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Homens devem buscar a prevenção

Estudo feito por estudante da UEM levanta perfil da saúde do homem
Baixa escolaridade e desemprego influenciam no comportamento

Uma pesquisa apresentada no mestrado de enfermagem na Universidade Estadual de Maringá (UEM) destaca que a saúde do homem é um desafio para gestores, profissionais da área da saúde e para os próprios homens. O levantamento consultou 421 homens com idade entre 20 e 59 anos, onde 23% reconhecem a própria saúde como ruim ou regular se comparado com outros homens na mesma idade e 42,8% alegaram ter algum problema de saúde, em destaque a hipertensão arterial, diabetes mellitus e problemas osteomusculares.

O estudo feito pelo enfermeiro Guilherme Oliveira de Arruda ainda revelou a influência de alguns fatores a falta de atenção devida a própria saúde, como baixa escolaridade, não ter plano de saúde, não ter companheira e estar desempregado são características associadas a maior utilização de serviços públicos de saúde. Compreendeu-se que sinais de boa saúde referem-se a ter uma boa alimentação, prática regular de atividades físicas, realização de exames periódicos, exercícios da religiosidade ou espiritualidade, ter um trabalho e manter boas relações interpessoais.

Em Maringá, entre 2000 e 2011, homens na faixa etária do estudo foram mais internados por transtornos mentais, lesões e doenças circulatórias. No município, segundo dados do Sistema de Informação Mortalidade referentes ao primeiro semestre deste ano, os problemas cardiovasculares lideram a causa de mortes de homens com mais de 40 anos, respondendo por 27% dos casos. Segundo Arruda, a aproximação do serviço de saúde deve ocorrer no sentido de mostrar aos homens que os profissionais da área estão disponíveis para orientações.

"Outra questão que considero importante é que a imagem cristalizada do homem negligente, que nunca se cuida ou que não é capaz de cuidar de outra pessoa, já é vista como um esteriótipo em nossa sociedade, o que é negativo", pontua. Para Arruda, é preciso uma mudança cultural para a diminuição de riscos de doenças, internações e mortes quando a saúde é posta de lado. "É uma cultura da sociedade que o homem não pode demonstrar fragilidade, que é invulnerável", exemplifica. Ele observou que, quem buscava atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), já procurava uma solução emergencial. Nesse aspecto, entender como fundamental a prevenção influenciaria na qualidade de vida do indivíduo.

Cuidados
A pesquisa constatou que a presença da mulher, seja esposa ou mãe, influencia positivamente o modo como os homens pensam a saúde e reflete um dado geral: um levantamento feito pelo Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo, por exemplo, mostrou que 70% das pessoas do sexo masculino que buscam um consultório médico tiveram influência da mulher ou mesmo dos filhos. Essa observação diária fez com que a forma de chamar a atenção do homem em Maringá também tivesse auxílio da família.

Desde 2009 o município trabalha com o programa Saúde do Homem, que segue a Polícia Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), visando a desenvolver ações que promovam a melhoria na qualidade de vida das pessoas. Além dos atendimentos, são realizadas diversas atividades educativas. Com a perspectiva de alcançar o público masculino, a Secretaria de Saúde de Maringá tem trabalhado com o apoio da esposa grávida em atrair o marido para o consultório. "Se ele a acompanhar durante as consultas do pré-natal e se consultar também, ele vai se inserir no programa", diz o secretário de saúde Antônio Carlos Nardi.

Arruda observa ainda que o programa que envolve toda a família surte efeito, principalmente pela cultura de que em uma família todos os membros devem ser cuidados. "Por um lado é positivo, porque o homem acaba aprendendo com a mulher a se cuidar e a cuidar dos outros. Por outro lado, o homem se torna dependente", diz. O enfermeiro destaca que é importante que o homem também faça isso sozinho.

TRÊS PERGUNTAS AO UROLOGISTA...
MARCIO DE CARVALHO
Homem tem medo de se expor
Marcio de Carvalho é médico urologista, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, seção Paraná.

1 O que leva o homem a ser negligente com a própria saúde ?
— É o que mais a gente observa, o medo. Medo de se expor fisicamente, emocionalmente, de dividir suas intimidades. Que tem um problema, uma disfunção sexual, problema de próstata e ele tem essa dificuldade pelo receio de como o médico vai recebê-lo, como ele pode dividir a intimidade com uma pessoa estranha. Existe um preconceito e tomamos a consciência disso na campanha Novembro Azul.

2 Qual o comportamento predominante quando o assunto é cuidar da saúde?
— Quando ele demonstra fragilidade, principalmente quando conversa com a parceira ou tem algum tipo de dificuldade, primeiro ele tenta resolver sozinho. Ou ele busca outra parceira, ou tenta tomar o remédio que o vizinho tomou ou ele vê um remédio do Paraguai, ou orientação de outra pessoa. Por último ele busca ajuda médica. Ele só busca justamente por empurrão da mulher, quando ela começa a falar que alguma está errada é que ele vai tomar consciência do problema. A esposa acompanha o homem cada vez mais na consulta.

3 Quais os principais exames que devem ser feitos?
— O homem quando atinge os 50 anos tem que buscar o exame de próstata, de sangue, fazer o toque retal, se tem alguma queixa pertinente à parte sexual é importante uma avaliação hormonal. Tem que fazer todos os exames gerais, toda uma investigação para ver como está o organismo como um todo. Recomendamos que ele faça esses exames pelo menos uma vez por ano.

 

http://digital.odiario.com/cidades/noticia/1241541/homens-devem-buscar-a-prevencao/