A educação sexual das crianças ainda é uma questão desafiante para muitos pais. Dúvidas com relação à melhor hora para abordar o assunto e o que deve ser dito são frequentes e podem tornar delicado um momento que poderia ser tranquilo. A psicóloga e professora da Universidade Estadual de Maringá, Eliane Maio, acredita que, além da família, a escola tem papel fundamental na educação sexual da criança. Ela é autora do livro “O Nome da Coisa”, publicado em 2011 pela Editora Unicorpore, que apresenta uma grande variedade de apelidos e eufemismos usados para nomear os órgãos sexuais, resultados de uma pesquisa feita com pais, mães e professores.
Segundo a psicóloga, a nomeação adequada dos órgãos sexuais é o começo do que deve ser uma relação de transparência na hora de passar informações sobre sexualidade para as crianças. Em entrevista ao Hoje Notícias, Eliane enfatiza a importância de uma educação sexual saudável e aberta.
Hoje Notícias: Quem deve participar da educação sexual?
Eliane: A primeira educadora sexual deve ser a família! Pois é uma educação íntima, particular, "olho no olho". O mundo tem muitas informações sexuais, em todos os lugares. Assim, caso a criança tenha dúvida, esta deveria ser a primeira informadora, com esclarecimentos adequados, sem preconceitos, mitos e interditos. Juntamente a esta instituição, a escola, falando de todos(as) os(as) profissionais, deveria ser a responsável pela transmissão de informações científicas, pois esse é o seu papel social.
Hoje Notícias: Como os pais devem orientar e educar seus filhos?
Eliane: Deveriam primeiramente tirar as dúvidas de falta de informações, preconceitos (principalmente os religiosos), tabus etc., para depois passarem dados sobre sexualidade humana de uma maneira agradável e saudável.
Hoje Notícias: Que informações são imprescindíveis?
Eliane: Todas! O mais importante é ser "perguntável"! Que a criança sinta a segurança que são pais/mães envolvidos(as) em uma relação saudável de esclarecimentos. As crianças percebem se a família se mostra perguntável através de gestos, olhares, falas.
Hoje Notícias: Qual é a idade adequada para o início dessa educação?
Eliane: Desde que a criança comece a verbalizar... um, dois anos de idade! Ela já se interessa em como foi parar no útero da mãe e como saiu. Já é uma iniciação de diálogo sobre sexualidade. Ao nomear os órgãos sexuais, fazê-lo adequadamente, como vulva e pênis, e não inventando "apelidos" - quando a criança descobre o nome adequado, deixa de confiar nas pessoas que ela acredita serem as mais confiáveis em sua vida.
Hoje Notícias: A crença de que meninos e meninas devem ser educados de forma diferente é muito presente. Qual a sua opinião?
Eliane: Todas as pessoas deveriam ser educadas da mesma maneira, com o mesmo respeito e diálogo, para serem cidadãs respeitáveis e adequadas para o convívio. Não se poderia criar as pessoas, por conta da diferença sexual, de maneira diferente. Assim, mostra-se à criança, que homens são mais fortes, viris, e as mulheres são frágeis, o que pode levar a manifestações de machismo e violência de gênero, pautados numa educação sexista.
Hoje Notícias: Qual a importância de uma eduação sexual adequada?
Eliane: Para se ter prazer, alegria e responsabilidade sexual. Desde que a criança nasce, as famílias procuram educar a criança para andar, comer com garfo e faca, ter bons modos etc., porém poucas educam para o prazer sexual. E isso deveria ser feito de uma maneira saudável, tranquila e responsável.