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Pesquisadores da UEM vão propor novo tratamento para obesidade

Proposta é de intervenção multiprofissional, com professores de Educação Física, nutricionistas, psicólogos e médicos
Doença causa impacto de R$ 424 bi por ano no Sistema Único de Saúde

Sem uma assistência à saúde eficiente de combate, prevenção e tratamento da obesidade na rede pública, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) vai propor ao Ministério da Saúde um novo modelo para conter o avanço da doença no País, que causa impacto de R$ 424 bilhões ao ano para o Sistema Único de Saúde (SUS).

O formato proposto será de uma intervenção multiprofissional, de forma que os pacientes tenham acompanhamento contínuo de professores de Educação Física, nutricionistas, psicólogos e médicos. Hoje, esse modelo está disponível apenas em universidades e centros de pesquisa, como o Núcleo de Estudos Multiprofissional da Obesidade (Nemo), da UEM, e restrito a uma pequena parcela da população. "Não basta só orientar o sujeito que está doente, ele tem que passar por uma intervenção", defende Anselmo Alexandre Mendes, professor da UEM e da Unicesumar. "Temos que tratar as pessoas que já estão doentes, mas também prevenir novos casos e usar o dinheiro público com mais eficiência porque o desenho de tratamento e prevenção (no SUS) está errado", diz ele, que vai defender, no segundo semestre, na UEM, uma tese de doutorado sobre o assunto.

Segundo o pesquisador, no impacto financeiro da obesidade ao sistema público de saúde estão incluídos custos com tratamento de doenças crônicas, que têm como causas também o excesso de peso, e cirurgias bariátricas. Segundo Mendes, reservar uma parcela desse valor para reestruturar os programas de tratamento traria mudanças a curto e médio prazo no número de brasileiros com sobrepeso (hoje em 52,5%); nos índices de mortalidade por diabetes, doenças do coração e do aparelho circulatório e por câncer e no tratamento dessas enfermidades.

O estudo mostra que entre 1999 e 2013 houve um crescimento acentuado do número de cirurgias de redução do estômago no País, chegando a quase 7 mil ao ano. Pesquisas demonstram que 80% a 90% dos pacientes submetidos ao procedimento, que custa de R$ 10 a R$ 25 mil, voltam a engordar no prazo de dois a três anos. "É óbvio que algumas pessoas estão doentes e precisam da cirurgia, mas esse dinheiro não muda comportamentos." De acordo com Mendes, o Índice de Massa Corporal (IMC) dos operados cai abruptamente nos primeiros 12 meses, melhorando o perfil metabólico, estabiliza dois anos depois e em 36 meses volta a aumentar.

O pesquisador argumenta que o cenário epidemiológico atual é grave e insustentável a médio prazo. Em seis anos, cresceu 22% o total de mortes por doenças crônicas – que têm a obesidade como uma das origens –, chegando a 678,1 mil mortos em 2011. O próprio Ministério da Saúde admite que programas de prevenção poderiam eliminar 80% das doenças cardiometabólicas, diabetes tipo 2 e acidente vascular cerebral e 40% dos cânceres.

O coordenador do Nemo, Nelson Nardo Junior, e orientador da pesquisa, diz que o modelo de tratamento do SUS tem alto custo, não previne novos casos e não soluciona o problema dos pacientes. Um estudo em andamento em seis universidades com 15 mil servidores públicos mostra que 79% deles têm diabetes ou pré-diabetes. "Com base nesse tipo de parâmetro, a gente espera demonstrar o quão grave vai ficar a situação da saúde pública se medidas que mudem o modelo de tratamento não forem tomadas."

Mas se municípios, Estados e União têm aumentado o investimento em saúde, especialmente na atenção básica, com o Programa Saúde da Família (PSF), porque a prevalência de sobrepeso entre os brasileiros continua crescendo? "O investimento tem, só que não está sendo impactante porque os modelos de tratamento não são efetivos", explica Mendes. Na opinião dele, os dados que o PSF traz para os bancos de dados serão importantes para redesenhar o método de intervenção da população obesa. As características desse novo modelo serão fechadas na próxima semana, para que o grupo de trabalho consiga financiamento e apresente a ideia ao governo federal.

http://digital.odiario.com/cidades/noticia/2168714/pesquisadores-da-uem-vao-propor-novo-tratamento-para-obesidade