Em média, dois em cada dez estudantes brasileiros desistem do curso superior que iniciaram. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) indicam que as graduações com maior índice de evasão são Processamento da Informação (36%), Marketing (35%) e Ciências da Computação (32%). Porém o ranking dos campeões de desistência não é o mesmo para todo o país, o quadro varia conforme o estado e a universidade.
Particular X Pública
Os índices de evasão não são os mesmos em instituições públicas e privadas. Enquanto nas primeiras a taxa fica em torno de 15%, nas particulares a média é de 26%. De acordo com o consultor da Hoper Educação – empresa que presta consultoria a instituições de ensino superior – Romário Davel, o principal motivo para a diferença são os problemas financeiros. Embora esse quadro esteja mudando por causa do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), ainda é comum que cursos com mensalidade mais alta, mesmo que mais concorridos no vestibular, tenham maior índice de desistência nas instituições particulares.
15,11%
é a taxa de evasão no Paraná, segundo dados do Inep de 2009.
17,28%
dos estudantes de instituições de ensino superior de Curitiba desistiram de seus cursos em 2009, segundo o Inep.
Reforço e estímulo reduzem o abandono
Uma experiência adotada pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) – onde em média desistem 700 alunos anualmente – reverteu o quadro de evasão nos cursos de Exatas. Em cinco anos, a taxa caiu de 90% para 50%. Para chegar a esse resultado, a instituição adotou um programa chamado Proinício.
Uma das ações oferece aulas de reforço para alunos do primeiro ano que tenham dificuldade em Matemática e Física. A atividade não é obrigatória, mas quem acha que não teve uma boa base no ensino básico pode participar. As aulas são dadas pelos professores do primeiro ano das graduações.
Conversas de incentivo entre professores e alunos também fazem parte da iniciativa. Dessa forma, os estudantes têm a oportunidade de explicar os problemas que enfrentam. “Os departamentos de Matemática e Física, por exemplo, orientam seus professores a estimularem os alunos a se formar”, explica a próreitora de Ensino da UEM, Edineia Regina Rossi.
UFPR
Outras universidades também têm estratégias para evitar o abandono. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), existe um programa de reorientação vocacional – o Repensando a Escolha –, que ajuda o estudante a perceber o que o desestimula, como pode melhorar isso e como escolher um novo curso, caso seja necessário.
Embora as instituições de ensino não divulguem os números oficiais, é consenso entre próreitores e coordenadores das faculdades que os cursos que têm mais vagas remanescentes são aqueles com menor procura no processo seletivo. “Nos cursos com baixa demanda, os índices de desistência chegam a 30%”, diz o coordenadorexecutivo da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest), Maurício Klenke.
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, entre os cursos com maior porcentual de evasão estão Ciências Econômicas, Física e Filosofia, que, além da baixa relação candidato/vaga – entre 2 e 4 –, têm baixas no tas de corte no vestibular. “Nos cursos mais concorridos, em que o estudante precisa se dedicar muito para entrar, a desistência é muito mais baixa. É o que acontece com Medicina, por exemplo”, explica a próreitora de Graduação da UFPR, Maria Amélia Sabbag Zanko. De acordo com o Inep, o índice de desistência de Medicina no país é de 4%.
Motivos
Existem outros fatores responsáveis pela desistência, entre eles a dificuldade do curso, os problemas financeiros para o aluno se manter na universidade e a vocação do estudante, que muitas vezes só percebe que fez a escolha errada depois de cursar alguns períodos.
No primeiro caso, cursos de Engenharia, Matemática, Física e outros da área de Exatas são os que mais causam evasão. O motivo é simples: os alunos não conseguem acompanhar disciplinas difíceis do primeiro ano, como Cálculo, e em muitos casos reprovam, o que desestimula a continuar na carreira. Na Unicamp, por exemplo, a taxa de evasão em Engenharia é de 25%.
O estudante Felipe Batista Lago, 23 anos, se enquadra nesse tipo de situação. Desistiu da Engenharia Civil para cursar Educação Física. Além de ter iniciado o curso por pressão familiar, ele teve dificuldades logo no começo, o que o levou à desistência em menos de um semestre. “Era bem puxado, exigia muito. Eu nem cheguei a reprovar, pois era em regime anual e desisti antes”, comenta.
No caso de problemas financeiros, não existe um curso que seja mais afetado. A desistência depende diretamente da condição socioeconômica de cada estudante. Mesmo que universidades públicas tenham políticas de inclusão social e bolsas de auxílio para manter o aluno estudando, a necessidade de trabalhar ou de conciliar o emprego com as aulas também é um complicador. Por isso, um mesmo curso que tenha dois turnos, um diurno e um noturno, geralmente terá mais desistências pela manhã.
A falta de vocação também contribui para o abandono do curso, já que a escolha é feita muito cedo, entre os 16 e 17 anos, e nem sempre o jovem sabe exatamente o que faz a profissão. “Fora isso, tem um problema de estruturação dos cursos, que deixam as disciplinas profissionalizantes, que são as mais atraentes, para o final. O estudante acha que a graduação não é o que queria e desiste”, explica Maria Amélia.