. Os três filhos do meu irmão e a
minha cunhada, também são baixinhos", conta Francisca.
Por
causa da estrutura do esqueleto ser menor do que a de pessoas com
estatura considerada normal, Francisca teve um problema na coluna e há
14 anos convive com a situação de cadeirante. "A cadeira de rodas amplia
os meus obstáculos. No meio social, é um pouco complicado.
Faltam rampas na cidade em vários locais. Usar caixas eletrônicos,
então, é outra tarefa complicada. Meu braço não alcança os teclados.
Mesmo os caixas eletrônicos especiais não ajudam muito. Sempre preciso
de ajuda", explica.
Segundo a aposentada, a discriminação pela
deficiência existe. "Eu não ligo para o que as pessoas pensam de mim,
mas o preconceito existe sim. Sempre tem alguma pessoa que olha
diferente.
Quando vou ao mercado e preciso pedir ajuda para alcançar algum
produto na parte mais alta da prateleira, não é todo mundo que é
solícito. Mas, eu não estou nem aí. Levo minha vida normalmente, sempre
alguém pode por defeito em você, mas eu me amo. Tenho que estar sempre
bem comigo para superar as situações na minha vida", define Francisca.
ENTENDA O NANISMO
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“O nanismo tem grande influência genética. As pessoas que têm nanismo ficam bem abaixo da média de altura do resto da população. Entre os homens com nanismo, a altura média é de 1,31 metro. Entre as mulheres, a média é de 1,24 metro”, explica que a especialista em Genética, do Serviço de Aconselhamento Genético e Citogenética Humana da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Ana Maria Silveira
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Existem mais de 150 tipos de nanismo registrados pela Medicina. Mesmo com a grande quantidade, a incidência na população não é considerada alta. Um em cada 15 mil nascimentos é de criança que apresenta o problema
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A geneticista explica que independente dos pais terem estatura normal, os filhos podem nascer com o nanismo. O contrário também é válido. Pais com nanismo podem ter filhos com estatura normal
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“A variação genética que leva o embrião a desenvolver o nanismo, acontece no gameta que vai gerar a criança. Isso pode acontecer tanto no gameta masculino, quanto no feminino”, avalia Ana Maria
http://www.odiario.com/saude/noticia/577536/pequenos-apenas-no-tamanho/