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Frota cresce quase três vezes mais que a população

Enquanto a estimativa para o número de habitantes é de alta de 9%, veículos avançam 26%
Com o tráfego intenso, motoristas refazem cálculo de tempo gasto para se deslocar pela cidade

Enquanto a população de Maringá cresceu 9%, a frota experimentou um avanço maior e aumentou quase três vezes mais entre 2010 e 2014. A alta no número de veículos no período foi de 26%. Segundo o relatório mais recente do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), com dados até setembro deste ano, quase 295 mil veículos circulam pelas ruas da cidade.

Já a população é, de acordo com estimativas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de quase 392 mil pessoas. Por ser polo regional, inevitável também ver uma grande quantidade de veículos de outros municípios trafegando diariamente pela cidade. Seja a trabalho, atendimento médico ou a passeio, o fluxo é intenso.

Consequências
Com tantos carros, motos, caminhonetes, ônibus e caminhões disputando o espaço, quem anda pela cidade já sente dificuldades. O motorista Ademar Machado, morador no Jardim Alvorada, desde a década de oitenta do século passado, vê muita diferença entre o tráfego de ontem e o atual. "Não tinha tanta moto, nem tanto carro. Rapidinho a gente estava no serviço. Hoje, para chegar ao Centro pela Avenida Pedro Taques, como faço há 25 anos, levo pelo menos meia hora", destacou.

Percepção semelhante tem o servidor público Rodrigo Medeiros que mora na Vila Morangueirinha, zona norte da cidade. Uma das principais vias para que ele chegue ao trabalho também na área central é a Avenida Guaiapó. Para não se atrasar e não se estressar com o trânsito foi obrigado a, no ano passado, comprar uma motocicleta. "Levava quase 40 minutos. Só para cruzar a Colombo pela Guaiapó perdia uns 15 minutos. Hoje, de moto, vou mais rápido", ressaltou.

Para dar conta desse crescimento na frota, algumas medidas como a implantação de vias binárias, no Centro, já foram executadas. Outras obras consideradas grandes estão em andamento como ligações entre bairros e a execução do Contorno Oeste, que passa pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), além da Avenida Brasil - via onde o município pretende criar corredores de ônibus e torná-la de mão única.

Neste segundo semestre, a prefeitura entregou a duplicação da Avenida Joaquim Duarte Moleirinho, próximo ao Bosque 2 e também já está prestes a ser executada a conclusão da Avenida Humaitá e duplicação da Carlos Borges - na região sul. "São obras importantes para criarem rotas alternativas aos motoristas", comentou em recente entrevista o secretário municipal de Planejamento, Laércio Barbão.

Cidade dos carros?
Na opinião do arquiteto e urbanista espanhol Óscar Pedrós, que atualmente faz pós-doutorado na UEM, em pouco tempo Maringá se tornou a "cidade do carro" e perdeu a característica de "cidade jardim". "Virou uma cidade no modelo americano de cidade do carro. Ao mesmo tempo, aconteceu o mesmo padrão de máquina capitalista de verticalização da cidade", afirmou.

Ainda segundo o urbanista, é uma realidade difícil de ser alterada. "A situação econômica, a máquina do sistema não permite reverter o processo somente com a Arquitetura. Nós trabalhamos para encontrar meios de cuidar. Os arquitetos atuam como agentes paliativos dessas doenças. Só que essa doença requer que você mergulhe no seu DNA, e não depende somente do arquiteto e urbanista, mas da sociedade, da posição das pessoas nesse mundo", completou.

Caminhonetes têm a preferência

Mesmo com um preço médio que varia entre R$ 100 mil e R$ 160 mil, as caminhonetes foram os veículos que tiveram maior aumento de frota dos últimos quatro anos. De acordo com dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), enquanto, em 2010, eram pouco mais de 22 mil, até setembro mais de 33 mil circulavam pela cidade.

Considerada por motoristas, mais luxuosas e seguras, com o passar do tempo o veículo deixou de ser apenas para o trabalho. De olho em um modelo mais novo, o produtor rural Valdemir Aparecido Picolli planeja levar para casa a versão 2014. "Gosto muito de caminhonete. Além do conforto, é um veículo que te dá muita segurança. Situação que, muitas vezes, um carro baixo não te proporciona", destaca. O agricultor já é dono de um modelo, ano 2010.

De acordo com Dulce Leal Cardoso, gerente de vendas de uma concessionária de Maringá, o conforto aliado à segurança é um dos atrativos da caminhonete, além disso, o perfil econômico da cidade colabora para esse segmento do mercado. "É uma região onde o agronegócio é muito forte, por isso, o movimento de produtores rurais que precisam desse tipo de veículo é bem intenso. A nossa média de venda desses modelos varia de 30 a 40, por mês", comenta.

"Além de dar mais segurança para mim e minha família, é um veículo que proporciona muito conforto", ressalta o representante comercial Lucas Camargo que tem uma caminhonete, ano 2014.

Ainda segundo o Detran, a frota de carros aumentou nos últimos quatro anos 26%. A frota de ônibus e caminhões teve um aumento de 16%. A de motocicletas e motonetas teve um aumento de 11%. ///Leonardo Filho


ATUALIZAR. O agricultor Valdemir Aparecido Picolli planeja trocar o modelo 2010, por um 2015. —FOTO: RICARDO LOPES

Mortes no trânsito reduzem 12,5%

Apesar do crescimento de 26% da frota de veículos em Maringá, entre 2010 e 2014, o número de mortes no trânsito no período recuou 12,5%. Mesmo assim, a quantidade de vítimas em acidentes no perímetro urbano que vinha em tendência de queda em 2011, 2012 e 2013, voltou a ter alta e ser motivo de preocupação neste ano.

Comparativo com os nove primeiros meses de 2013, por exemplo, mostra um aumento de 46%. Em todos anos, praticamente a metade das mortes foi de motociclistas ou ocupantes de motos. O veículo corresponde em média a 20% da frota.

Para reduzir os acidentes e o número de vítimas, a Secretaria Municipal de Trânsito e Segurança (Setrans) lançou, em julho deste ano, o projeto "Motociclista Prudente". O trabalho consiste na aplicação de um curso rápido com duração de um dia. Os condutores de moto de qualquer idade assistem aulas teóricas e práticas.

A oferta do curso não tem data para terminar. "É uma forma de mostrarmos ao motociclista noções de pilotagem defensiva, além de conscientizá-lo. Vamos manter o projeto por tempo indeterminado", destacou o secretário Ideval Oliveira.

Além da conscientização, feita também em outras ações educativas, inclusive, com crianças, a Setrans aumentou a fiscalização em toda a cidade. Novos radares de velocidade e câmeras que controlam o avanço de sinal foram instalados. A prefeitura já confirmou que pretende dobrar a quantidade de equipamentos até o fim deste ano.

Na área de competência da Polícia Militar (PM), o Pelotão de Trânsito do 4º Batalhão da PM informou que tem feito blitze, todos os dias, em pontos alternados da cidade. Esses locais também são constantemente mudados para evitar que os motoristas deixem passar pela fiscalização.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) é responsável pelo monitoramento em dois trechos da BR -376, na Avenida Colombo e no Contorno Norte. De acordo com os agentes federais, o trabalho nesses dois pontos é de fiscalização com o uso de radares de velocidade e em algumas ocorrências com aplicação de bafômetros. ///Leonardo Filho

 

http://digital.odiario.com/zoom/noticia/1222629/frota-cresce-3-vezes-mais-que-a-populacao-mas-mortes-diminuem/