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Izaltino, o carpinteiro pioneiro

Algumas das obras foram tombadas pelo Patrimônio Histórico e resistem ao tempo

Ainda sofrendo com a morte da esposa Ercília, há dois meses, o pioneiro Izaltino Machado teve ontem um encontro com o passado. Ele reencontrou a Capela Santa Cruz, a casa do suíço Alfredo Werner Nyffeler, um pé de manga e ferramentas de carpintaria. Foi difícil segurar a emoção, mas ele disse que tinha prazer neste reencontro, pois estava revivendo a história de Maringá, uma história que ele ajudou a construir e acompanha de perto há quase 70 anos.

Enxó, martelo, serrote, chanfrador e outras ferramentas foram usados por ele há quase 70 anos para construir a mansão de Nyffeler, na Avenida Brasil, no ponto mais central de Maringá, e a Capela Santa Cruz, no Maringá Velho, ponto em que começou a cidade. Ele foi um dos primeiros carpinteiros de Maringá, quando a comunidade ainda pertencia a Mandaguari e se resumia às poucas vendas, lojas e farmácias do Maringá Velho.

"A Companhia Melhoramentos loteou o quadrilátero entre as avenidas Paraná e São Paulo, Tamandaré e Tiradentes, mas não havia ainda nenhuma casa quando cheguei", diz o homem de 84 anos, 69 deles vividos em Maringá.

Mineiro, órfão de pai e mãe que veio para o Paraná com os irmãos para trabalhar nos cafezais, Izaltino tinha 14 anos quando aprendeu carpintaria com o irmão mais velho, Francisco Machado Homem Júnior, que morava em Nova Dantzig, que passou a chamar Cambé. E foi por ter aprendido o ofício do irmão que sua vida mudou um ano depois, quando a Companhia Melhoramentos contratou Francisco para chefiar uma equipe de carpinteiros na construção de casas em Maringá.

"Começamos do zero, primeiro construindo casas para diretores e funcionários da Melhoramentos, que eram casas de alto padrão, com fino acabamento".

Padrão nota 10
Izaltino lembra que a casa do gerente da Companhia, Alfredo Nyffeler, exigiu muito da equipe, porque tudo tinha que ser de primeira. "Passei dias de 'quatro pés' planando os assoalhos, os pilares da área foram aparelhados a mão, mas no final o trabalho agradou o doutor Alfredo, que era suíço e estava acostumado com o padrão europeu".

A casa de Nyffeler foi tombada pelo Patrimônio Histórico e levada para o terreno da Universidade Estadual de Maringá (UEM), ao lado da Reitoria, e sedia o Museu da Bacia do Paraná.

Neste local, ficava exatamente uma casa na qual o carpinteiro Izaltino morou há 60 anos e onde plantou um pé de manga espada que foi conservado no local e está carregado.

FRASE
"Não havia nenhuma casa no quadrilátero central quando cheguei em Maringá"
IZALTINO MACHADO
Carpinteiro e pioneiro


Além de construir, o carpinteiro evitou que a Capela Santa Cruz fosse demolida
EMOÇÃO. Machado revisita a Capela Santa Cruz, que construiu há quase 70 anos —FOTO: DOUGLAS MARÇAL

A CAPELA CONTINUA

Izaltino Machado tinha 15 anos quando trabalhou em construções que entraram para a história, como é o caso da primeira rodoviária, em frente as Casas Pernambucanas, e a Capela Santa Cruz.

Em 1996, quando presidia a Associação dos Pioneiros de Maringá, ele ficou sabendo que a direção do Colégio Santa Cruz ia demolir a capela, que estava envelhecida, para ampliar a escola. Ele organizou um movimento que convenceu o então prefeito Ricardo Barros a não conceder alvará de demolição.

O prefeito fez mais: além de não autorizar que fosse desmanchada, ainda criou uma Lei tombando a capela, a primeira da cidade, para o Patrimônio Histórico, o que significa que ela jamais será demolida.

A capela foi totalmente restaurada e ainda ganhou poesia de seu construtor.

 

http://digital.odiario.com/cidades/noticia/1234050/izaltino-o-carpinteiro-pioneiro/