Esse é um post um tanto diferente dos posts típicos deste blog. Não
trata exatamente da Movimente-se, do que acontece diretamente na UEM e
das falsas campanhas feitas pela chapa, mas está relacionado ao que
acontece nela - não só nela, mas em diversos movimentos e organizações
esquerdistas. E é algo que realmente me incomoda.
Vou chamar isso de distorção do pensamento crítico.
O termo pensamento crítico é bastante utilizado e disseminado nos cursos
de humanas, e em oposição, praticamente inexistente nos cursos das
outras áreas. Desde o primeiro ano, os calouros começam a ser cobrados
quanto ao desenvolvimento do tal "pensamento crítico", sempre num
contexto que fala sobre os enganos e mentiras que nossa sociedade cria
para que continuemos a manter o sistema. Para os leitores de exatas e
biológicas, cujos professores nunca falaram a respeito disso (e talvez
desconheçam o conceito), o pensamento crítico é um julgamento reflexivo emitido por alguém acerca de algo. Segundo definição de Parker
& Moore, seria a determinação cuidadosa e deliberada sobre aceitar,
rejeitar ou suspender o julgamento acerca de uma dada afirmação e o
grau de confiança que alguém deve aceitar ou rejeitá-lo.
O pensamento crítico é uma ferramenta fundamental para nossa vida, pelo
simples fato que é através das reflexões feitas que podemos avaliar se
algo é verdadeiro ou falso; ou qual a parcela de verdades e mentiras
contidas em determinado argumento e qual é a importância daquilo em
nossas vidas. Mesmo sem conhecer o conceito, podemos exercitá-lo muito
bem, o tempo todo, sem perceber.
Contudo, como já citei, percebo uma distorção desse conceito nos
movimentos estudantis esquerdistas. Já ouvi diversas vezes, para citar o
exemplo da UEM, o pessoal da Movimente-se - ao discutir com pessoas de
opiniões diversas - acusá-los de falta de pensamento crítico (junto com
as acusações comuns, de serem alienados e etc). No entanto, o grande
"pecado" dessas pessoas - veja só - é exatamente questionar os ideais
da chapa.
A esquerda costuma achar-se muito "crítica" por tentar romper com o status quo,
desmistificar o sistema em que vivemos, encontrar todas as táticas de
dominação e controle de massa impostas pela "classe burguesa" e bradar
aos quatro ventos que todos nós somos alienados por não nos
movimentarmos contra isso e continuarmos fomentando a desigualdade
social. E o que fazem quanto a isso? Criticam, é claro. Pegam o
"Manifesto do Partido Comunista" (alguns nem isso fazem, confiam
plenamente no que é dito pelos "líderes"), e, pautados nas idéias do
nosso adorado camarada Marx, escritas há 150 anos e baseadas numa
sociedade um pouquinho diferente (só um pouquinho... não.), começam
a criticar todos os aspectos do capitalismo atual. Tomam ele como um
enorme flagelo e culpam o sistema por todas as mazelas que causam o
sofrimento por aí, como o abandono de animais, a desocupação do
Pinheirinho, o machismo e até mesmo a causa palestina de luta por suas
terras (alguém da Movimente-se pode POR FAVOR me explicar por que diabos
vocês estão afiliados a essa causa e qual a relação dela com o
movimento estudantil?). E por aí vai.
Não escrevi tudo isso para defender nosso atual sistema. O capitalismo é
um modelo de relações feito por pessoas, e por isso, é falho e tem sim
suas desigualdades e erros, assim como pontos positivos. Essas
características, ao contrário do que devem pensar nossos amigos
esquerdistas, estariam presentes em qualquer outro modelo político e
social, seja o comunismo, o anarquismo, ou seja lá qual o novo movimento
defendido nas novas pichações da Zona 7. Meu grande incômodo está na
forma como a Movimente-se e o pessoal da esquerda lida com esse sistema.
São todos idiotas e doutrinados. Aceitam, sem ousar questionar, as
ideologias proferidas por professores traumatizados com a época da
Ditadura Militar, totalmente avessos à direita; da mesma forma que lêem
Marx como um cristão fanático lê a Bíblia. Nossos amigos de esquerda,
que tentam nos ofender dizendo que não temos pensamento crítico quanto à
nossa sociedade e que nos deixamos ser alienados, lendo a Veja e
assistindo a Globo; fazem a mesma coisa quando lêem a Carta Capital e
outros veículos midiáticos do gênero. Eles não refletem, não questionam,
não exercitam o bendito pensamento crítico. Por uma razão, talvez: não
se questiona a revolução. Seja ela no Pinheirinho, na Palestina ou em
qualquer lugar, aquele que se rebela e mostra a injustiça que sofre é
sempre aquele que tem razão. E eu me pergunto: será que nunca ocorreu a
essas pessoas que todos nós sofremos injustiças o tempo todo... e nem
por isso resolvemos nos rebelar?
E assim, eles trocam o pensamento crítico pela crítica não pensada, e a
palavra chave é a doutrinação feita pelas autoridades deles - curioso,
para um grupo de pessoas que prega a igualdade completa. Mais curiosa
ainda é a quantidade de adeptos que o discurso inflamado e roto acerca
de nosso sistema desigual e cruel consegue arrebatar adeptos... mas isso
é um assunto do qual pretendo falar em outro momento. É a mera crítica
vazia, não construtiva e agressiva, feita só de palavras ásperas que
condenam o sistema e quem o defende, sem considerar que nele possa haver
algo de bom e valioso - claro, porque isso vai contra os ideais
Marxistas.
Aparentemente, são pessoas que não pensam por si. Pessoas incapazes de
assumir que o sistema cruel tem seu lado bom e de formar seu próprio
conjunto de opiniões. É difícil sustentar um conjunto próprio de
ideologias, e então, eles preferem aceitar um discurso já colocado há
diversos anos - que não necessariamente ainda é válido.
Amigos esquerdistas e/ou da Movimente-se, pra vocês que não chegaram ao
seu arcabouço ideológico sozinhos, fica a dica: critiquem-no e encontrem
suas falhas e discordâncias. Prometo que é um exercício mais benéfico
do que a doutrinação pela qual a maioria de vocês tem passado. E para os
outros colegas da UEM, sejam também mais críticos. Não é porque estão
dizendo o tempo todo que cortaram 38% da verba da UEM que isso é
necessariamente verdade... duvidem mais dos nossos amigos do DCE (e
duvidem desse blog também, por que não?).
http://reacaouem.blogspot.com.br/2012/04/critica-x-pensamento-critico.html