"Literatura deixa a vida completa", comenta a universitária Jaqueline Valezzi, 20 anos, que lê, em média, 25 livros por ano. Ela apresenta uma média quatro vezes maior em relação à média comum de leitura no país.
De acordo com a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Ibope em 2016, o brasileiro lê cerca de quatro livros por ano, sendo que dois são lidos por completo e dois em partes.
Diferentemente da maioria, Jaqueline já ultrapassou essa margem há muito tempo. Desde pequena recebia livros de familiares e, naquela época, já havia tomado gosto pela leitura.
Atualmente ela cursa o 3º ano de Letras, na Universidade Estadual de Maringá (UEM), e acredita que a literatura favoreceu significativamente seu conhecimento, não só acadêmico, como de mundo. "Algumas leituras me fazem refletir sobre a minha própria vida, individualmente e em sociedade", observa.
Ela diz não ter livro ou autor preferido. "Em cada momento de minha vida estou fascinada por um", comenta ela, adiantando que, no momento, o autor é Ignácio de Loyola Brandão.
Pouquíssimas pessoas compartilham dessa particularidade de Jaqueline: ler. Na comparação com outros países, o Brasil é ocupa um dos piores lugares do mundo para leitura e as horas dedicadas a ela.
Os leitores da Índia e da Tailândia, ambos no topo do ranking de leitura de 30 países, dedicam aproximadamente 10 horas semanais para as obras literárias, segundo a agência Nop World. Nesse mesmo levantamento, os brasileiros tomaram a 27ª colocação, usando apenas 5h12 do tempo semanal para ler.
Para a professora e pesquisadora de Leitura, Silvia Emiliano Gonzaga, essa situação reflete numa sociedade brasileira conflitante, com problemas de ordem social, política e econômica.
"A leitura, sem dúvidas, torna a sociedade mais evoluída, com cidadãos que exercem o papel com plenitude", ressalta ela, destacando que a leitura desenvolve o pensamento crítico do ser. Sem literatura "as pessoas se deixam enganar", completa.
Leituras ideais
"As pessoas leem. Podemos ver isso pelo número de bancas que temos", conclui a professora, baseando-se no cenário maringaense e da região. Ela entende que há leitura, porém restrita às revistas físicas, blogs e páginas virtuais e não à literatura de fato. "Falta ler os clássicos", frisa.
Conforme Silvia, a literatura clássica carrega em si uma riqueza estética e textual importante para o desenvolvimento cognitivo. Não é à toa que os grandes autores são consagrados pela narrativa e as temáticas incluídas nas páginas. "Quem lê Machado de Assis, por exemplo, vê a sociedade como ela é", defende.
Além disso, o engajamento na leitura impulsiona os gatilhos para escrita. Para ela, a internet e a tecnologia vieram para estimular os hábitos de ler e escrever. "Não acredito que atrapalhe", diz.
Essa escassez de leitores no mundo literário, como explica a professora, é resultado de uma educação precária, além da falta de incentivo da família. "Tem escola que só foca na gramática e não na leitura do conteúdo dos textos. Mas só as aulas também não dão conta. É preciso que os pais despertem o interesse nos filhos", avalia.
Silvia acredita que o contexto decisório para mudar esse índice preocupante de baixa leitura seja a educação. "É priorizar a educação, não há outra forma", supõe, ressaltando que a leitura possibilita às pessoas a "liberdade cidadã".
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