Concorrência alta no vestibular de alguns cursos pode influenciar a escolha por uma graduação semelhante e que apresente menos candidatos por vaga. Decisão deve ser pautada no autoconhecimento
Meses inteiros de dedicação às apostilas e privações para, ao fim do ano, perceber a ausência do seu nome na lista dos aprovados. Muitos estudantes não se deixam abater pela notícia e estudam para a prova mais um, dois, três anos. Outros optam por uma graduação semelhante e normalmente menos concorrida. Seja qual for o seu caso, é necessário refletir com atenção sobre o assunto. Se a escolha do curso universitário está obscura, autoconhecimento é a palavra-chave para se desvencilhar de interferências externas e seguir uma carreira com base no que realmente lhe interessa.
Para a psicóloga e orientadora profissional Selena Maria Garcia Greca, pode haver duas situações para quem quer escolher uma graduação afim: descobrir que errou e que a primeira opção era a mais acertada ou se apaixonar pela nova profissão. Quem opta por outro curso só porque é menos concorrido pode se frustrar, alerta. Nem sempre, no entanto, as mudanças trazem resultados negativos. Há casos em que o estudante quer um curso concorrido e depois acaba descobrindo habilidades para outra atividade, diz.
Foi assim com Alexandre Braghini, 19 anos. Sempre gostei de números e contas, e sabia que a minha área era Exatas. Engenharia foi o primeiro curso que me veio à cabeça, porque apresenta um mercado de trabalho mais aberto e a remuneração é maior, conta. Ao longo de um ano de preparação para o vestibular, porém, Braghini mudou de ideia. Hoje ele está no terceiro ano do curso de Matemática da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O que mais me fascina é o mundo novo que a Matemática oferece, um campo totalmente abstrato, em que tudo é conceito. É muito desafiador, conta ele, que pretende seguir carreira como pesquisador.
Já para o estudante Fabrício de Lima Bastos, 21 anos, foram necessários três anos estudando Biologia na UFPR para que tivesse certeza de que queria ser médico e coragem de começar tudo de novo. No meu primeiro vestibular eu já havia tentado Medicina, mas a falta de perseverança ou o medo de não passar novamente fizeram com que eu optasse por Biologia, diz.
Fabrício explica que as graduações têm poucas semelhanças, embora pareçam próximas. Ele acredita que terá de cursar novamente a maioria das matérias que já estudou, porque as mesmas disciplinas apresentam conteúdos e enfoques diferentes nos cursos de Biologia e Medicina. A possibilidade de transferência para outra graduação dentro da mesma universidade não motiva o estudante, que planeja encarar mais uma vez o vestibular e começar Medicina em 2010. Abrem poucas vagas por ano (nos processos de transferência interna) e nem sempre para o curso que você deseja, diz.
Escolha consciente
Para evitar frustrações, a psicóloga Selena Maria Garcia Greca recomenda ao estudante conhecer bem a profissão com a qual acredita ter afinidade. Conversar com profissionais da área, frequentar o ambiente de trabalho, pesquisar a grade curricular do curso para verificar se as matérias lhe interessam e, principalmente, saber quais dificuldades enfrentará no dia-a-dia da profissão são atitudes importantes. Já atendi pessoas que queriam fazer Ciência da Computação porque gostavam de jogar videogame. A reflexão tem de ir além de interesses supérfluos, orienta. De acordo com ela, o vestibulando deve estar atento para fugir de armadilhas, como a influência externa e o conhecimento superficial sobre os cursos.
Troca de cursos nas universidades
Para mudar de curso dentro da mesma instituição de ensino nem sempre é preciso prestar de novo o vestibular. Algumas universidades permitem a transferência do estudante para outra graduação, desde que existam vagas. Cada instituição tem critérios próprios de seleção desses universitários.
Na UFPR, as vagas abertas por desistências de alunos aprovados no vestibular são destinadas ao Programa de Ocupação de Vagas Remanescentes (Provar). Podem participar estudantes da própria instituição e alunos externos. Até este ano, a transferência era possível após etapas de seleção que avaliavam critérios diversos, como ter atingido no vestibular a pontuação do último chamado para a graduação pretendida. No entanto, algumas destas regras podem mudar. Os novos critérios para o Provar de 2010 estão sendo estudados e serão apresentados até o fim de maio.
Na Universidade Estadual de Maringá (UEM) é possível fazer transferência externa (para o mesmo curso) ou interna, de turno, habilitação ou câmpus. O processo de tranferência interna é composto por cinco fases, na seguinte ordem de prioridade para o preenchimento das vagas: transferência de habilitação, modalidade ou ênfase; transferência de turno; transferência de câmpus; transferência para curso do mesmo Centro de Estudos; e transferência para curso de Centro de Estudos diferente. As inscrições são feitas pela internet e um edital é publicado com informações sobre as vagas disponíveis e os procedimentos para a transferência. De acordo com a Diretoria de Assuntos Acadêmicos da UEM, os coordenadores de cada curso podem optar por aplicar ou não um teste seletivo, mas a maioria deles faz apenas a análise do currículo.
Na universidades estaduais de Ponta Grossa (UEPG) e Londrina (UEL) não é possível trocar de curso. A transferência é feita apenas para alunos externos interessados na mesma graduação. Os estudantes devem ficar atentos aos prazos, geralmente divulgados nas páginas das universidades na internet. Após inscrição e análise de documentos, o aluno realiza um teste seletivo. Em Ponta Grossa, o edital sai em meados de novembro. Em Londrina, é divulgado em agosto. (EO)
Elida Oliveira