Imprimir

Mulheres são maioia entre os diabéticos

Pesquisa da UEM revela que 69,4% dos pacientes são do sexo feminino
Maringá tem boa estrutura de atendimento, mas falta humanização

Em Maringá, existem 7.562 pessoas com mais de 15 anos diagnosticadas com diabetes mellitus cadastradas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), independente de terem atendimento na rede pública ou particular de saúde. Desses, 69,4% são mulheres. A estrutura de atendimento a esses pacientes é boa e não faltam remédios, mas os diabéticos querem um atendimento mais humanizado.

É o que revelou a tese de doutorado da enfermeira Aliny Lima Santos, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), intitulada "Avaliação da Assistência às pessoas com diabetes mellitus no âmbito da atenção primária em Maringá". A pesquisa abrangeu o período de novembro de 2013 julho de 2014. O estudo, segundo Aliny, foi realizado com base nos dados das 29 UBSs da cidade. Essas unidades contam com 66 equipes da Estratégia Saúde da Família. Do estudo, participaram diretamente 471 indivíduos, sendo 63 enfermeiros e 408 pessoas com diabetes mellitus tipo 3, beneficiários do sistema público de saúde. "Essas equipes atendem os bairros de forma que cobrem toda a cidade".

Segundo Aliny, embora Maringá tenha uma boa estrutura, faltam espaços mais amplos para o atendimento de pessoas com diabetes, especialmente quando se trata do programa do governo federal HiperDia, voltado a pessoas com hipertensão arterial e diabetes nos municípios brasileiros. A pesquisadora destaca que o Ministério da Saúde preconiza o atendimento da pessoa com hipertensão e diabetes, inicialmente em grupo e depois de forma individual. "Mas esse atendimento individualizado não acontece na rede pública em Maringá. Há as reuniões (do HiperDia) onde entregam a medicação e eles vão embora, como se o objetivo fosse entregar o remédio. Os pacientes recebem a medicação para três meses e em três meses voltam à reunião e esse procedimento se repete".

Ela cita que as orientações são feitas nos grupos e o que serve para um não serve para o outro. "Os pacientes não se identificam com o tratamento e com aquilo que é repassado pelos profissionais". A pesquisa também ouviu os profissionais do Saúde da Família. "Para os profissionais, os maiores problemas estão relacionadas à falta de espaço e à sobrecarga de funções", diz Aliny. A pesquisa aponta que cada equipe atende, em média, três mil pessoas nos bairros da cidade, entre as quais os que têm diabetes. "É uma população pequena até e mesmo assim há dificuldades para um atendimento mais próximo".

O próximo passo agora é apresentar esse trabalho à Secretaria de Saúde, apontando as dificuldades enfrentadas pelos profissionais e pelos pacientes usuários da rede pública. "Os problemas existem e sempre vão existir, mas o profissional precisa entender o que realmente é importante para o paciente. Para o usuário tem coisas muito mais importantes que são muito fáceis de resolver, depende apenas de o profissional se organizar de modo a atender essas pessoas mais de perto", diz Aliny.

A reportagem procurou o secretário municipal de Saúde, Antônio Carlos Nardi, mas não o encontrou para comentar o estudo.

11,9 MILHÕES
É o número de diabéticos no Brasil no ano passado, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes.

5,1 MILHÕES com idades entre 20 e 79 anos morreram no mundo em 2013 em decorrência complicações da diabetes.

PACIENTE TEM QUE AJUDAR

Para a presidente da Associação dos Diabéticos de Maringá e Região, Vercilene Rossi, o atendimento aos diabéticos deve ser humanizado, mas é preciso que eles também colaborem com o tratamento. "Essa humanização não é o primordial para o tratamento. O importante é que o diabético tenha interesse em se cuidar", diz.

Na avaliação dela, obviamente que um acompanhamento pormenorizado da situação do paciente ajuda bastante. "Mas o diabético não se interessa em fazer exercício, em fazer dieta".

Ela diz que a maioria dos pacientes usa a rede particular de atendimento de saúde e que na rede pública faltam endocrinologistas na cidade. "Faltam médicos endocrinologistas tanto para adultos quanto para crianças na rede pública de atendimento á saúde", observa. Vercilene ressalta que a associação estima que existam cerca de quinze mil pessoas com diabetes em Maringá, mas que apenas 50% sabem que têm o problema.

Ela alerta para que as pessoas se cuidem. "É preciso fazer um check up. Mesmo aqueles que não são diabéticos devem fazer exercícios e ter uma dieta controlada", ensina apontando que a diabetes tipo 2 é causada pelos hábitos das pessoas. "Tudo depende do comportamento,da alimentação, se as pessoas fazem exercícios ou não". /// Vanda Munhoz

É preciso cuidar, diz professora

Para a professora Edna Aparecida Zanqui Castaldelli, 48 anos, que reside no Jardim Quebec, em Maringá, foi difícil descobrir que tinha diabetes, há cinco anos. "Na hora, você fica apavorada, comecei a fazer uma dieta rigorosa e exercícios físicos para perder peso".

Ela conta que até hoje não precisa tomar insulina e faz uso de um medicamento apenas, mas precisa controlar a alimentação. "Evito refrigerantes, mas às vezes como algum doce". Ela explica que para comer doces procura fazer compensações. "É preciso planejar, pois além do fator aumento de peso, há também o fator genético", diz, ao citar que tem dois casos graves de diabetes na família. Sair da dieta, para Edna, representa problemas imediatos. "Sinto a transpiração gelada, muita sede e dor nas pernas".

A professora cuida da alimentação, mas ainda não conseguiu estabelecer uma rotina de exercício. As atividades físicas são indicadas pelos médicos, principalmente para facilitar no controle de peso e da hipertensão, que na maioria das vezes atinge os diabéticos. "Tenho até vontade de fazer exercícios. Faz três anos que estou planejando de, sempre começar no ano que vem, mas a correria do dia a dia dificulta", afirma.

O conselho de Edna para aqueles que não têm diabetes é para que se previnam. "É preciso fazer exames periódicos e, a qualquer sinal, procurar um endocrinologista que dará as orientações para o tratamento", ensina. /// Vanda Munhoz


DISCIPLINA. Edna cuida da alimentação para manter a doença sob controle e ter boa qualidade de vida. —FOTO: J.C. FRAGOSO

SETE PERGUNTAS PARA... SONIA SILVA MARCON

'Assistência está muito centrada nas reuniões do Hiperdia'

A professora doutora Sonia Silva Marcon, do Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Maringá (UEM) diz que os médicos e enfermeiros que atendem diabéticos precisam ir além das prescrições e receitas de dietas. Sônia foi a e orientadora do trabalho sobre o atendimento dos diabéticos na rede pública de saúde, elaborado por Aliny Lima Santos, doutora em enfermagem e especialista em educação em saúde, da UEM.

1 A pesquisa avalia a qualidade do atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) das pessoas com diabetes mellitus tipo 2. O que se conclui?
— Em termos de estrutura física, o município de Maringá está muito bem, tem condições e os pacientes de Maringá não sentem falta.

2 Quais as reclamações dos pacientes?
— Eles reclamam da dificuldade e demora para conseguir a consulta com o especialista. Reclamam também do relacionamento com o profissional de saúde. O diabético gostaria de ter um relacionamento diferente, que o profissional dispensasse mais atenção e não ficasse apenas naquele comportamento restritivo de que não pode isso, não pode aquilo. O paciente diz: 'Ah, (o médico) nem perguntou como estou e já vai falando que meu exame deu alterado'. Para o profissional de saúde, o resultado do exame é muito mais importante do que escutar como o paciente está se sentido, das dificuldades que ele tem.

3 Então, podemos dizer que é preciso uma consulta humanizada?
— Sim. Quando o usuário (das UBS) reclama, não se refere só ao enfermeiro, mas ao médico também. Muitas vezes, ele não sabe nem o nome do enfermeiro que o atendeu na UBS.

4 As consultas então são rápidas?
— A assistência hoje está muito centrada naquelas reuniões do Hiperdia (programa do Ministério da Saúde voltado para o atendimento de pessoas com hipertensão arterial ou diabetes mellitus), em que de três em três meses o paciente volta para a unidade, participa da reunião e pega os remédios. Não tem uma consulta individualizada, que valorize a condição de cada um. Saber que não pode comer doce, todos sabem. Mas tem que ter alguma coisa além disso, além de só proibir (alimentação).

5 Como é o relacionamento dos pacientes com a família, vocês têm informações sobre isso?
— Nas pesquisas, uma mulher, por exemplo, não tinha contado que tinha diabetes para ninguém em casa, porque se contasse, todos iam monitorá-la. Em outro caso, um senhor ia ao supermercado aos sábados, quando tinha aquelas mesas com bolos e aproveitava para comer. Depois ele conseguiu se controlar e contou isso em uma reunião da Associação dos Diabéticos de Maringá e Região. Ele mesmo foi criando uma responsabilidade sobre o controle da doença.

6 Essa responsabilidade não é criada no atendimento na UBS?
— Ele não se sente à vontade para discutir as dificuldades que tem no dia a dia e, a partir disso, ver o que é preciso ser feito. O que acontece com o paciente diabético ou mesmo hipertenso? Ele aprende rapidinho o que o médico e o enfermeiro querem ouvir e omite as dificuldades que tem, responde aquilo que o profissional quer ouvir e se livra rapidinho.

7 Sabemos que alimentos doces não podem ser consumidos. Mas o que mais o diabético pode fazer?
— Muitas vezes a pessoa pensa que não pode comer doce e pronto. Mas, batata, pão, carboidratos, produtos com farinha branca são prejudiciais para o diabético. Isso se transforma em açúcar. Mas temos que ver o que é mais barato hoje para comprar? Se for comprar só aquilo que é próprio para o diabético, ele não consegue. É muito mais caro, infelizmente. Às vezes ele diz: estou comendo fruta. Mas não adianta comer fruta em excesso. Isso fará mal. Tudo depende da quantidade. Ele não pode esquecer nunca que precisa fazer atividade física. Caminhada é o mais indicado.

347 MILHÕES DE CASOS DIAGNOSTICADOS milhões de pessoas no mundo têm diabetes, segundo informações da Organização Mundial da Saúde.

 

 

http://digital.odiario.com/zoom/noticia/1251509/mulheres-sao-maioria-entre-os-diabeticos/