Reitor da UEM chega à metade da gestão com uma série de desafios a serem vencidos
"Espero encerrar o mandato com todas as obras concluídas"
Há dois anos, o professor Mauro Luciano Baesso assumiu a Reitoria da
Universidade Estadual de Maringá (UEM), ao lado de Júlio César
Damasceno, com o compromisso de mudança. Dezenas de obras paradas,
inclusive do Restaurante Universitário, deficit de custeio, problemas de
segurança, falta de leitos no Hospital Universitário (HU), e inúmeros
outros problemas estavam - e ainda estão - à espera de uma solução.
Baesso
avalia que avançou bastante na primeira metade da gestão. Uma das
conquistas foi o retorno da paridade de votos na eleição para reitores.
Até completar o mandato, no entanto, ele afirma esperar conseguir
realizar muito mais. "Gostaria de encerrar a gestão, com todas as obras
concluídas", revela.
De acordo com Baesso, que atendeu a
reportagem de O Diário nesta quarta-feira, a segurança no campus sede
deve aumentar e o HU chegará a 250 leitos - dos 500 necessários - até o
fim do próximo ano. Leia a seguir, a entrevista completa com o reitor da
UEM.
P.— Uma das marcas da gestão do senhor, até o momento, é a tentativa de reduzir o número de obras paradas. Como está a situação dos processos administrativos abertos?
R.— O primeiro ponto é que começamos a fazer os levantamentos de todas as obras que estavam paradas até porque em um primeiro momento o cenário era de que não teríamos recursos para retomá-las e em algumas haviam indícios de problemas ou irregularidades. Uma decisão da Procuradoria-Jurídica da universidade mudou a forma de conduzir os processos administrativos, rompendo os contratos. Quando declaramos extintos os contratos, já temos, em mãos, o levantamento físico e financeiro para a conclusão da obra. Já tivemos dois casos com processos encerrados, mas é uma tarefa difícil. Cada obra precisa de dois engenheiros que fazem toda análise técnica. Em momento algum, temos a intenção de prejudicar qualquer empresa. Pelo contrário, é simplesmente verificar o que foi realizado, o que foi pago, e a qualidade do que estava previsto, além do que tem que ser feito. Até o momento, abrimos oito processos, dos quais dois foram concluídos. Os outros seis devem ser encerrados nos próximos 30 dias. São processos morosos por respeitar uma série de regras e dar o direito ao contraditório. Só a partir daí, toma-se a decisão. Se a empresa não tiver cumprido o que estava acordado e não aceitar resolver, vira um problema judicial.
P.— Um levantamento recente mostrou que havia 40 obras paradas na
UEM, sendo 22 de grande porte. O que está sendo feito e o que esperar
para os próximos dois anos?
R.— Estamos retomando algumas situações.
As obras que estão sendo retomadas não são para fazer um pedaço, mas
para concluí-las. O Restaurante Universitário (RU) foi o primeiro. Para
não corrermos o risco de demorar ainda mais, reassumimos a obra com
nosso pessoal e o local funciona desde abril. Encaminhamos para
licitação a conclusão do prédio da Odontologia, que estava parado há
seis anos. Essa obra envolve recursos próprios e do Ministério da Saúde
da ordem de R$ 1,5 milhão. Outra em licitação é o bloco M-15, que é a
quadra coberta do curso de Educação Física, que também estava parada há
seis anos. Nós temos três obras com recursos federais garantidos, que
são o bloco I-13 (fazenda experimental), o da central analítica e o
biotério, previstos para serem concluídos. Em Ivaiporã, uma obra com
processo concluído está pronta para ser licitada, porque a Assembleia
Legislativa repassou R$ 1 milhão das sobras de recursos de 2015 para a
UEM. Temos outras que estão com processos em andamento com possibilidade
de que o Estado honre os recursos que já haviam sido aprovados. São os
blocos E-24, B-12 e I-46. Esses estão bem avançados somente com
problemas a serem resolvidos do ponto de vista da construção. Outros
blocos com possibilidade de conclusão são os das engenharias de Ivaiporã
e um bloco de Goioerê. A situação mais difícil, que enfrentamos,
envolve três blocos; dois da Engenharia, em Maringá, e o de Química, que
estão com cerca de 40% dos projetos executados, mas, para esses, não há
previsão de recursos. Estamos tentando negociar com o Estado. Outra
grande obra, que temos uma decisão, é o Centro de Convenções. Já foi
investido muito recurso lá e ainda precisa de cerca de R$ 7 milhões para
concluir. Com capacidade para 2 mil pessoas essa é uma obra muito
importante para a cidade. Já temos um convênio com a Caixa (Econômica
Federal) e recursos disponíveis. Os engenheiros estão fazendo análise
estrutural e levantamento de orçamento. Essa é uma boa notícia e vamos
torcer para que, no segundo semestre do ano que vem, tenhamos a obra
concluída ou, pelo menos, bem adiantada. Honestamente, gostaria de
terminar a gestão, daqui a dois anos, com todas as obras equacionadas.
P.— No mês passado, o Tribunal de Contas cobrou da UEM o ingresso no
Meta 4, do governo estadual, que implicaria na perda da autonomia da
folha de pagamento da universidade. Qual o posicionamento do senhor?
R.—
A universidade, historicamente, foi contra o Meta 4. Inclusive, na
greve do ano passado esse foi um dos pontos da negociação e ficou
acertado que as universidades não entrariam nesse sistema. Esse
mecanismo de gestão de pessoas, é inviável para a universidade, porque
tem a nossa instituição tem sempre que primar pelo mérito e tem uma
dinâmica de funcionamento diferente dos outros órgãos estaduais.
Tecnicamente não é tão simples assim entrar e nós já temos uma folha de
pagamento onde todas as informações são transparentes e estão no portal
do Estado. Tem uma negociação em andamento, porque o governo sabe que a
entrada no sistema seria um problema político também. A gente acredita
que isso deva ser resolvido nos próximos dias e eu vejo assim, na pior
das hipóteses, no decreto do fim do ano o governo vai excluir as
universidades do processo.
P.— Há a possibilidade de uma nova greve de servidores. É uma medida que preocupa o senhor?
R.—
Preocupa muito! Porque o ano passado tivemos uma greve traumática com
prejuízo enorme do ponto de vista de ensino e pesquisa. É uma decisão
financeira do Estado que tem um impacto muito grande para a gente. O que
temos conversado entre os reitores e secretário da Ciência e
Tecnologia, e ainda temos que conversar com os deputados, é que se
precisa tomar cuidado em não tomar decisão unilateral nesse momento e
abrir negociação para que não tenhamos de novo um processo traumático
como em 2015.
P.— São recorrentes as reclamações de falta de água e de energia elétrica no campus. Como resolver?
R.—
Primeiro, energia elétrica. Esse é um problema que se arrasta há mais
de 20 anos. Tem casos até com dispensa de aula e isso é grave. Além
disso, por vezes queimam equipamentos que são caros. Isso era prioridade
minha, mas no serviço público as coisas demoram. A solução sairá em
torno R$ 2 milhões. A UEM terá uma nova subestação. A ordem de serviço
foi dada há 30 dias e a empresa tem até oito meses para concluir. Pedi
encarecidamente que fizesse esse ano ainda. E uma vez instalado, a
previsão é de equacionar o problema da energia pelos próximos 20 anos.
Em relação a água, o que tenho a dizer é que está muito cara. A UEM tem
pagado algo na ordem de R$ 300 mil, por mês. Um valor que temos tido
dificuldade para bancar. Na lei de orçamento é previsto que o Estado
pagaria água e luz e isso não tem sido repassado. Buscamos alternativas,
como poços artesianos.
P.— Sobre a falta de segurança no campus. O que está sendo feito?
R.—
Estamos em fase de licitação e instalaremos cerca de 300 câmeras no
campus, se não houver percalço, até o fim do ano. A central de
vigilância foi derrubada. Vamos construir três centrais novas. Elas vão
contar com sistema de monitoramento em tempo real. A Polícia Militar
(PM) está autorizada a entrar no campus. Em conversas com o comando da
PM, tentamos desenvolver um projeto para trazer os soldados em formação
para atuar na UEM. Outra medida são os módulos policiais, que
implantaremos. A união das câmeras, os módulos e mudanças no trânsito
interno, que será um anel anti-horário, provocará um fluxo maior na
região mais crítica, e com a presença de mais gente a segurança vai
aumentar.
P.— Na opinião do senhor, quais foram os avanço conquistados nesses
dois anos em relação ao HU? Qual a previsão para os próximos anos,
especialmente, na questão dos leitos?
R.— Considero que avançamos
bastante no HU. Antes de assumir, esse era o maior desafio. Quando
assumimos, tinha um diagnóstico que mostrava que a unidade na época com
25 anos contava com 123 dos 300 leitos planejados. Com o novo plano
diretor prevendo população de 2 milhões de habitantes na região, a
necessidade de leitos subiu para 500. Esse é o planejamento para a minha
gestão, embora dependa de muitos fatores. O investimento necessário é
da ordem de R$ 220 milhões, muito dinheiro, mas falamos de uma região.
Com todas as dificuldades nos dois anos, avançamos bastante. O Estado
repassou R$ 30 milhões, para 100 leitos e o centro cirúrgico. Com essa
obra em andamento, mais os 27 leitos abertos, com a mudança do prédio
administrativo, no ano que vem, nesta época, saltaremos para 250 leitos,
que vai dar uma mudança muito grande no atendimento.
P.— Há dois relatos de universitárias na página "Meu Professor
Abusador", do Facebook, sobre professores da UEM. Um caso da História e
outro de um professor de História da Economia. Como o assunto está sendo
tratado pela Reitoria?
R.— É um assunto, extremamente, importante. O
primeiro passo ao recebermos as denúncias é encaminhá-las para a
avaliação do Conselho Interdepartamental, que decide por abrir ou não a
sindicância. Nos casos mencionados, houve abertura. Agora, os fatos
estão sendo apurados. Em seguida, pode haver o processo administrativo.
No primeiro caso citado, o Conselho decidiu pela continuidade do
processo, que está em andamento, após passar pela Reitoria. No outro,
houve a deliberação por não continuar a investigação, mas ainda estudo a
decisão. É um assunto delicado, mas ninguém será poupado se comprovar a
culpa. Temos um compromisso com o tema e criamos um comitê de mais de
20 pessoas, de diversos colegiados, que vai elaborar um documento para
institucionalizar um mecanismo que fique para as gestões futuras.
Devemos atuar na prevenção e na apuração dos casos sem proteger ninguém.
http://digital.odiario.com/cidades/noticia/2257753/mauro-baesso