A primeira travesti a conquistar o título de mestra pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), no norte do Paraná, usou na pesquisa a figura da drag queen para discutir uma educação mais inclusiva e aberta às diferenças. Lua Lamberti de Abreu, de 24 anos, fez a defesa da dissertação de maneira performática, montada de Galathea X, a drag queen dela. A jovem concluiu o mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEM. A professora doutora Eliane Maio, que orientou o projeto da aluna, destaca a representatividade de alunos LGBT no meio acadêmico. ]
“Neste ano a UEM faz 49 anos. E nós nunca tivemos uma travesti que chegasse em defesa de mestrado. Para mim é um marco, porque travestis não chegam à universidade, ainda mais fazendo mestrado e ela conquistou isso. É representatividade. Para que outas pessoas consigam olhar e digam, olha elas podem estar onde elas queiram estar, inclusive estudando como qualquer outra pessoa. Nós ouvimos algumas críticas, mas e o que mudou? Mudou muito porque o Brasil é o país que mais mata travestir e gays em todo o mundo. E mata por puro preconceito, não tem outra explicação. Isso é importante para a representatividade, pois prova que elas podem estar em qualquer espaço e travestidas”, conta a professora.
A professora destaca que a estimativa média de vida de travestis no Brasil é de 35 anos. Por isso, respeitar esses alunos e abrir espaço para eles na universidade é tão importante. Formada em artes cênicas, Lua considerou na pesquisa o fato de as pessoas trans não serem bem-vindas nos espaços de educação. Ela abordou a inclusão desses estudantes.
“Como é um programa de mestrado e doutorado, sempre o objetivo é o viés da educação. Quando ela nos procurou, eu orientei que tinha que ter essa linha de raciocínio. Então ela focou nesse estudo com nome inédito de “Pedragogia”, que seria Pedagogia com Drag no meio. Ela teve uma idéia inédita, e o que a gente quer dizer…Como a escola vê a drag? Quem é que ensina a ser drag, onde tem aula sobre isso, de onde vem esse olhar? Ela mostra que as pessoas podem ser como elas quiserem, sem a repressão que as escolas na maioria das vezes fazem. Ela relata que a escola poderia deixar a pessoa ser do jeito que é”, explica.
De acordo com Eliane, há seis anos, ela colaborou com a criação de uma portaria na UEM, que permite o uso do nome social por estudantes trans. Lua passou a usar o nome social durante a graduação. A professora destaca que, até hoje, apenas quatro travestis e um homem trans concluíram a graduação na Universidade.