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‘São três razões...’

Neio Peres Gualda >> professor de Economia da Universidade Estadual de Maringá


O mercado faz projeções de crescimento do PIB abaixo de 2%. Quais as justificativas para isso?

São três razões, mas não há nenhuma determinante. A crise internacional, que decretou a redução do consumo nos países da Europa e Estados Unidos, afetou diretamente as exportações brasileiras. Isso tem impacto negativo no PIB. O segundo ponto é a questão do mercado interno.

O Brasil atingiu um ponto de saturação no crescimento do consumo das famílias. Você teve por 4 anos ou 5 anos um aumento real de renda que alavancou o consumo, um importante componente do PIB.

Associado a isso está a expansão do crédito que deixou as famílias endividadas. E enquanto o nível de endividamento das famílias não baixar, o consumo não deve crescer.



Quais os setores da economia que mais sentem o reflexo da crise?

Além da indústria têxtil que compete com mercados como China e Índia, tem a metalomecânica e de eletrônicos. Na verdade, o Brasil só tem mesmo vantagem na agroindústria. Dividindo a indústria em termos de conteúdo tecnológico existem três patamares: baixo, médio e alto.

O frango, que é um dos principais produtos importados na região, é de baixo conteúdo tecnológico. Aqui não se exporta tablets ou notebooks, que são produtos que envolvem alto e médio conteúdo tecnológico.

Isso porque o mercado chinês é melhor nos quesitos carga tributária, encargos sociais e escala de produção. A indústria brasileira, por isso, encontra muita dificuldade em competir com tecnologias de alto e médio conteúdo tecnológico.



Quais os efeitos práticos dessa redução na previsão de crescimento do PIB?

Em primeiro lugar, no índice de empregos. A indústria precisa se ajustar rapidamente. O desemprego ainda não está forte porque o País vem de um momento de economia aquecida.

Há alguns meses, as indústrias sofreram a dificuldade de encontrar a mão de obra qualificada. E muitos empresários investiram na qualificação desse pessoal com cursos e treinamentos a custos elevados. Por isso estão segurando.

Mas se o período recessivo começar a se estender, esse pessoal também vai ser dispensado. O processo é lento pois estão aguardando uma definição maior.



O PIB acima da média do Paraná está relacionado a commodities?

Eu acredito que sim. No Paraná, a situação é diferente. Existem estudos que mostram que a dinâmica da economia paranaense está atrelada aos preços internacionais.

Quando os preços internacionais estão altos, o reflexo é um melhor momento econômico por aqui. Por exemplo, a região nas décadas de 40 e 50 se desenvolveu fortemente devido à economia cafeeira que tinha preço controlado pelo mercado internacional.

Nesse momento que os preços das commodities estão altos o reflexo é na renda do paranaense que aumenta. (Renato Oliveira)

http://www.odiario.com/zoom/noticia/585603/sao-tres-razoes/